segunda-feira, 18 de maio de 2015

Pagina 21 Ínuaixa

     Fiquei agachada, abraçada as minhas pernas até consegui me acalmar. Respirava lenta e profundamente tentando conter meus impulsos. Não podia ficar assim, isso era fato. Mas o problema era essa minha personalidade forte, as vezes eu não podia com ela... Senti de relance um farfalhar bem perto de mim, um arrepio me subiu pelas cosas de forma abrupta. Algo se aproximou de mim, travei de imediato. Tranquei a respiração para poder ouvir melhor. Eu ainda estava cabisbaixa e agachada quando, olhando entre meus braços vi dois pés pararem na minha frente.
     - Natasha? - disse a voz.
     Laguei meus braços e olhei pra cima. Era um velho indio de cabelos curtos brancos e bagunçado, com marcas, simbolos, colares e rugas espalhadas por todo aquele corpo velho da cor âmbar.
     - Sim... Sou eu... - respondi meio paralisada por aquela figura impar e indecifrável. - e tu, quem é?
     O velho índio baixou- se ao meu nivel e sentou-se encostando na arvore que eu estava. Olhei para suas pernas magras e seus dedos finos e sujos da terra umida, minha mente foi muito longe. O velho puxou umas pernas e apoiou um dos braços.
     - Inuaíxa...
     - Inuaíxa? Seu nome?
     - Sim minha pequena.
     Ele, naquele momento, virou o rosto focando bem profundo em meus olhos. Senti que estava sendo lida de dentro pra fora, aqueles olhos castanhos bem claros entraram dentro de minha mente me absorvendo a energia pesada que eu estava carregando. Dei um pulo do chão ficando de pé  e de frente aquele velho índio. Senti no exato momento o mundo girando, segurei a arvore e segurei minha fronte com a mão.
     - O que você fez comigo? - perguntei quase perdendo as forças da perna.
     - Não falei para você se levantar!! - disse ele com a voz rígida. - Sente-se!
     Aquilo foi de mais pra mim! Quem é esse homem que surge do nada e ao ponto de me ordenar a sentar!!!
     Meu corpo estava muito pesado, não conseguia ficar em pé. Sentei novamente no chão... Estava totalmente zonza...
     - Fique quieta menina... - disse o velho, como se estisse me dando bronca.
     Eu estava tão grogue, que acabei respondendo "sim..." sem querer.
     - Me dê sua mão... - disse ele puxando minha mao direita que estava fria e mole. Olhei com a visão turva que ele movimentava os polegares na minha palma enquanto entrava em uma especie de transe. Tentei de toda forma puxa-la de volta, mas não tinha força alguma. Eu só ouvia sua voz grelhada dizendo " muito bem... Muito bem!!!" 
     Ficamos ali pelo tempo suficiente para ele me tirar do corpo. Em minutos eu estava diante de um altar de pedra, dentro de uma caverna penumbrosa. Olhei sobressaltada para todos os lugares tentando achar uma saida, mas nada me chamou a atenção mais que o brilho que vinha daquele altar. Eu sentia que alguem me estigava a ir até, uma sensação de uma voz me guiando. Na minha mente só vinha a imagem daquele velho estranho. Eu tinha que ir la , mas ao mesmo tempo nao queria. Meus pés iam pra frente enquanto o outro me puxava para tras. Pus as mãos na cabeça e gritei desesperada!!
     " filha... Não precisa fazer isso... - disse uma outra voz, que certamente nao era a do velho indio - Volte filha, volte para seu corpo"
     - Quem está ai!? - urrei a todo pulmão...
     Senti uma luz projetar bem fraquinha do meu lado direito. Olhei súbita pra ela, e no instante seguinte uma pessoa saiu, como se houvesse uma porta ali.
     - Não precisa filha, - disse Kananciuê com a voz calma, pacifica e amorosa, - eu posso te ensinar tudo pelo caminho certo...
     Senti naquela hora uma fúria se abrir de minhas entranhas, como se algo dentro de mim fosse pular para fora, perdi um pouco o sentido enquanto cambaleei para trás. Essa sensação não era minha, era do velho dentro de minha mente!
     - SAIA DAQUI!!!! - Urrou ele por minha boca. Eu não estava entendendo nada...
     - Natasha... Natasha minha filha, lute contra esse poder!!!
     - SAIA DAQUI VELHO MALDITO!! SAIAAA!! - Urrei sem querer. O velho me dominava por completo.
     Kananciuê me encarava com aqueles olhos piedosos. Nao era que eu não estava fazendo nada para mudar aqui, eu simplesmente não queria! O que tinha naquele altar? O que eu não poderia ver? Por que kananciuê estava ali para me impedir? E eu me conheço muito bem... Eu sou topetuda, não sou como Saíra ou Ceci, passivas a tudo... Eu sou diferente... Eu sou Natasha!!!
     Enfrente de peito kananciuê e segui ate o altar de pedra. Seu olhar terno me seguiu até onde foi possível. Eu estava tão decidida que olhei de relance para trás e o velho kananciuê não estava mais.
     Subi umas poucas escadas de pedra até chegar ao altar que emanava uma coloração esverdeada, como se uma grande esmeralda tivesse emanando para aquele mundo obscuro sua tênue coloração. Meu peito arfou. O que seria aquilo? Por que aquele velho que nunca tinha visto queria que eu estivesse ali, por que? Olhei pro chão, faltava apenas três degraus, e aquele tesouro estaria em minhas mãos. Respirei fundo e subi...
     Toquei a estrutura de pedra com as duas mãos, não era uma esmeralda que meus olhos viam, era um globo de cristal com uma energia esverdeada viva dentro. Tetei puxar minha mão, mas o velho índio a segurou forçando a ficar.
     - Pegue-a!
     Olhei pra ele e olhei pro globo. Meus olhos focaram o horizonte, foi quando saltei do chão... Haviam vários corpos caídos abaixo daquele altar, eram jovens índios e jovens índias, meus olhos exclamados expressavam o medo e pavor daquele lugar.
     - Pegue o cristal menina! - disse o velho com a voz firme e pútrida quanto a morte que rondava aquelas paredes. Eu o obedeci. Tirei o globo do altar e segurei com as duas mãos, a energia pulsava gigantesca de dentro dele, por um segundo sua luz exposta incandeceu toda a caverna. Tentei largar o globo, mas era rede de mais... A energia viva pulou dentro de mim pelos olhos e pela boca. Perdi totalmente o controle de mim... Sentia que algo vivo e monstruosamente forte me espancava por dentro, senti meus pés levitando como se não mais houvesse inercia. Lembrei-me de kananciuê, mas era tarde de mais. Lá embaixo eu ouvia o riso medonho daquele velho, que reverberava por toda a caverna. Ele conseguiu o que tanto procurou... Um envólucro para aquele poder!



...continua.



M. L

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