tag:blogger.com,1999:blog-41168194849695067792024-02-06T21:40:12.303-08:00Diário de uma NahimanaA alguns anos encontrei uma criatura meio mítica. Uma índia. Até hoje eu não sei qual a sua idade, mas seu olhar secular camufla em sua pele de menina muita experiencia. Eu resolvi nomeá-la de Natasha, não sei o por que, mas foi o primeiro nome que me veio a cabeça assim que ela me deu seu nome. Esse diário será escrito aos poucos, com narrativa da própria pessoa ajudada por mim no intuito de se fazer mais fácil de entender. Espero que gostem e acompanhem...
M. Lobmaurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.comBlogger32125tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-70207907038319642132017-07-10T21:06:00.003-07:002017-09-26T21:01:53.154-07:0028<br />
Eu me remexia nos braços daqueles bichos grotescos que me segurava enquanto Inuaiaxa vinha a passos lentos ao meu encontro. Eu estava acabada, sem esperança de sair dali. Não tinha forças nem para chorar, muito menos para pedir ajuda. Esperança de morte? Não. Pois sabia que estava viva, muito viva no meu corpo de carne. Inuiaxa se aproximou baixando aquele rosto seco e velho a altura dos meus olhos vermelhos de raiva. Minha respiração ofegante era como um dragão cospindo fumaça pela narina em chamas. Tentar escapar naquela situação era impossivel, por maior que fosse minha ira, ela não me tiraria dali. Inuiaxa pôs a mão direita em meu ombro enquanto tentava me acalmar com sua voz rigida e aguda. Meu ombro estranhamente ia adormecendo a medida que ele dava leves apertões. Logo eu estava adormecida, parada, drogada, ridicularmente dominada. Cai no chão de joelhos sem vida, mas não morta. Inuiaxa sorriu afastando-se de mim, pude ver por seu semblante o gostinho de vitória que exalava do seu corpo e ser. Por que eu? Me perguntava, porque!? O que eu fiz? O que meu pai o Grande Nhandeara estava trantando com aquele patife esquelético, shaman da morte. Encostei as mãos, vencidas, no chão. Aos poucos minha respiração foi normalizando.<br />
- O que quer de mim Inuiaxa...? - perguntei vazia totalmente por dentro. - O que eu fiz que valha tanto sacrifício? Olhei aquele velho virando para mim, seus olhos brilhavam. Eu era seu maior tesouro, algo que sua putrida experiencia de vida depositava em mim sua esperança... mas de que?<br />
- Não me queira tão mal menina... - disse ele, mesmo longe, agachado como eu. - esse mal todo que me tem logo se tornará em devoção suprema. Sabias que estamos ligados por fios tão poderosos quanto o fio que liga sua alma ao seu corpo? Vou me apresentar a você, assim, quem sabe, poderá ter por mim a admiração que tenho por você.<br />
<br />
"<i>Quando tinha a sua idade, um velho indio que se chamava Shamanati, recebendo ordens de seres além de nossa compreensão, me preparou para ser o pajé da tribo Caeté. E sob suas ordens passei toda minha juventude buscando ter todo seu conhecimento sobre ervas, shamanismo e elos espirituais. Eu tinha sua idade quando fui banhado na sagrada cachoeira do grande falcão branco. Lugar sagrado, demasiadamente longe, e que somente os escolhidos podiam se aventurar. Saí dali iniciado no shamanismo, sentindo e vendo tudo... tanto na terra quanto no astral superior. Eu tinha livre acesso as chaves que abriam portais para mundos inimagináveis, materializava instrumento que proporcionava avanço para nosso povo! Eu era o grande prometido, aquele que trazia do céu o conhecimento e a magia. Segui por esse caminho durante a vida toda, vi homens nascer e morrer, lutas e conquistas ganhas sobre a minha magia. Tinha eu, definitivamente, o dominio de todo aquele povo, mas aquilo, de certa forma, não me era o suficiente. Eu comecei a querer ser mais, ter mais! E mesmo sob as ordens dos velhos ancestrais que me abdicavam punindo-me quando errava, eu fui em frente. Não queria somente o dominio do nosso povo, queria o dominio de toda a planicie florestal que dominavamos. Os povos iam sendo vencidos sob nossa magia, e submentendo-se ao nosso comando. No decorrer dos anos, tinhamos mais escravos que homem nativos em nossa terra. Nosso imperio cresceu e floresceu, fazendo tremer até tribos muito longicuas a nós. Eu, Inuiaxa, o Grande Shaman conquistara o respeito e o poder de todo aquele povo que lutavam para sobreviver. Tinhamos tudo, graças aos meus conhecimentos. Um dia, fui avisado que o poder ali materializado iria subir... subir, para nós na nossa linguagem, era ser desintegrado, aniquilado por mal uso. Por maior que fosse minha ambição eu possuia contato direto com os velhos espiritos que tentavam de tudo parar com meu avanço... mas aquilo era mais forte que eu... eu queria mais! Muito Mais! Passaram-se varias luas, varios sacrificios foram feitos para os velhos Deuses para engrandecimento de meu poder abaixo do deles, e naquela madrugada, um brilho diferente brotou no ceu estelado... um vermelho escarlate projetou como um raio desintegrando todo aquele povo que veneravam a mim e aos céus. Fomos delacerados, sem chance de ao menos revidar, pelos povos das estrelas. Eu via meu povo caindo sem vida manchando de sangue aquele chão que pisara um dia como um Deus vivo entre os homens. Vi toda minha civilização erguida sobre monte de pedras milenares sendo desintegradas por uma força além da minha, eu via as almas desesperadas vendo seus corpos multilados no chão, sem vida, sem esperança. Ouvia os choros da morte ecoando nos destroços daquela noite dantesca. Em seguida o silencio. Tudo fora erguido por uma força magnética, teleportado ao fundo do lago que veneramos. E lá estão todos nossos corpos, todos os remanescentes de nosso povo, e para traz, restou nós... mortos mas vivos, agora no astral inferior, sobrevivendo do que nos resta. A energia de vocês que camiham com vida na Terra. Estou caminhando desde então, buscando uma forma de retornar ao mundo pelo acoplamento magnetico, uma forma perfeita onde poderei novamente ter um corpo para dar continuidade ao que não consegui terminar. Você me surgiu como um verdadeiro envolucro, um recipiente para meu reencarne.</i><br />
<i><br /></i>
<i> - </i>Isso é loucura! Não pode pegar meu corpo!<br />
- Você é especial Natasha. Tens um alncance que poucos conseguem ter... é um dom natural. Assim como eu quando vivo.<br />
- Kananciuê não permitirá!<br />
Inuiaxa gargalhou levantando-se. Seus olhos fixaram-se em Natasha a ponto de a deixar descompasada.<br />
- Nunca repita esse nome na minha presença! - disse ele de repente. Esse indio estava presente do dia de minha morte. Não vou deixa-lo tomar conta novamente do meu destino.<br />
Inuiaxa fez um movimento com uma das mãos para que levantasse Natasha. Seus lacaios posicionaram atras de seu mestre prontos para agir caso fosse preciso.<br />
- Seu corpo menina, será um envolucro perfeito para Anhangá, o grande mal! Enquanto estiver sobre minha guarda, nada poderá tocar-lhe, a não ser se por minha ordem! Serei seu mestre daqui para frente, te ensinarei a resgatar todo conhecimento dos velhos sabios, toda a magia dos antigos, tudo o que temos por direito, como seres imortais...<br />
- Você não me tocará! - disse Natasha. Inuiaxa deu-lhe um tapa.maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-10635476893725539342017-07-05T20:08:00.000-07:002017-09-26T20:21:18.635-07:0027 Novamente a Caverna Não sei quanto tempo havia passado desde o momento que apaguei na aldeia. Só me lembro do barulho irritante da gota tocando incessantemente uma pocinha de água dentro daquele lugar fétido e escuro. Estava eu mais uma vez dentro de uma caverna monstruosa, lodosa e mal iluminada. Haviam tochas presas nas paredes, fincadas no chão, espalhadas todos lugares. A cor amarelada dava um ar melancólico ao lugar. Levantei olhando a volta. Tudo estava quieto, exceto pelo barulho irritante da goteira ao meu lado. olhei praquilo e quis vomitar, era uma água lodosa e fétida. Me afastei.<br />
- Olá!! - gritei.<br />
Sentir minha voz perder vida nos corredores sem fim da caverna foi a sensação mais estranha que já tive em minha vida. Onde eu estava? Precisava acordar! Sei que estava dormindo no corpo.<br />
Procurei uma pedra, um pau, sei lá... algo que pudesse me causar dor a fim de despertar no meu corpo. Olhava de um lado pro outro e não via nada que pudesse me ajudar. Tirando o veio de água pútrida no chão, o resto estava vazio.<br />
- Merda! Preciso acordar... será que as outras índias estão aqui? - falei baixinho pra mim mesma. Tentava me localizar, era preciso agir... andar... sair dali. Comecei a andar, procurando ficar proximo a parede, nunca se sabe o que pode acontecer.<br />
"<i>O olho!!!" </i>Pensei abrindo minha mão. Arfei ao ver que estava vazia. Olhei ao redor. Nada vi. <i>"Perdi o olho?" </i> Definitivamente não sabia se ficava feliz, ou se chorava. Era uma sensação indecifrável que me deixava inquieta naquele inferno.<br />
- OLÁÁÁÁ!!! ALGUÉM AQUI!? - Gritei. E nada. - <i>Caramba! Estou só!</i> Lembrei-me de Kananciuê... senti um aperto fino no peito. O que realmente eu estava fazendo da minha vida? Me questionei. Tudo estava tão confuso, estranho.<br />
- Lá está ela! - disse de repente uma voz engrenhada. Olhei pra trás assustada. Eram duas figuras escuras na penumbra. Só via a silhueta sombria.<br />
- Quem são vocês!? - Perguntei apoiando um dos pés para trás. Pronta para correr.<br />
- Calma princesa... somos do bem. - Um olhou pro outro e deram uma gargalhada monstruosa que me encheu de arrepios. Aquilo não podia ser um humano, não podia. A caverna chega trameu! - Não somos do <i>bem... </i>mas não somos do mal... quer dizer... - parou a sombra de falar. O outro deu-lhe um tapa na nuca que me deixou sobressaltada. Ambos riram novamente.<br />
- Me deixe sair daqui... por favor...<br />
- Sair? - riram novamente. - Impossível princesa... impossível.<br />
Comecei a chorar. Me joguei no chão aos prantos. A sombra menor se aproximou mostrando-se a luz da tocha entre nós. Levantei focando meus olhos vermelhos neles. Aquilo não era uma pessoa, nem um índio, nem um ser comum, era um monstro! Tinha o corpo de um homem comum, cheio de deformidades pelo corpo, olhos esbugalhados, coluna protuberante, unhas grandes e grossas. Um cheiro podre! Eu quis correr, mas algo me prendeu.Olhei pros meus pés e havia uma corrente trançada neles. Como aquilo foi parar aqui!? Tentei me livrar a todo custo, mas era impossível! A fera se aproximava enquanto eu urrava de medo e temor. Os dois não riam, gargalhavam de mim. Segundos depois estava nas mãos horrendas que me puxaram pra cima me jogando em seus ombros. Caminhamos por tuneis estreitos e lodosos, eu sentia ânsia de vomito só de pensar em tocar aquelas paredes úmidas e gosmentas. Um deles falou:<br />
- Inuiaxa já chegou?<br />
- Certamente que sim. Ele não se atrasaria. - respondeu o outro com desdem.<br />
<i>" Inuiaxa? Eu sabia que isso era coisa daquele coisa ruim!" </i> Pensava quando minha cabeça rodopiou. Os dois bichos me seguraram quando fui me vendo em outro lugar. Estranha aquela sensação. Era como se eu estivesse em dois lugares ao mesmo tempo. Já havia presenciado esses fenômenos enquanto acordada, mas dormindo nunca!<br />
Naquele momento minha visão ficou turva, como se eu tentasse ver através de um espelho d'água. Ouvia vozes. Eram dois homens conversando. Eu percebia algumas arvores, pois as via balançando seus galhos com força. A media que os dois monstros me sacudia, eu ia mais adentrando naquele mundo estranho. As vozes, que antes estavam longe, iam se aproximando mais e mais. Aos poucos eu pude entender o que diziam.<br />
- Ela é fenomenal. Bem como você havia dito!<br />
- Eu sei! - Respondeu o outro. - Kananciuê tem um grande amor por ela, e isso dificultou um pouco dela se aprofundar nas...<br />
Meu coração arfou. Aquelas vozes...<br />
- Vou transforma-la numa excelente recipiente para a Anhagá. - disse a voz mais velha.<br />
"<i>Inuiaxa?" </i><br />
<i> - </i>Não se esqueça do trato que fizemos... - lembrou a voz masculina mais jovem.<br />
- Claro que não! Agora preciso ir, vou ter-me com ela.<br />
- Não machuque minha filha... só te peço isso...<br />
<i>"Pai!?"</i><br />
<i> - </i>Claro que não. - Respondeu o velho com a voz risonha.<br />
De repente a visão turva foi sumindo, sumindo, me deixando nítida no corpo na caverna.<br />
<i>"Com quem meu pai tem um trato?" </i>Pensei abismada. Eu já nem ligava dos socos e beliscões que recebia dos bichos feios pelo simples fato de estar meia desacordada. Minha mente só via meu pai na com trato com aquele indio maldito! Que trato era aquele? E o que diz respeito a mim!?<br />
- NA-TA-SHA! - soletroude repente uma voz que tinha um timbre que começava a odiar. Levantei minha cabeça e vi Inuiaxa a minha frente, com os braços estendidos, com um sorriso de orelha a orelha. Atras dele dois outros lacaios que não pude identificar direito. Meu coração foi a boca e voltou.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
continua...<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-83534304375955502852017-07-03T20:02:00.000-07:002017-07-03T20:02:35.446-07:0026 Ancestrais <br />
Já anoitecia quando caminhava ainda sem rumo na floresta. Aos poucos, os pássaros iam se recolhendo,dando lugar a os coaxares longes dos sapos ribeirinhos. Aquilo tudo era muito lindo, o som que vinha da floresta era fenomenal, impossível não se acalmar com tudo aquilo. Eu olhava pasmada o cair da penumbra na floresta, clima quente e úmido ia se transformando trazendo na brisa que soprava um acalanto para minhas indagações. Eu estava parada, em mim apenas os cabelos longos meneavam com o séfiro que soprava, minha mente vagava sem rumo. E ali, estatelada na trilha que dava para a aldeia, olhando a fogueira longe tilintando sua chama âmbar que tremeluzia com o sopro fraco do vento. Aquele era o dia que nos reuníamos para reverenciarmos nossos ancestrais, nossa tribo fazia isso sempre que um ente querido morresse, ou por morte natural, ou por ataque de animal.<br />
"<i>Não sei se devo me reunir com os demais... me sinto tão estranha..." </i> Pensei baixando um pouco a cabeça. Naquele momento senti uma brisa passando por mim! Um acalanto estranho que me trazia a memória de minha mãe, a Danra Nahimana. Senti a garganta travar, respirei fundo, olhei pra cima com os olhos marejados e andei... andei adentrando na aldeia.<br />
Enquanto caminhava, meus olhos miravam meu povo se reunindo ao redor da fogueira, aquele momento fui me remetendo a toda minha infância, quando meus pais me mostravam o mundo desconhecido da floresta. Quando era jogada no rio por Açuã, quando Ceci vinha correndo me mostrar uma borboleta linda que conseguiu segurar nas mãos, quando eu maldizia das curvas de Moara... Perdi a conta das vezes que estive sentada ali toda feliz ouvindo meu pai falando dos nossos ancestrais... e hoje... nem meu próprio pai está mais perto de mim. Me sinto só... vazia... com um peso que não sei explicar em minha mente...<br />
Então, senti uma mão tocando-me o ombro. Sobre saltei olhando para trás. Eu conhecia bem aquelas mãos quentes por natureza e firmes como rocha. Meu pai tocava meus ombros com ternura e aquilo foi o suficiente para me desmoronar de vez! Toda aquela muralha de pedra que construí nesses últimos dias. Abracei-o chorando copiosamente, senti suas mãos amáveis me acariciando me deixando estranhamente segura, uma sensação que pareço ter esquecido do sabor.<br />
- Pai... - tentei dizer, mas o grande cacique me calou encostando seu dedo levemente em meus lábios. Sua feição paterna me dava toda a segurança que eu precisava.<br />
- Eu sei minha filha, o quanto tens sofrido para chegar onde chegou, e sei ainda da dor que terás que conduzir daqui para frente com o peso que adquirira recentemente.<br />
Parei para pensar enquanto secava meu rosto.<br />
- Está com o olho? - Perguntou-me ele.<br />
Assustei-me de prontidão. Fiz o gesto com a cabeça que pareceu me trazer toda a tempestade que a pouco havia se sessado.<br />
- Como sabe? - Perguntei. Meu pai puxou me próximo ao Moti, onde todos se reunião. Olhou gentilmente para mim e saiu reunindo-se junto aos demais caciques da tribo. Ele sabia que eu o segurava em minhas mãos! Seus olhos me diziam sem seus lábios proferir. Abri minha mão e o olhei. Ele estava ali... me encarando... sem pestanejar!<br />
- Natasha. - me chamou Saíra surgindo ao meu lado. Quase infartei de susto. Olhei para ela fechando de imediato a mão. - O que você estava olhando?<br />
- Por que? Eu olhando? Estava olhando nada não...<br />
- Como não. - disse ela bem baixinho, naquele momento via que meu pai já falava com todos. - Você está olhando para sua mão por quase meia hora.<br />
- NÃO!<br />
- Xiiiiiiiii! - fez ela me puxando mais pra baixo, alguns índios olharam para trás retorcendo o bico.<br />
- Saíra... eu só... - parei por um tempo - não é possível! Eu só olhei pro olho por um segundo...<br />
- Olho?<br />
- S-sim... quer dizer...<br />
- Deixa eu ver! - implorou Saíra abrindo minha mão com curiosidade. - Cade? - Parei fitando ela.<br />
- <i>Aqui...</i><br />
<i> </i>- O que? Essa semente de Mucunã?<br />
- Não! Isso é um olh... - parei fitando os olhos de Saíra que me olhavam profundamente. Senti vergonha naquele momento. Fechei a mão e o apertei fazendo veias sobre a mão. - Me deixa Saira!<br />
- Não se preocupe Natasha... cada um está passando pela prova que necessita para evoluir nesta Terra...<br />
Olhei pra ela e olhei para meu Pai enquanto terminava sua oratoria. Saíra falava aos meus ouvidos enquanto eu, mentalmente vibrava para que ela fosse embora.<br />
- ... você um dia vai entender que isso é para o bem de todas, um dia meu pai...<br />
Saíra não parava de falar, e eu apertei o olho vibrando para que ela tivesse uma dor de barriga, e me deixasse em paz, em segundos eu ouvi um grunhido. Olhei pra Saíra e ela punha as mãos no ventre, sua feição não era a das melhores.<br />
- Saíra... você está bem? - Perguntei segurando sua mão, que estava fria e tremula.<br />
- Ai! Ta me dando...<br />
Vi Saíra se levantando as pressas sumido na escuridão enquanto eu a encarava abismada.<br />
- Será que...? - disse baixinho abrindo a mão encarando aquele me me fitava de forma sinistra.<br />
- Ele é maravilhoso, não é?<br />
Olhei assustada para o lado e vi Inuiaxa me encarando com um riso profundo nos lábios, seus olhos estreitos espremidos me encarava com ambição. Dei um grito caindo para trás. Aquela foi a ultima cena que me lembro daquele dia terrivel.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Continua...<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-31391926968491821582017-06-24T19:19:00.001-07:002017-06-24T19:20:16.612-07:0025 Eu Sou Seu Mestre Estava totalmente fora de mim. Havia em minha mente um turbilhão de fortes emoções tomando conta de minhas ações. Eu, naquele momento, não sabia o que fazer, onde ir, com quem falar... nem conseguia gritar! Sentia fome, frio, medo, angustia, raiva, tudo o que não presta!<br />
As horas iam passando, eu ainda ali, parada, sem reação para nada... meus ombros pesavam, minhas costas doíam...<br />
- <i>O que eu vou fazer? </i>pensei enquanto batia levemente o tronco de uma arvore. Meus olhos miravam o céu, mas era como se eu não o visse. Tudo aquilo já não tinha sentido algum pra mim. Onde estava Kananciuê que não vinha me reconfortar com suas palavras gentis? Eu me sentia uma fera incontrolável...<br />
- Eu sei o que você sente... - disse Inuiaxa logo atrás de mim. Virei resmungando sem paciência.<br />
- O que você quer de mim seu velho nojento!?<br />
- Não sou eu que preciso de você agora, e sim você de mim. - respondeu com um certo ar irônico. Eu juro que ouvi um risinho sínico em algum lugar próximo a mim.<br />
- Vá embora... não quero nada com você!<br />
- Quer sim... - disse - e tem raiva de si mesmo por querer...<br />
- VÁ EMBORA!<br />
- Não, eu não vou menina... e não altere mais o tom comigo! - disse ele espremendo levemente os olhos.<br />
Naquele momento senti um peso em meu estomago, como se tudo que ali houvesse revirasse. Agachei sentindo muita dor. Tentei gritar, chamar alguém... ele me alertou.<br />
- Todos já acham que você é uma Padalá... se chegar alguém aqui e te ver falando com um nada, a provas terão se tornado reais.<br />
- Eles vão te ver seu miserável!!!<br />
- E você acha que podem realmente me ver?<br />
- AAAARGGGGHHHH! - Urrei de dor.<br />
- Volte onde jogou o olho!<br />
- Não! AAAARRGGGGHHHH!<br />
- Vou te pedir mais uma vez, não me faça repetir menina insolente! <i>Vá buscar o olho!!</i><br />
- Não... eu NÃO VOU!<br />
Naquele momento senti tudo rodopiar, minhas vistas escureceram, não senti mais meu corpo. Ouvi risadas surgindo de todos os lados, as arvores deram lugar a paredes sombrias sombreadas por chamas em tochas rusticas fincadas em vários cantos da caverna. Ergui meu olhar a frente e vi Inuiaxa parado me encarando. Ele tinha em suas mãos um rosário escuro na qual passava seus dedos finos e frios. Senti que seus lábios pronunciavam palavras que eu não conseguia ouvir. De repente o desconforto voltou. Senti um punhal em meu estomago revirando e estraçalhando tudo. Cai novamente no chão urrando de dor. O velho índio me encarava sem piedade a medida que me castigava com sua magia imunda! No meio da caverna reverberava gritos e risadas esganiçadas que rasgavam meus ouvidos. Estava presa num mundo que não conhecia. Um mundo pesado, das trevas na qual o velho índio certamente comandava.<br />
- Eu sou seu mestre agora! Deve-me respeito menina... - disse ele deixando sua magia de lado. Senti um alivio imediato. Caí no chão esgotada, sem forças. Meus olhos o encaravam trêmulos de medo e pavor, minhas pernas vibravam sem forças para fugir . - Nunca mais poderá fugir do envolucro que te envolvi. Você será muito útil para nós!<br />
- Me deixe sair... por favor... - disse desfalecida.<br />
- Você agora me pertence! e a mim deve respeito.<br />
Fiquei sem reação. Tentei chorar, meus lábios tremiam de frio e medo.<br />
- Volte, e leve contigo o olho que te entreguei! Ele é o contato direto comigo, e através dele te prepararei, te ensinando sobre sua força e poder.<br />
Tentei dizer algo, mas o velho levantou o rosário me fazendo apagar totalmente. Senti novamente tudo girar. As risadas pareciam me circundar, rasgando minha pele a medida que tudo girava. Era uma dor que não era física, era uma angustia que me sugava até a ultima gota de energia.<br />
Despertei no corpo. Olhei desesperada para todas as direções. Não vi ninguém! O velho não estava mais ali. Forcei para levantar, mas senti tanta dor que gritei caindo no chão novamente. Debrucei sobre mim procurando me abraçar, apertando-me o máximo, tentando me dar forças em meio a tudo que estava acontecendo. Olhei para minhas mãos, elas estavam magras, frias... meus dedos tremiam, minhas unhas ranhentas estavam sujas de terra. Aquela não era eu! Eu não era esse monstro... A transformação era para ser positiva em minha vida, mas desde do momento que tudo começou eu só consegui atrair revoltas e coisas ruins. Meus olhos choravam, meus lábios derramavam saliva densa de desespero e medo. Minha respiração acelerada com o choro me deixa ainda mais nesse estado deplorável de ser. Fiquei ali, abraçada a mim mesma não sei por quanto tempo. Meu choro deplorável não me aliviava, ao contrario, me afundada com tantos sentimentos impróprios contra os princípios que minha mãe, a Danra Nahimana tanto presava. Eu estava definitivamente destruída. Abri meus olhos tentado enxergar a realidade do mundo, e entre vários galhos e pedra, enxerguei um seixo esbranquiçado... este se mexeu virando-se para mim. Aquele não era uma pedra, era o Olho!<br />
<br />
<br />
continua...<br />
<br />
maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-12060698744105555652017-06-21T09:50:00.000-07:002017-06-24T18:33:49.747-07:00Página 23 Me Encontrando <div dir="ltr">
Tirei a última raiz que saía a minha perna esquerda. Me senti <u>de</u> certa forma mais leve. Por um segundo encarei o entulho de galhos que se formaram ao meu lado de tudo que tirei e pensei como aquilo era possível? Encolhi minhas pernas passando as mãos em minha pele, ela estava lisa como se nada tivesse acontecido, como pode?! Levantei-me, dei alguns passos a frente e parei. Agora que estava sozinha eu poderia ver melhor a tal lagrima de Xavú. Coloquei a mão na minha bolsinha e tirei a pequena pedra. Vou confessar ... Me senti estranha. Que pedra linda! Pensei.<br />
Peguei-a com os dois dedos e a foquei com os olhos. Havia alguns símbolos estranhos impressos nela... O que será que estava escrito? Pensei. Elevei-a a altura dos olhos e Mirei pro sol, naquela posição eu pude notar uma parte leitosa dentro da pedra, era ela que dava a cor âmbar aquela preciosidade.<br />
- Que estranho! - disse bem baixinho pra mim mesma enquanto a olhava rente aos olhos. - mas o que quer dizer esses simbolos?<br />
Notei então que algo dentro da pedra se mexeu.<br />
- ??? - Afastei a pedra um pouco, depois voltei a perto dos olhos.<br />
Senti um calafrio subindo pelas minhas costas, os símbolos sumiam lentamente enquanto se desfaziam dentro do liguido mentoso dentro da pedra.<br />
- Nossa... - disse quase inaudível - parece que está derrentendo ou...<br />
A parte escura que formava os símbolos derreteram se encontrando dentro da pedra, olhei aquilo pasmada... O líquido escuro formou um globo dentro da pedra.<br />
- ...parece um... !!!!!!<br />
Joguei a pedra no chão abismada, minhas pernas começaram a tremer e minhas mãos gelaram na hora. Era como se a pedra se tornasse um olho!!!<br />
Dei alguns passos para trás e aquele olho parecia me acompanhar, eu andava e ele me olhava fixamente.<br />
- O que é isso!? - me perguntei pondo as mãos frias na boca - pare de me olhar... PARE!!! - urrei.<br />
Juntei coragem e chutei longe aquele olho acastanhado. Minha respiração ofegante me deixou meio zonza, então uma mão me segurou no ombro.<br />
- AHHHHHHH!!!!! - gritei estérica. A pessoa atrás de mim recuou sem entender.<br />
- Natasha? O que foi? - disse a voz que eu conhecia bem.<br />
Me virei com a cara estupefada. Provavelmente eu teria corrido da minha própria feição.<br />
- Ah Saíra!!! - desabafei aliviada - você quer me matar é?<br />
- Te matar Natasha? - disse ela meio irônica e sem entender. - O que você estava fazendo aqui sozinha? Está todo mundo preocupado com você. Os homens da tribo estão te procurando a sete dias...<br />
- SETE DIAS?! - briguei com ela - QUE SETE DIAS? Não tem nenhuma hora que estou aqui...<br />
- Natasha... Já se passaram sete dias desde o dia em que você saiu do desdobramento do nada...<br />
- Para Saíra... - disse empurrando-a - <i> sete dias... Até parece...</i><br />
<i> - </i>Natasha é serio!<br />
- Me deixa saíra, me deixa!<br />
Entrei na mata tentando achar a trilha estreita e apagada que levava a caverna onde vi Moara. Caminhei por uns dez minutos quando ouvi murmúrios atrás de mim.<br />
- É ela, é ela...<br />
- NATASHAAAA!!!! - me chamou uma das vozes.<br />
Girei pra trás e vi Açuã e Jupiara ansiosos atrás de mim.<br />
Torci o bico e me virei contra eles.<br />
- Natasha, estão todos preocupados com você... Onde você estava?<br />
- Como onde eu estava? ESTAVA AQUI O TEMPO TODO!!!<br />
- Pensamos que tinha sido morta por uma onça - disse Açuã aliviado.<br />
- Que onça o que! - esbaforei - se eu visse uma onça eu era que iria comer ela!!<br />
- Natasha, a Danra, sua mãe...<br />
- O que tem minha mãe? Está preocupada? É só falar que já me acharam... - disse e sai tentando ficar só.<br />
Açuã e Jupiara se olharam meio pesaroso.<br />
- Não Natahsa... Ela está morta...</div>
<div dir="ltr">
....continua.</div>
<div dir="ltr">
M. L <br />
</div>
maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-20687349588126499622015-06-09T20:08:00.000-07:002017-06-24T18:17:49.650-07:0024 Uma Lagrima, um Adeus. O início da transformação. Corri pra aldeia de uma forma que minha respiração ofegante se misturava ao farfalhar das folhas secas dos arbustos que eu saltava. Minha mãe, a Danra Nahimana não poderia ter morrido!! Não poderia!!! Aquilo foi uma mentira absurda! Estavam mentindo... MENTINDO!!!<br />
Cheguei na aldeia e todos me encaravam com espanto. Eu não tinha tempo de olhar aquelas caras horrendas que me embrulhavam o estomago, eu tinha que ver minha mãe... MINHA MÃE!!!!<br />
- Natasha! - me chamou uma voz. Olhei pra trás e vi Saíra parada entre dois caciques.<br />
- O que foi Saíra? Estou indo falar com minha mãe.<br />
Minha voz embargou, saiu vacilante. Algo me dizia que eles não estavam mentindo. Os olhos de Saíra me diziam isso com clareza.<br />
- Natash...<br />
- Fica calada Saíra, não fale nada! - interrompi. - <i>Eu vou na maloca, e vou ter com minha mãe - </i>meus olhos se enchiam de lágrimas sem que eu me tocasse. - se você ou alguem nessa maldita tribo - parei, minha voz embargou - me impedir ou vier falar algo, eu... E-eu...<br />
Comecei a perder as forças, minhas pernas bambearam, ajoelhei vencida e em lágrimas copiosas. Minhas palavras não saiam mais, por mais que eu tentasse, a dor era forte de mais e minha garganta afungentada se espremia a cada soluço de dor. Eu olhava para Saíra que me encarava com ar penoso enquanto me expremia agonizante no chão frio.<br />
- Minha mãe Saíra!!! - urrei aos céus diante da dor profunda. - Minha MÃE!!!!!<br />
Saíra me assistia espremendo suas mãozinhas junto ao seu peito. Ela se compadecia de minha dor, seu semblante firme e meigo tentava me encorajar dando-me forças.<br />
- Ô Natasha... - disse Saíra vencida pela minha dor, abaixou-se e me abraçou. - Sua mãe f...<br />
- CALA A BOCA! - gritei empurrando-a. Sentia tanto ódio que minha pele parecia fervilhar. Meus olhos espremidos e vermelhos queimava a todos que tentavam se compadecer. Joguei saíra no chão e corri desenfreada até a nossa maloca.<br />
Cheguei. Olhei todos os lados. Estava vazia. Aquele foi o pior vazio, o pior silencio. Era a morte falando cimigo... Desmoronei ajoelhando novamente no chão aos prantos. Tapei meu rosto com minhas mãos trêmulas tentando sessar as lagrimas descontroladas. A dor em meu peito logo foi tornando áspera, sangrenta e odiosa. Esmurrei o chão, uma, duas, três, quatro vezes e a medida que esmurrava desconsoladamente eu xingava tudo e a todos. O som seco das batidas ecoavam por aquelas folhas secas em um eco fúnebre. O sangue que derramava em minhas mãos regava aquele chão que certamente minha amada mãe descansava. Mas onde ela estava? Onde?<br />
Senti uma mão fria tocando meu ombro. Era uma mão profunda de muitas experiência ocultas. Minha ira anuviou-se. Senti medo. Abri por um momento os cabelos de meu rosto ignorando por um momento a dor das chagas em minhas mãos. Era Ínuaixa. Ele estava ali, novamente, ao meu lado. Senti uma estranha sensação ao vê-lo.<br />
- Vo-você?<br />
- Xiiiiii - fez ele com os dedos magros tapando meus lábios umedecidos. - fique quieta menina e ouça o que tenho a te dizer. - me encarou nos olhos ignorando totalmente a minha dor. - não deixe que te dominem... Lute contra tudo. Eles te tiraram a sua mãe, e eles irão... - Ínuaixa olhou para algo que vinha atras de mim, notei por seus olhos que ele via algo que não estava ali conosco no mundo fisico, sua fisionomia mudou muito rápido. - escute menina, eles querem fazer com você o que fizeram com sua mãe, revolte-se! Não deixe que te dominem... Lute! Use o olho que te dei, ele te mostrará tudo, tudo!<br />
Eu olhava fixamente a expressão apressada de Ínuaixa, ele dizia coisas que não batia com o que eu havia sentido dias antes. Pus as mãos ao peito procurando sentir o olho em minha bolsa, aquele artefato me pesava e me intigava como nunca. Esqueci por um segundo de minha mãe, olhei rapidamente para trás de mim e não vi nada, voltei à Ínuaixa e ele havia sumido. Senti um calafrio cortando minhas costas como navalhas negras e frias subindo ate minha nuca. Meu coração acelerou descompassadamente.<br />
- Ínuaixa.., - falei pro vazio...<br />
Levantei-me sem entender. Os últimos suspiros da dor de segundos antes me permeava o peito em suspiros profundos. Sequei os olhos e joguei meus cabelos desgrenhados para trás. Tinha que sair dali. Tinha que saber o que estava acontecendo. Olhei novamente para trás e vi Yakekan parado bem ao fundo da maloca escura, ele me encarava pesaroso. Aquele olhar milenar não conseguiu tirar a ira que crescia descontroladamente dentro de mim. Saí de lá de dentro ignorando-o por completo, caminhei a passos firmes em um único destino. Em minha bolsa sentia o olho de Xavú ardendo em chamas.<br />
<br />
<br />
....continua.maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-6394391120194565482015-05-20T15:42:00.000-07:002015-05-21T09:00:36.731-07:00Pagina 22 A Lágrima de Xavú " O que é isso que está tomando conta do meu corpo!?" gritava eu em meus pensamentos. Eu sentia como se não dominasse mais meus braços nem minhas pernas. Sentia apenas uma vibração pulsando dentro de mim... Algo ressoando em todas as minhas veias e artérias. Eu gritava, chingava e minha voz não me respondia. Fui obrigada a ficar inerte no ar até sessar aquela sensação horrível.<br />
Lá em baixo eu ouvia com clareza e nitidez a risada do velho índio Ínuaixa. Ele não ria, gargalhava! Parecia ter conseguido algo que tivesse lutado a muito tempo. Aos poucos toda aquela sensação ia parando, logo eu pude sentir meus pés tocando o chão frio da caverna. Eu suava muito e me sentia meio enjoada. Agachei um pouco e olhei de relance para baixo.<br />
- O você fez comigo?! - perguntei - O QUE VOCÊ FEZ COMIGO?!!<br />
- Não é hora para explicações!! Fique quieta menina... - disse ele com aquele olhar de triunfo - ou seu corpo não irá suportar...<br />
- Suportar o que? O QUE?!<br />
- Fique calada Natasha!!! - disse ele meio preocupado querendo adiantar um passo.<br />
- Calada? CALADA??? - urrei - QUEM É VOCÊ PARA ME MAND...<br />
Senti uma fisgada forte no meu abdômen. Abaixei um pouco mais quase caido no chão.<br />
- O que você fez comigo? Ahhhhhh - gritei de dor.<br />
- Fique quieta menina !!! - disse ele novamente subindo um degrau na escada.<br />
Urrei alto senti uma força descomunal saido de mim. Ínuaixa deu um passo pra trás, seu olhar era de tensão e entusiasmo.<br />
- Seu maldito!!!! - disse olhando nos olhos dele. Ele esbaforiu uma reação absorta. Voei sobre ele com uma fúria incontrolável, ele ergueu uma das mãos antes de eu o tocar e tudo se clareou. Perdi a consciência.<br />
<br />
...<br />
<br />
- Natasha... Natasha!!<br />
Eu sentia como se estivesse caindo de um abismo, mas na verdade estava voltando pro corpo. Era como se estivesse em um redemoinho, girando e caindo desenfreada.<br />
- ahhhh!! - gritei assim que abri os olhos. - O QUE ESTÁ ACONTRCENDO? O QUE ESTÁ ACONTECENDO??? - perguntei me debatendo enquanto descortinava os olhos esbugalhados e vermelhos.<br />
- Calma, calma! - disse uma voz bem a minha frente.<br />
Senti uma água esguichando no meu rosto. Assutei, pois minha visão estava ainda turva. Olhei pra cima e vi Nhandeara meio plasmado com uma cuia vazia na mão.<br />
- como você esta?<br />
- Como estou? - perguntei ironicamente - pareço bem? - cocei os olhos tentando realinha-los.<br />
Nhandeara me olhava com certa admiração e excitação. Sua respiração estava levemente ofegante. Eu não estava entendendo nada, pois houve alguns segundos de silêncio que pareceram para mim uma eternidade. Aos poucos eu pude perceber melhor as coisas ao meu redor.<br />
- O que o senhor está fazendo aqui? - perguntei tentando me levantar, mas algo me segurou no chão.<br />
- Estava esperando você voltar do seu desdobramento.<br />
- Voltar? Então o senhor sabia qu... - forcei meu corpo novamente para me levantar, mas algo prendia minhas pernas no chão. - Mas o que está me segurando no chão!? - já estava ficando sem paciencia, e a presença do Cacique Nhandeara me deixava meio sem graça pra dizer umas boas palavras! Ele parecia esconder algo de mim e aquela sensação estava alem de constrangedora muito estranha.<br />
- Natasha, minha pequena, hoje você deu um grande salto na sua vida energética nesse mundo - dizia ele pacifico e melancólico - a partir de hoje você não mais ser...<br />
- Senhor... Desculpa, mas eu quero me levantar - cortei ele enquanto forçava meus pés. - tem alguma coisa me segurando? - perguntei tentando ver o que era, Nhandeara que estava na minha frente se levantou meio titubeante. Olhei pros meus pés e dei um grito!<br />
- O QUE É ISSO????<br />
Meus pés e pernas estavam todos cobertos por raizes, folhas, galhos... Mas não parecia que alguem tinha os posto ali, era como se saíssem de mim! Como se meu corpo da cintura pra baixo tivesse se transformado em uma árvore estranha e contorcida.<br />
Gritei desesperada enquanto arrancava da minha pele toda aquelas coisas. Nhandeara me olhava cobiçoso, como se não pudesse acreditar. Seus olhos brilhavam, como se a sua frente houvesse uma pedra preciosa a muito cobiçada. Ele mordia levemente seus lábios tamanho sua excitação.<br />
- Senhor! Por favor, me ajude!!! - implorei enquanto arrancava das minhas pernas os punhados de raízes e galhos.<br />
- Não posso Natasha, somente você é capaz de tirar sem te causar dor...<br />
- como assim? - arranquei mais um outro punhado e arremessei pro lado.<br />
- É sua conexão com a terra filha, você não só deu um passo nesse desdobramento, você foi muito mais além. É só olhar...<br />
- Senhor... - tirei os últimos galhos da perna direita - o que vão falar de mim? - perguntei imaginando a cara de Ceci e Saíra. - estou parecendo um bicho... Uma árvore... Ai meu Deus do céu!!!<br />
- Ninguém poderá saber filha, - ele se abaixou a meu nivel, pegou minha mão e apertou forte ao peito - o que você fez ou viu hoje, ninguém poderá saber Natasha, <i>ninguém!</i><br />
- COMO NÃO?!!! - gritei sem perceber, parei, engoli a seco e continuei recomposta - estou parecendo uma arvore!! Vou contar sim!!!<br />
- Não, você não vai!<br />
Nhandeara me encarou com aqueles olhos negros, frios e profundos, sentir o vazio em seu coração, aquilo me deixou confusa e sem chão. Nhandeara é um cacique influente na nossa tribo, está sempre com Kananciuê e Yakekan. Aquilo me deu muito medo.<br />
- Esculte filha, - ele pegou algo de dentro de uma bolsinha de couro de javali que estava presa em seu peito e Me deu. - esta é a lagrima de Xavú, guarde-a contigo, e no momento certo saberá usa-la. Ela vai te dar as resposta que precisar. Eu não tenho a permissão de te explicar nada aqui, desse jeito como estamos. Mas por favor, guarde contigo essa lágrima, ela será muito importante na sua nova caminhada.<br />
Olhei aquilo estupefada, sem reação. Algo me induzia a pegar, e eu sentia que não era algo bom. Peguei aquela pedrinha na mão e a segurei. Era pequena, parecia feito de seiva de âmbar. Olhei praquilo, tão pequena e tão misteriosa e guardei em minha bolsinha. Não sabia o que responder, não sabia se deveria agradecer... Preferi ficar no silencio.<br />
- Não precisa me agradecer filha... - disse ele se levantando, - no tempo certo me procurará, e lembre-se, - virou-se para mim inerte no chão , não conte a ninguém, a ninguém!<br />
Nhandeara sumiu na mata tão misterioso quanto apareceu. O que era aquela pedra? Por que eu não podia falar para ninguém? Eu pensava enquanto arrancava os tufos de folhas e galhos presos nas minhas pernas com toda pressa e força que eu pudesse ter.<br />
<br />
<br />
....continua.<br />
<br />
<br />
<br />
M. L.<br />
<br />
<br />
<br />
maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-9853891596180380152015-05-18T13:44:00.000-07:002015-05-18T13:44:20.033-07:00Pagina 21 Ínuaixa Fiquei agachada, abraçada as minhas pernas até consegui me acalmar. Respirava lenta e profundamente tentando conter meus impulsos. Não podia ficar assim, isso era fato. Mas o problema era essa minha personalidade forte, as vezes eu não podia com ela... Senti de relance um farfalhar bem perto de mim, um arrepio me subiu pelas cosas de forma abrupta. Algo se aproximou de mim, travei de imediato. Tranquei a respiração para poder ouvir melhor. Eu ainda estava cabisbaixa e agachada quando, olhando entre meus braços vi dois pés pararem na minha frente.<br />
- Natasha? - disse a voz.<br />
Laguei meus braços e olhei pra cima. Era um velho indio de cabelos curtos brancos e bagunçado, com marcas, simbolos, colares e rugas espalhadas por todo aquele corpo velho da cor âmbar.<br />
- Sim... Sou eu... - respondi meio paralisada por aquela figura impar e indecifrável. - e tu, quem é?<br />
O velho índio baixou- se ao meu nivel e sentou-se encostando na arvore que eu estava. Olhei para suas pernas magras e seus dedos finos e sujos da terra umida, minha mente foi muito longe. O velho puxou umas pernas e apoiou um dos braços.<br />
- Inuaíxa...<br />
- Inuaíxa? Seu nome?<br />
- Sim minha pequena.<br />
Ele, naquele momento, virou o rosto focando bem profundo em meus olhos. Senti que estava sendo lida de dentro pra fora, aqueles olhos castanhos bem claros entraram dentro de minha mente me absorvendo a energia pesada que eu estava carregando. Dei um pulo do chão ficando de pé e de frente aquele velho índio. Senti no exato momento o mundo girando, segurei a arvore e segurei minha fronte com a mão.<br />
- O que você fez comigo? - perguntei quase perdendo as forças da perna.<br />
- Não falei para você se levantar!! - disse ele com a voz rígida. - Sente-se!<br />
Aquilo foi de mais pra mim! Quem é esse homem que surge do nada e ao ponto de me ordenar a sentar!!!<br />
Meu corpo estava muito pesado, não conseguia ficar em pé. Sentei novamente no chão... Estava totalmente zonza...<br />
- Fique quieta menina... - disse o velho, como se estisse me dando bronca.<br />
Eu estava tão grogue, que acabei respondendo "sim..." sem querer.<br />
- Me dê sua mão... - disse ele puxando minha mao direita que estava fria e mole. Olhei com a visão turva que ele movimentava os polegares na minha palma enquanto entrava em uma especie de transe. Tentei de toda forma puxa-la de volta, mas não tinha força alguma. Eu só ouvia sua voz grelhada dizendo " <i>muito bem... Muito bem!!!" </i><br />
Ficamos ali pelo tempo suficiente para ele me tirar do corpo. Em minutos eu estava diante de um altar de pedra, dentro de uma caverna penumbrosa. Olhei sobressaltada para todos os lugares tentando achar uma saida, mas nada me chamou a atenção mais que o brilho que vinha daquele altar. Eu sentia que alguem me estigava a ir até, uma sensação de uma voz me guiando. Na minha mente só vinha a imagem daquele velho estranho. Eu tinha que ir la , mas ao mesmo tempo nao queria. Meus pés iam pra frente enquanto o outro me puxava para tras. Pus as mãos na cabeça e gritei desesperada!!<br />
<i>" filha... Não precisa fazer isso... - disse uma outra voz, que certamente nao era a do velho indio - Volte filha, volte para seu corpo"</i><br />
- Quem está ai!? - urrei a todo pulmão...<br />
Senti uma luz projetar bem fraquinha do meu lado direito. Olhei súbita pra ela, e no instante seguinte uma pessoa saiu, como se houvesse uma porta ali.<br />
- Não precisa filha, - disse Kananciuê com a voz calma, pacifica e amorosa, - eu posso te ensinar tudo pelo caminho certo...<br />
Senti naquela hora uma fúria se abrir de minhas entranhas, como se algo dentro de mim fosse pular para fora, perdi um pouco o sentido enquanto cambaleei para trás. Essa sensação não era minha, era do velho dentro de minha mente!<br />
- SAIA DAQUI!!!! - Urrou ele por minha boca. Eu não estava entendendo nada...<br />
- Natasha... Natasha minha filha, lute contra esse poder!!!<br />
- SAIA DAQUI VELHO MALDITO!! SAIAAA!! - Urrei sem querer. O velho me dominava por completo.<br />
Kananciuê me encarava com aqueles olhos piedosos. Nao era que eu não estava fazendo nada para mudar aqui, eu simplesmente não queria! O que tinha naquele altar? O que eu não poderia ver? Por que kananciuê estava ali para me impedir? E eu me conheço muito bem... Eu sou topetuda, não sou como Saíra ou Ceci, passivas a tudo... Eu sou diferente... Eu sou Natasha!!!<br />
Enfrente de peito kananciuê e segui ate o altar de pedra. Seu olhar terno me seguiu até onde foi possível. Eu estava tão decidida que olhei de relance para trás e o velho kananciuê não estava mais.<br />
Subi umas poucas escadas de pedra até chegar ao altar que emanava uma coloração esverdeada, como se uma grande esmeralda tivesse emanando para aquele mundo obscuro sua tênue coloração. Meu peito arfou. O que seria aquilo? Por que aquele velho que nunca tinha visto queria que eu estivesse ali, por que? Olhei pro chão, faltava apenas três degraus, e aquele tesouro estaria em minhas mãos. Respirei fundo e subi...<br />
Toquei a estrutura de pedra com as duas mãos, não era uma esmeralda que meus olhos viam, era um globo de cristal com uma energia esverdeada viva dentro. Tetei puxar minha mão, mas o velho índio a segurou forçando a ficar.<br />
- Pegue-a!<br />
Olhei pra ele e olhei pro globo. Meus olhos focaram o horizonte, foi quando saltei do chão... Haviam vários corpos caídos abaixo daquele altar, eram jovens índios e jovens índias, meus olhos exclamados expressavam o medo e pavor daquele lugar.<br />
- Pegue o cristal menina! - disse o velho com a voz firme e pútrida quanto a morte que rondava aquelas paredes. Eu o obedeci. Tirei o globo do altar e segurei com as duas mãos, a energia pulsava gigantesca de dentro dele, por um segundo sua luz exposta incandeceu toda a caverna. Tentei largar o globo, mas era rede de mais... A energia viva pulou dentro de mim pelos olhos e pela boca. Perdi totalmente o controle de mim... Sentia que algo vivo e monstruosamente forte me espancava por dentro, senti meus pés levitando como se não mais houvesse inercia. Lembrei-me de kananciuê, mas era tarde de mais. Lá embaixo eu ouvia o riso medonho daquele velho, que reverberava por toda a caverna. Ele conseguiu o que tanto procurou... Um envólucro para aquele poder!<br />
<br />
<br />
<br />
...continua.<br />
<br />
<br />
<br />
M. Lmaurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-47925440424150776182015-05-15T11:11:00.001-07:002017-06-24T18:11:22.526-07:00pagina 20 Inconformada... Enfurecida Qual a cara da desilusão? E o cheiro da decepção? Bem... Eu não sei. A única coisa sobre mim que eu não sabia, era que eu nao estava bem... Estava péssima! Resumida! Por fim acabada...<br />
Sai da maloca a passos lentos e pesados. A aldeia estava viva e vibrante como sempre foi, mas apesar das cores, eu só enxergava o preto e o branco. Via e sentia as pessoas passando por mim, as vezes me chamando e eu as ignorava ... Estava inerte a tudo aquilo.<br />
" por que eu sou assim? " pensava enquanto seguia cabisbaixa. " por que para as outras pessoas é tão fácil, mas pra mim... - parei por um segundo engolindo o choro - pra mim é tão difícil..."<br />
- Que merda! - xinguei alto.<br />
Nem me importei se alguem havia ouvido. Não me importava com mais nada... NADA!<br />
Fui bem devagar ate chegar ao leito do rio. Aquela manhã estava calma e o rio parecia-se comigo. Morto! Sentei-me na prainha, deixei que meus pés descalços tocasse a agua, para quem sabe, me fazer sentir melhor... Mas nada! Os minutos se passavam e eu estava ali, do mesmo jeito. Perdi a conta de quantas pedrinhas joguei no rio descontando minha indignação.<br />
- Natasha... - me chamou uma voz. Era Saíra.<br />
Olhei para trás querendo sinceramente sentir o que senti quando a vi na outra dimensão, mas fui apunhalada por mim mesma. Olhei praquele rosto jovial e quis torcer seu pescoço. A raiva que eu senti foi o pior sentimento até aquele momento. Me levantei e corri me embrenhando na mata densa da floresta. Tive que fugir ou ia descontar minha fúria em Saíra que não tinha nada a ver com meus erros. E ela ficou lá... Me olhando com aqueles olhos profundos e escuros.<br />
Corri desenfreada mata a dentro, o barulho dos meus pés esmagando as folhas secas não era o suficiente para abafar meu peito arfante. Eu corria prestes a explodir. Estava sem rumo, sem direção...<br />
"<i>Filha, equilibre sua mente " </i> disse uma voz em minha mente. Eu estava tão descontrolada que não dei ouvidos.<br />
<i>" Filha, não se entregue dessa forma, vocês estão sobre forte pressão energética, e os testes estão para serem vencidos..."</i><br />
- Cala a boca... CALA A BOCA!!!!! - Urrei a todo pulmão me apoiando em uma arvore. Meu corpo deslizou e tocou o chão.<br />
<br />
<br />
... continua.<br />
<br />
<br />
<br />
M. L<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-31220701396178441752015-05-13T08:58:00.002-07:002017-06-24T18:08:32.432-07:00pagina 18 Divino Espelho Dágua " Estranha sensação de leveza" era a única coisa que se passava em minha mente. Eu pisava naquela grama e a cada passo dado um conforto maior se apoderava de meu ser. Como era bom estar ali!!<br />
Olhei pro lado e entre as arvores puder ver a beleza de um distante lago prateado, senti vontade de ir até lá...<br />
- Natasha!!! - gritou Saíra, que segurava minha mão.<br />
Olhei pra baixo e quase dei um grito. Eu estava flutuando, quase a meio metro do chão. Saíra me segurava puxando pra baixo. Ouvi uma risadinha vindo da Danra que estava logo atrás de nós.<br />
- Mãe, o que esta acontecendo? - perguntei tocando os pés no chão.<br />
- Filha, não esqueças que não estas no corpo físico. Aqui, nessa dimensão, quase tudo é possível... E volitar está dentro das possibilidades. - e sorriu acariciando minha cabeca .<br />
- Mas que estranho... Acho que levitei quando pensei em ir ate aquele lago - disse olhando para o divino espelho dágua.<br />
- Em breve filha saberás controlar melhor teu corpo nesse plano paralelo...<br />
- Plano paralelo?<br />
- Isso filha, - disse-me ela com ternura - mas vou deixar que alguém em especial lhe explique melhor essa parte. - sorriu.<br />
Vi a Danra se afastando enquanto me banhava de incertezas. Não sentia medo, sentia algo forte em meu peito, como se fosse explodir, uma empolgação crescente...<br />
- <i>Filhas... - </i>disse uma voz em minha cabeca. Assustei salteada. Olhei pra saíra e ela estava assim como eu.<br />
- Ouviu aquilo Saíra?<br />
- Ué, você ouviu também?<br />
- <i>Minhas pequenas, és chegado a hora da lição de vocês. Se aproximem...</i><br />
- Saíra, olhe! - apontei mais a frente. - É Kananciuê?<br />
Saíra notou que todas as índias já estavam sentadas em volta de um velho índio que trajava uma roupa altiva e clara. Dele emanava uma tênue claridade.<br />
- Nossa Natasha, estão todas lá... - disse me puxando pela mão - Vamos logo!<br />
Fui sendo levada pela mão macia e suave de Saíra, ambas corríamos leves, como se pudéssemos voar. Ver e estar ali, naquele lugar tão único me deixava aliviada e feliz. Por um momento me lembrei da aldeia onde meu corpo dormia. Lembrei-me de Ceci, lembrei-me de Moara. Naquele momento meu peito arfou, não gostei de ter lembrado daquela... senti que aos poucos eu fui mudando, a áurea que me envolvia, antes leve, pesou um pouco.<br />
- NATASHA! - berrou saíra do meu lado.<br />
- O que foi?<br />
Quando soltei a mão de Saíra percebi que eu não estava mais como ela, clara e irradiante. Olhei apreensiva para Kananciuê e ele me fitava com ternura enquanto as outras índias pareciam não me ver mais. De repente tudo rodopiou e meu corpo se fechou pesado. Voltei a sentir a mesma sensação do corpo físico. Senti frio e tive medo.<br />
"<i> O que eu fiz.... O QUE EU FIZ!?" </i>Me perguntava enquanto regressava repentina a meu corpo inerte e frio. Logo a sensação voltou. Raiva, ódio, e inconformação!<br />
- Nao quero voltar, NÃO QUERO VOLTAR!!!!<br />
Abri meus olhos físicos e notei que algumas índias caminhavam na maloca escura enquanto outras ainda doormiam no chão, provavelmente as que estavam no outro plano.<br />
- Voltei... - falei decepcionada .<br />
Não consigo explicar a sensação que senti naquele momento. Não sei se foi impotência, desilusão, agonia... Por uns segundos, que para mim, naquele momento, foram horas. Chorei sem uma lagrima derramar. Foi o mais doloroso dos choros... Parecia que minha alma se debandava em lagrimas. Foi horrível!!!!<br />
Fiquei sentada, encostada em uma tora de madeira ate ouvi os primeiros cantos dos pássaros. Eu senti, minuto por minuto, segundo por segundo o tempo rindo de mim. As índias que estavam acordadas foram a muito liberadas para suas malocas, ficando apenas as que dormiam e eu...<br />
Meu rosto sem expressão fitava sem vida um horizonte que não estava ali, que me baniu apenas por sentir o que sinto, o que eu sou por natureza... Aqueles últimos momentos estavam sendo os piores! Eu me martirizava me apunhalando, me sufocando, me agonizando. Ninguém era responsável por eu não ter conseguido, a não ser eu. Nem Moara teve, por mais que eu a quisesse morta, ela não teve culpa...<br />
O dia raiou, os caciques que ficavam na porta saíram, deixando a entrada da maloca aberta. E eu sai, sem vida...<br />
<br />
<br />
... Continua.<br />
<br />
<br />
M. Lmaurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-47410889055077798882015-05-12T12:18:00.000-07:002015-05-12T12:18:07.457-07:00 P<span style="font-size: large;">essoal, nossa história estará voltando com tudo .</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"> Estive fora por uns tempos, mas agora estou voltando para postar os novos capítulos ...</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"> Att, </span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"> M. L.</span>maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-65649431468482060732014-06-30T17:50:00.003-07:002017-06-24T18:00:50.236-07:00Pagina 17 Quando a luz vence as trevas Fechei os olhos do corpo e abri os olhos da alma em seguida. Tudo foi muito rápido e fácil, aos poucos eu ia me acostumando com tudo aquilo. Estava até gostando disso tudo, pensava.<br />
Estava agora em um lugar totalmente escuro, o ar era úmido e morno, o chão meio escorregadio e frio. Caminhei alguns passos tateando o nada tentando encontrar ao menos uma parede ou algo a que me apoiar, mas parecia que estava no centro do nada. Fiquei assim por algum tempo caminhando de olhos bem abertos e sem nada ver, apenas as trevas de meus próprios pensamentos. Senti minhas pálpebras pesadas com tamanha escuridão. Então ouvi um barulhinho. Parecia uma gota d'água pingando em algo. Me virei para um dos lados do breu e continuei ouvindo. Estava bem a minha direita, e muito perto por sinal. Segui para lá. Então o som parou... pisei o chão e ele estava molhado, era ali que estava pingando, mas onde? Agachei para sentir a água e então uma gota desceu pelos meus cabelos. Pus a mão e senti a gota tocando minha cabeça. Levantei, dei um passo pra trás e tentei pegar as gotas em minhas mãos, eu não sentia sede, mas aquilo me despertou tal sentido. Esperava encher uma pocinha em minhas mãos para beber quando ouvir um grito bem longe. Olhei tentando achar a direção de onde vinha. A voz me era familiar. <i>Ceci? </i>pensei. <i>Onde?</i> Me virei pro breu atrás de mim e a voz sumiu. Vi com clareza um pontinho brilhante lá longe. Meus olhos, engraçadamente, se espremeram quando foquei na luz. <i>Quanto tempo estava ali? </i>Pensei deixando a água de minhas mão caírem como se nunca tivesse tentado pega-las para beber. Era engraçado estar ali, em meus próprios pensamentos, parecia não haver nem tempo nem espaço! Cocei meus olhos e segui rumo a luz distante.<br />
Caminhei sentindo que ela aos poucos crescia, parecia proposital tudo aquilo, certamente era para que me acostumasse com a claridade. Continuei. Logo conseguia distinguir o que estava do outro lado da luz, era na verdade a entrada... ou saída de onde eu estava. A medida que me aproximava, sentia a luz tomando conta de meu ser, somente mais próximo pude notar que estava numa caverna, pois as paredes próximas a saída estavam bem iluminadas. Vi então alguém passando correndo do lado de fora. Parei. Outra pessoa passou. Foi tão rápido que não deu para distinguir quem ou o que era. Continuei seguindo. <i>Quem poderia ser? </i>Pensava enquanto me aproximava cada vez mais. Ouvi algumas risadas alegres que logo paravam. Pareciam se divertir. <i>Quem estaria lá?</i> Tudo aquilo foi logo me dando uma grande agonia, pois por mais que eu caminhasse mais distante parecia que estava de sair dali. Chegou um momento que eu comecei a correr e a distancia parecia sempre a mesma. Eu começava a suar e agoniar. Os minutos, ou segundos, ou sei lá o que, pareciam congelados. Eu já não sabia mais quanto tempo estava ali, e isso ia me dando uma revolta muito grande! Minha mente projetava todos os xingamentos que eu conhecia, só os piores enquanto as vozes continuavam sorrindo alegremente. Corri mais um pouco e parecia continuar no mesmo lugar. Xinguei espremendo meus dedos.<br />
<i>"Calma filha... -</i> disse de repente aquela voz que sempre me amolecia de tanta ternura - <i>queira sair de dentro de ti filha. Ainda estás presa dentro de vós mesma... deseje sair, pois essas trevas nada mais são que sua própria mente..."</i><br />
<i> - </i>Yakecan? Perguntei abrindo um sorrisinho.<br />
<i>"Sim filha..."</i><br />
<i> </i>Lembrei na hora de Ceci, quando me fez sentir certa inveja por ele estar lá sempre com ela, <i>aparecendo </i>pra ela, e pra mim só de vez em quando...<br />
<i>"Todos podem me ver - </i>disse-me lendo meus pensamentos - <i>não há mistérios nos mundos além dos vossos, há apenas frequência e consciência diferentes. Estamos trabalhando para que esses fenômenos se torne para vós mais habituais..."</i><br />
<i> </i>- Senhor, mas como eu posso vê-lo?<br />
<i>"Queira filha... assim como tens que querer sair dai..."</i><br />
<i> </i>Parei para pensar enquanto fitava a saída da caverna. Eu queria vê-lo, era fato. Queria mostrar pra mim mesma que eu era capaz disso. Comecei então a dizer pra mim: Quero vê-lo, quero vê-lo, quero vê-lo... enquanto forçava em minha mente sua figura, mas nada acontecia. Simplesmente nada!!! Aquilo foi logo me tirando do sério, pensei em Ceci. <i>Pra ela, ele certamente apareceria!!!</i><br />
<i> "Mude seus pensamentos filha - </i>disse-me tão próximo a mim como se estivesse ao meu lado - <i>a sua vontade tem que ser maior que a sua vontade de ser... Faça dessa experiência o seu fôlego de sobrevivência, a chama que ilumina sua escuridão. Queira filha, não apenas para mostrar a si mesma ou para outros que és capaz, essa vontade e pensamento nada mais faz do que te prender em seus próprios defeitos. As coisas são simples, assim como és simples nosso pai e criador que estais nos céus... veja, - </i>disse com a voz calma como um rio cristalino e límpida quanto o sol - <i>pense em um botão de rosas, - </i>parou por um segundo - <i>não é necessário muita força para fazê-lo brotar, ele simplesmente brota e nasce, por que é de sua natureza esse fenômeno, assim sois vós minha filha, uma alma livre, capaz de percorrer mundos que sua vivência atual jamais poderia lhe mostrar, apenas deixe que sua vontade seja tão grande quanto sua fé fazendo emanar de seu íntimo a força absoluta necessária para esse aprendizado..."</i><br />
<i> </i>Eu não entendia muito o que ele dizia, falava sempre difícil, geralmente me perdia nas primeiras explicações dos fatos, mas de forma estranha suas palavras abriam portas ocultas em minha mente, minha vontade e fé começavam a crescer sem que eu as forçasse muito. Tudo aquilo que presenciava era fruto de que é possível se viver em dois mundos ao mesmo tempo. Eu era capaz, e a prova estava ali, a minha frente, era só estender as mãos! Aquele mundo obscuro, cheio de incerteza, era na verdade minha mente vazia e danosa, e a frente existia a possibilidade, a realidade, a luz, onde pessoas transitavam felizes por ter transpassado pela etapa que eu estava tentando transpassar. Eu quis sair dali, dessa vez não para mostrar para alguém ou para mim que era capaz, mas sim por que eu queria sair, era direito meu estar ali correndo feliz, era direito meu deixar as trevas e adentrar a luz. Era direito meu!<br />
Quando dei por mim estava envolta pela magnanimidade daquele lugar, sentia às minhas costas a boca escura da caverna, mas eu mesma não estava mais lá. Estava agora do lado de fora! Respirando de forma lenta e prazerosa aquele ar fresco e matinal. Tudo aquilo era divino de mais, era como dizia as lendas sobre os vales verdes distantes, como se Tupã estivesse ali entre nós, me abraçando, me acolhendo... Lagrimas desceram de meus olhos enquanto via as poucas meninas correndo entre as arvores verdes e copulosas, enquanto me encantava com o vento de prata que cortava o horizonte refletindo o céu azul angelical. Caí de joelhos tapando meu rosto, sentindo transbordar em mim todo aquele amor, toda aquela paz, toda aquela plenitude que nunca sentira enquanto caminhava em meu corpo normal.<br />
- Aqui só é permitido chorar se for de felicidade - disse a Danra de repente bem a minha frente. Senti sua voz nítida e cristalina.<br />
Olhei para cima e encarei seus olhos negros que me fitavam com tamanha ternura. Levantei num impulso e a abracei. Sentia verdadeira saudades de minha mãe, e poder tê-la ali, era para mim motivo de prazerosa felicidade. Chorei enquanto ela acariciava minhas madeixas soltas e negras. Ela continuou:<br />
- Deixe filha, que saia tudo! Tudo o que estiver bloqueando suas emoções... filha... aqui só poderás ficar se estiver pura e pronta para as lições espirituais...<br />
Não sei o que acontecia comigo, eu chorava sem parar, em minha mente tudo o que já tinha sentido e passado caía por terra como uma tora de arvore sendo derrubada por braços fortes.<br />
- Por que Danra... porque estou assim? - Era a unica coisa que conseguia falar.<br />
- Estas em fase de aprendizado ainda querida - disse-me com a voz calma e suave - deixe que o seu processo seja o mais natural possível...<br />
Então alguém me chamou:<br />
- Natasha? - Olhei retirando do seio de minha mãe o rosto inchado e molhado, meus olhos certamente estavam pequenos e vermelhos. Tentei focar em quem me chamava, mas apenas vi uma jovem como eu se aproximando.<br />
- <i>Saíra? </i>Perguntei.<br />
Saíra se aproximava tão leve quanto o vento que soprava meus cabelos, sua fisionomia era totalmente diferente, ela estava linda com sua vestimenta amarelo ocre que descia até o chão. Seus cabelos soltos meneavam brilhantes como se refletissem, como se espelhassem o sol magnânimo sobre nós.<br />
- SAÍRA!! - gritei sem perceber.... alterando o tom em seguida - você está aqui também!!! Que legal!<br />
Corri para abraça-la e ela me retribuiu com muito amor, eu me estranhei fazendo aquilo, que lugar era esse para fazia mudar meus hábitos de forma tão rápida e tão profundamente? Eu, se estivesse em meu corpo de carne, certamente não a abraçaria, nem tão pouco a teria como melhores amigas. Mas ali, eramos como irmãs. Lembrei-me de Ceci, será que ela estaria ali também?<br />
- Vai descobrir, - disse a Danra como se lesse meus pensamentos.<br />
Olhei para trás e a vi sorrindo para mim, sequei meus olhos envergonhada e virei-me para Saíra, ela ia dizendo algo quando ambas vimos uma luz se projetando do céu e descendo até tocar o chão, esta estava um pouco longe de nós, lá em baixo aos pés da colina onde estavamos. Notei que as meninas se aproximavam da luz de forma harmoniosa, sentando ao seu redor.<br />
- Vamos? - Perguntou Saíra pegando minha mão.<br />
- Pra lá? - Perguntei.<br />
Ela assentiu com um sorriso angelical.<br />
- Vá filha, - disse a Danra se aproximando de nós - vocês despertaram de dentro para fora, agora receberão a verdadeira lição da alma...<br />
- Danra... <br />
Saíra me puxou e ambas descemos a colina em que estávamos. Íamos de encontro à luz. Meu coração se enchia mais e mais de bons sentimentos...<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-83348331938972249302014-06-26T10:46:00.000-07:002017-06-24T17:41:27.638-07:00Pagina 16 Finalmente Ceci Levantei empurrando todas as índias que me seguravam. Fiquei de pé, e encarei Ceci! Seus olhos ainda eram os mesmos olhos meigos e amorosos de antes. Vê-la viva a minha frente era para mim um momento de radiante felicidade, meu corpo ainda estava mole, acredito eu, por ter me debatido de mais. Essa ultima experiencia me foi, de certo modo, muito intensa. Ainda sentia o cheiro forte das aranhas, pareciam estar impregnado em mim. Ceci veio e segurou minha mão, me deu um sorriso aliviado e eu retribui abraçando-a. Nem sabia que gostava tanto dela assim!Mas a apertei forte ao peito, na verdade eu acho que estava muito carente, era isso! Todas as outras índias nos olhavam sem entender.<br />
- Ai Ceci... Que bom que está viva... - falei apertando-a ainda mais ao meu peito.<br />
- E não era para estar? - brincou ela retribuindo o abraço.<br />
Eu e Ceci sempre tivemos uma ligação muito forte, somos praticamente da mesma idade, separadas apenas por algumas luas. Nossos pais tem funções de importância na tribo e isso nos fazia <i>diferentes</i> dos demais. Sempre estávamos juntas, ou brincando ou conversando ou brigando, mas sempre juntas. Esses dias sem vê-la me deu um vazio muito forte. Era a única que me entendia, que me apoiava quando falava que queria ter a mesma liberdade que os homens de sair e caçar, essas coisas. Por que nunca fui a favor de ficar na aldeia para aprender a cozinhar e ser uma boa companheira. Nunca!<br />
Após abraça-la peguei em sua mão e a levei a um canto onde poderíamos estar em paz, sem olhos nos reprovando ou nos observando. Ceci veio, mas logo largou minha mão. A fitei rapidamente e notei seu semblante pesado. Queria saber de tudo o que tinha acontecido com ela, de tudo o que a fez se distanciar de mim. Sentamos no chão e nos apoiamos num dos troncos da Oca.<br />
- Ceci, tive um sonho muito estranho hoje... você estava...<br />
- Não foi um sonho Natasha - interrompeu-me ela me olhando nos olhos - e você sabe disso.<br />
- Sei?<br />
- Estamos sendo <i>todas </i>observadas, <i>todas...</i><br />
- Pois é... tem acontecido umas coisas estranhas mesmo, pelo menos comigo - falei enquanto desenhava com o dedo no chão - tive medo de me chamarem de... de... <i>padála.</i><br />
<i> - </i>Que isso!?Claro que não Natasha! - Exclamou me repreendendo - Tem acontecido muitas coias com todas nós. Por isso estamos em observação...<br />
- É fácil falar, não foi nas suas costas aqueles olhares de reprovação.<br />
- Eu fiquei seis luas desacordada Natasha. - disse ela tirando o olhar de mim e fitando o vazio. - vi muitas coisas, senti também muita coisa... ate me revoltei, mas voltei e compreendi que para haver mudanças em nos mesmas terão que haver as revoltas, os desconfortos, as visões. Precisa se deixar bagunçar para depois por as coisas no lugar, entende?<br />
Fiquei em silencio, não sabia o que falar, fechei meus olhos envergonhada.<br />
- Por isso sumiu né? - perguntei fitando o chão.<br />
- Sim...<br />
Paramos de falar por um instante. Cada uma presa dentro de seus próprios sentimentos. Ceci estava realmente diferente, realmente mudada. Madura. Seu olhar meigo era o mesmo, mas suas atitudes e sua voz eram mais firmes.<br />
- Nunca mais ache que está enlouquecendo, Natasha, pois não está! Todas nós estamos enfrentando uma barra muito grande por estar aqui.<br />
- Não acho! - falei encarando-a - Essas meninas tem a mesma cara desde o momento que estamos aqui. As únicas que vi mudando alguma coisa foram você e <i>Saíra...</i><br />
- Eu tenho falado pouco com Saíra, onde será que ela está? - perguntou Ceci tentando acha-la na penumbra.<br />
- Não sei. - respondi sem interesse.<br />
Fiquei um tempo pensando nas palestras que tivemos dentro de nossos pensamentos, no que vi, no que senti enquanto desenhava furtiva peixinhos no chão.<br />
- Ah sim! - falei de súbito - Tem também uma indiazinha que nunca tinha visto na aldeia que estava desperta comigo nas palestras que recebemos de Yakecan.<br />
- Seria a Aiyra? - pergunto-me Ceci.<br />
- <i>Ayra? </i>Não sei! - falei - nunca perguntei o nome dela!<br />
- Deve ser - disse Ceci voltando a me encarar - Ayira tem uma grande bagagem nas costas.<br />
- Bagagem?<br />
- Sim! Muitas responsabilidades para se fazer nesse mundo...<br />
- Como o que?<br />
- Ainda não sei... - disse focando o invisível novamente - Yakecan não falou muito.<br />
- <i>Yakecan? - </i>perguntei - você tem falado com ele?<br />
- Sim! - repondeu Ceci - ele tem sempre aparecido pra mim. Inclusive estava ao meu lado quando você despertou. Você não o viu?<br />
Senti, <i>sinceramente</i>, um pouquinho de inveja de Ceci, avergonhei-me e baixei o olhar.<br />
- <i>Não</i>...<br />
- Fique calma - disse ela ela tentando me animar - ele não aparece para todos ver. Só para alguns, mas...<br />
- Mas eu não pude ver, - interrompi - então isso que dizer que...<br />
- Não quer dizer nada Natasha... não é por que eu o vejo que sou melhor que você, apenas tenho a sensibilidade pra isso, nada mais!<br />
Parei um pouco pra pensar, e refletir. Ceci estava certa. Eu não o vi <i>naquele momento, </i>mas o tenho visto e sentido varias vezes em diversas ocasiões. Fiquei mais aliviada.<br />
Ficamos paradas sem falar por algum tempo, logo notei que Ceci ficava sonolenta e eu também, algumas das índias dormiam deitadas no chão. Sera que ia acontecer de novo? Que ia ser jogada a algum lugar desconhecido? Sera que iria para aquela floresta estranha novamente? Fiquei com medo, meu semblante certamente pesou. Olhei Ceci e ela já dormia encostada onde estava, e eu bocejava. Não ia relutar, pra onde for que fosse jogada eu iria, queria provar de mais e mais experiencias, aquilo tudo apesar de estranho era muito legal! pensei. Logo fechei os olhos do corpo e abri os olhos da alma, em algum lugar úmido e escuro...<br />
<br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-33325845858893388172014-06-23T12:29:00.002-07:002017-06-23T19:19:15.051-07:00Pagina 15 A Força Incontrolável "<i>Filha... - </i>falou a Danra, minha mãe - <i>Tens agora que encarar seu próprio medo e deixar fluir de você o que é de você..."</i><br />
<i> - </i>Danra! Do que está falando? - Perguntei. Houve outro barulho, dessa vez acima de nós. Olhei e vi um vulto passando.<br />
"<i>Todos temos uma força filha... todos temos nossos próprios poderes guardados no mais profundo consciente ... e é hora de conhecer os seus... desperte filha... Desperte!"</i><br />
<i> - </i>Não estou entendendo Danra! Que força? Que poder? Do que está falando?<br />
Outro barulho, dessa vez maior que os demais me fez saltar do chão. Eu naquele momento não sabia para onde olhar, meus olhos miravam a figura ímpar da Danra a minha frente, enquanto o medo me impedia de olhar para outras direções. Meu corpo vibrava, minhas pernas perdiam forças.<br />
<i>"Encare seus medos filha, e sentirá assim fluir de você a sua verdadeira força, a sua força Auí, Desperte Filha!"</i><br />
<i> -</i> Força Auí? - Perguntei quando um som rasgado ameaçou a cima de nós. Olhei para o alto temendo o que veria. Minhas mãos estavam fechadas e tremendo. As teias de aranha estavam espalhadas por todas as copas das arvores, haviam vultos gigantescos cruzando os galhos acima de nós.<br />
- DANRA! - Gritei dando um passo para trás.<br />
<i>"Sua mente filha, -</i> disse-me ela olhando me com aquele olhar terno que me amolecia - <i>acredite em você ... desperte o que há dentro de você, deixe que saia...</i><br />
<i> </i>Vi com clareza o vulto descendo por trás da Danra, minha mãe não se mexeu, era como se não estivesse vendo ou estivesse fora daquela realidade. Eu travei olhando as pernas enormes encostando no chão.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo4BaXc3sZW3swn3brGP7wA-tRuboTIUxyGiWYrcqMbDKPiKUdb7RZT7v82mF5G9gECNRlNAFSHf28uAs9MMnzD-5FUqd3bUXPNAP0Z8Dh26HAvhmFTmPyjE6k0Am8Sb64Pqbpmqq78N7Y/s1600/274733_Papel-de-Parede-Aranha-Gigante-Demons-Souls_2048x1536.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo4BaXc3sZW3swn3brGP7wA-tRuboTIUxyGiWYrcqMbDKPiKUdb7RZT7v82mF5G9gECNRlNAFSHf28uAs9MMnzD-5FUqd3bUXPNAP0Z8Dh26HAvhmFTmPyjE6k0Am8Sb64Pqbpmqq78N7Y/s1600/274733_Papel-de-Parede-Aranha-Gigante-Demons-Souls_2048x1536.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
- MÃE!!!!! - Urrei perdendo o equilibrio. Minhas mãos tremulas apontavam para atrás dela.<br />
Naquele momento o mundo parou. Como se tudo tivesse congelado, petrificado, nada mais pareceu existir. Ouvia apenas o som pesado e acelerado de minha respiração enquanto fitava os olhos ternos e piedosos de minha mãe que me encaravam como se esperasse algo de mim. Algo então saltou fazendo com que a Danra sumisse em um estalo de dedos, a ultima cena fixa naquele momento foi o de seus olhos me pedindo uma reação da qual eu não entendia ainda...<br />
A aranha gigante saltou atravessando onde minha mãe estava como se nunca estivesse ali. Despertei do transe caindo estupefata para trás. Encarei o monstro como uma criança encara seu maior pesadelo. Aquelas patas enormes e aqueles olhos que me encaravam me fizeram tremer de uma forma que nunca fizera antes. Gritei pondo as mãos em meus ouvidos e abracei minha perna. Nesse momento ouvi outro baque no chão, olhei pro lado e vi outra aranha vindo pelo meu lado direito. Não sei onde arrumei forças, mas saltei do chão e comecei a correr desesperada. Sentia as lagrimas descendo pelo meu rosto, mas minha agonia e medo não me fazia raciocinar por mim mesma. Olhei para cima enquanto corria e vi que outras duas aranhas preparavam para saltar no chão, olhei para trás de relance e vi que as outras duas estavam vindo com toda a velocidade, gritei enquanto pulava os troncos espalhado pelo chão. O cenário mudou novamente. Eu estava agora na mesma floresta de antes, seca, escura, opressa e abafada.<br />
Corri me jogando nas arvores enquanto duas aranhas vinham logo atras de mim. Havia milhares de troncos a minha frente e milhares de outros galhos jogados, eu tinha que fazer alguma coisa! Olhei para cima e vi com clareza outras duas aranhas descendo bem a minha frente. Me joguei no chão tomando o rumo pela direita, corri até encontrar algumas pedras enormes que serviriam para me esconder, antes de chegar um jato pregadiço atingiu as pedras antes mesmo de eu me esconder, saltei gritando e chorando. Outro jato atingiu a arvore que eu ia me apoiar para mudar de direção, olhei para trás e vi as quatro aranhas vindo trombando umas nas outras, havia acima delas cinco outras jorrando teia pegajosa para todos os lados. Continuei correndo até que despenquei numa ribanceira rolando ate o fundo. Havia ali vários galhos partidos, peguei um e continuei correndo. De repente saltaram três outras aranhas menores na minha frente, saltei a primeira , pisei a segunda e finquei o galho na terceira, elas caíram rosnando um som que nunca ouvira antes. Continuei correndo desenfreada, olhei de relance para trás e vi que duas delas subiam pelas arvores acima de mim, girei uma arvore e mudei de direção, outras duas menores saltaram a minha frente, chutei uma, mas a outra saltou sobre o meu peito, gritei me jogando numa arvore, e a esmaguei e cai. Olhei para cima e uma das aranhas gigantes saltou sobre mim. Aquele foi o pior momento! Senti seu cheiro de mofo e sua textura úmida e fria. Me arrastei no chão fugindo de suas patas grandes e desengonçada. rolei pelo chão ate sair de baixo dela e continuei correndo, cinco jatos despencaram do céu vindo de todas as direções, corri tapando minha cabeça, saltei uma pedra a minha frente e peguei outro galho grande do chão, este pesava e joguei rumando na aranha que vinha a toda trombando nas arvores , olhei para frente e vi uma arvore gigante com uma abertura em seu tronco, tinha que ir pra lá! Continuei correndo enquanto chovia teia para todos os lados, algumas me pegavam e eu as puxava com as mãos, logo eu não sentia mais os meus dedos, mas continuava correndo. Quatro delas, do tamanho das minhas pernas, despencaram no chão, duas na minha frente e uma vindo de cada lado de mim, eu estava cercada! Uma saltou do chão pulando em minhas costas, outra sobre a minha cabeça enquanto outra sedava minhas pernas! Desequilibrei e tropecei numa pedra rolando para o buraco dentro da arvore.<br />
Não sei onde tirei forças ou coragem, mas saí dali com cinco pernas em cada mão e duas rasgadas e dilaceradas em minha boca, cuspi-las e continuei correndo. Outra aranha pularam em minhas costas, mas caíram, ficando pra trás. Virei de súbito para esquerda usando o chão como apoio no momento que uma aranha gigante caiu quase encima de mim, haviam mais aranhas gigantes, eu corria enquanto contava mais de três! Todas caminhavam pelos galhos grossos acima de mim. Eu corria sentindo minhas pernas e minhas forças se esgotando. Olhei para frente e vi uma ribanceira ingrime. EU TINHA QUE DESCER POR LÁ!! corri com tudo o que me restava. Olhei pro lado e vi que três delas vinham pela minha esquerdas, peguei no chão outra vara e continuei correndo. Outra rajada bateu no chão no momento em que ia fincar em uma aranha, saltei duas delas caindo em cima de mais duas, desequilibrei e caí rolando pela ribanceira, minha queda durou alguns segundo que pareceram horas. Bati o corpo numa pedra e minha cabeça quase numa arvore, senti o sangue descendo, olhei meio tonta para cima e vi uma avalanche de pernas descendo desenfreadas por onde desci. Levantei, pequei duas pedras e corri, olhei pra frente e vi um vulto branco cruzando umas das arvores a minha frente, meu coração foi a boca e voltou. Quem mais estaria aqui? Pensei enquanto rumava uma pedra em cheio numa aranha que descia por uma teia. Olhei para a direita não vi nada, olhei pra esquerda duas gigantes acabavam de descer no chão e vinha trombando uma na outra, o vulto reapareceu pela esquerda das aranhas, assustei, era uma menina menor que eu! Larguei as pedras no chão e corri sentido das aranhas, elas ergueram seus apêndices gigantes com as duas patas dianteiras como que fosse me pegar, prendi meu folego e me joguei rolando por baixo de uma delas, peguei uma vara no chão e finquei em seu abdomem. Ouvi seu urro agudo enquanto passava rolando pelo chão, me levantei e fui em direção ao vulto, ele estava parado me olhando. Aproximei quase sem folego parando sem acreditar. Era a Ceci, ela estava de alguma forma ali comigo.<br />
- CECI!!! Urrei para ela no momento que duas aranhas caíram sobre sua cabeça. Não sei onde consegui forças, mas naquele momento não vi mais nada, apenas ela tentando se livrar desesperada do ataque das aranhas. Voei sobre elas puxando pernas pra todo lado, peguei Ceci e joguei em minhas costas.<br />
- O QUE VOCÊ ESTA FAZENDO AQUI? - Perguntei quase sem folego.<br />
- Me ajude Natasha... Me ajude!!!<br />
Ver Ceci ali me deu animo para continuar, olhava para cima enquanto corria e via a enxurrada de aranhas se amontoando sobre as copas das arvores, eram centenas, milhares, perdi a conta. Dentre elas haviam dezenas de outras gigantes, contei cinco descendo por arvores imensas.<br />
Segurei os braços de Ceci em meu pescoço e corri as ultimas gotas de energia que tinha, minhas pernas cambaleavam, e o suor misturado com sangue descia pela minha cabeça despencando em gotas que ficavam para trás. Três outras aranhas saltaram sobre Ceci que gritou agoniada. Consegui tirar duas, a outra começou a tecer uma teia que adormecia sua pele, Ceci gritava e eu corria, outra aranha menor se jogou sobre meu peito e eu a esmaguei sem pensar, seu sangue grosso e fétido descia pelo meu peito me dando ânsia de vomito. Então ouvimos um som forte.<br />
- TA OUVINDO? - Perguntei pra Ceici.<br />
- SIM!!! Será o que estou pensando?<br />
- SIM, ACHO QUE SIM!!! - Disse entusiasmada.<br />
Parei atras de uma arvore imensa para tentar ouvir melhor o som, mas haviam sete aranhas vindo por baixo a minha cola.<br />
- É por ali! - disse Ceci apontando pra minha direita. Por sorte não havia aranha alguma por la. Apoiei Ceci melhor sobre mim e corri quase sem força alguma.<br />
- Vamos morrer... VAMOS MORRER!!!- Dizia Ceci olhando pra cima de nós. O numero de aranhas triplicou!<br />
- CALMA! ESTAMOS CHEGANDO.<br />
Corri até um espaço aberto que separava a floresta de uma fenda onde as águas de um rio forte despencava, era quase ensurdecedor ficar ali, quase não se ouvia os grunhos das aranhas. Ceci se animou e eu já não conseguia mais correr, meu coração parecia querer sair pela boca, minha respiração estava alta e minha boca seca demais. Olhei de relance onde estava as aranhas e vi um jato gigante saltado por uma aranha gigante. Tentei jogar Ceci pro lado para não atingi-la, mas foi tarde de mais, A aranha prendeu ela num emaranhado de fios pegajosos. Desesperei sem forças caindo no chão, olhei em volta e vi quinze delas descendo pela teia, outras cinco descendo pelas arvores mais próximas, e uma enxurrada de pequenos jatos se atirando por todo lado tentando me pegar. Uma aranha pegou Ceci, cortou a teia e subiu por cima das outras que desciam. Vi estupefata sua voz sumindo entre os grunhidos e o som estrondoso da cachoeira.<br />
- Ceci... CECI!!!!! - Urrei tentando me levantar, mas não consegui.<br />
De repente uma outra aranha abriu seus apêndices e fincou em Ceci que gritou agonizando, seu sangue descia pelo casulo que fora levada. Meu coração parou! Não sentia mais meu corpo, aquelas milhares de aranhas pareceu congelar-se para mim. Entrei num estado de ira e agonia que nunca sentira antes, meu corpo formigou de raiva, meus olhos se espremeram, minhas mãos tremeram de ódio! Ceci sumiu no emaranhado de pernas e eu me levantei leve muito leve, estava sem o domínio de mim, senti meus cabelos menear, minhas vestes vibrar, o chão tremeu abaixo de meus pés, as arvores que sustentavam as aranhas retorceram e uma raiz enorme subiu me erguendo do chão. Uma forca absurda emergiu de mim. Então o chão explodiu subindo centenas de milhares de raízes pontudas como lanças que voaram como hastes rígidas de baixo pra cima fincando em tudo que estava a frente. Então tudo se apagou, e eu cai desmaiada.<br />
Apaguei... não sei por quanto tempo... quando acordei, já estava em meu corpo de carne. Senti muitas mãos me segurando, muitas vozes me chamando, enquanto eu me debatia do retorno do transe. O que aconteceu comigo? O que foi aquilo? Ceci, CADE CECI!? Eu perguntava, mas ninguém respondia, as índias me encaravam na oca escura como que tentando entender, então vi que alguém se aproximou por trás delas, era Ceci, ela estava linda, toda de branco e rosto angelical... sorri aliviada e apaguei inconsciente, dessa vez sem lembrar de mais nada.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-55970013495595125452014-06-20T20:30:00.000-07:002014-06-20T20:30:19.402-07:00Pagina 14 Mundo Desconhecido Sentei-me no chão e encostei em um tronco qualquer. Tudo isso era muito novo pra mim, e eu tinha que me acostumar com a ideia de falar com minha mãe pelo pensamento.<br />
<i>- Será que eu consigo falar com todos da aldeia pelo pensamento? - </i>pensei. Acho que não!<br />
Continuei encostada enquanto minha mente vagava por todos os instantes que me fizeram chegar até ali. Meu pensamento voava enquanto eu me sentia cada vez mais e mais leve, aos poucos fui notando o quanto minhas pálpebras iam pesando, minhas pernas amolecendo... eu estava entrando em transe <i>novamente?</i> Travei. Abri meus olhos respirando fundo e pesado. Passei as mãos nos cabelos e procurei me acalmar: <i>- calma Natasha... calma... </i>pensava enquanto me recostava na arvore. <i>Vou deixar acontecer... dessa vez vou confiar no que ouvi da Danra... </i>Fechei os olhos e adormeci.<br />
Foi como das outras vezes, fechei os olhos do corpo e em seguida abri os olhos da alma. Logo de cara notei que não estava mais naquela floresta, o clima era totalmente diferente. O sol que meneava minha pele e iluminava as copas das arvores não existia mais, pelo menos ali onde eu estava. Olhei em volta e só vi escuridão... senti medo, me abracei!<br />
-<i> Que lugar é esse!? </i>Pensei enquanto arriscava alguns passos. Olhei para o alto e vi que o céu estava todo coberto por nuvens escuras e frias, elas se movimentavam lentamente como que trançadas umas nas outras, olhei mais na linha do horizonte e vi iluminado encoberto pelas nuvens, aquilo provavelmente era a lua pensei...<br />
Passados alguns minutos e eu já ia criando confiança. Soltei os braços, olhei a frente com o queixo mais erguido, respirei fundo e caminhei alguns passos com mais confiança. <i>O que poderia ter ali que fosse me fazer mal?</i> Pensava enquanto me encorajava. A minha frente havia uma colina que não era nem muito alta, mas também não era muito baixa, de cara pensei em subir-la, provavelmente de lá de cima conseguiria ver melhor onde eu estava. Fui subindo cada vez mais confiante na certeza de reconhecer melhor o lugar até chegar o cume. Cheguei! Logo notei que havia algumas arvores bem distantes, quase imperceptível devido a penumbra do lugar.<br />
- Meu Deus que lugar enorme...! - Falei para mim mesma. - Onde será que estou?<br />
Olhei para baixo e vi que havia uma trilha que dava a um arvoredo aos pés da colina, esse arvoredo se juntava a outras arvores que eu não havia notado ainda. Era definitivamente um lugar muito estranho e sombrio. Eu estava ali por algum motivo, então teria que explorar o ambiente. Desci pela trilha.<br />
Caminhava sentindo sob meus pés a grama fria e as varias pedrinhas jogadas no caminho, vez ou outra encontrava um galho seco que eu chutava. Não demorou e eu cheguei nas arvores baixas, toquei seus troncos como que acariciasse um animal de estimação, aquilo estranhamente me reconfortava. Olhei em volta e vi que havia varias delas: Araçás, Aroeiras, Capororocas, Caviúnas... todas misturadas. Ali eu me senti em casa, então caminhei com mais confiança. Fiquei ali por alguns minutos e segui saindo daquele amontoado de arvores, olhei à frente e vi um grande campo aberto, toquei com os pés o gramado escuro e senti sua textura áspera, agachei tocando o chão e estranhamente senti uma conexão muito forte com aquilo tudo. Acariciei o mato baixo como se intimamente fossemos um só. Estranhei. Levantei e segui.<br />
Caminhei sentindo o vento frio começando a soprar, gostei da sensação de senti-lo tocando minha pele e meneando meus cabelos, senti liberdade para arriscar uma corrida e assim o fiz. Era gostoso sentir o ar frio tocando meu rosto enquanto minhas vestes cantavam sacudindo ao vento que se intensificava. Olhei para cima e notei que o clima começava a mudar, parecia que logo iria chover... estranho, pois não estava assim antes! Eu tinha que me esconder, as nuvens pareciam mais próximas como se quisessem entrar uma na outra. O vento lá em cima definitivamente não estava tão gostoso quanto este que eu sentia em minha pele. Acelerei o passo para atravessar logo aquele campo aberto que parecia interminável. Eu corria me sentindo cada vez mais leve, como se pudesse voar por aquele campo, era aquela uma sensação de liberdade que eu nunca experimentara, nunca pude ter, eu estava amando estar ali. Logo senti uma gota fria tocando minha testa, olhei novamente pra cima e vi milhares de outras gotinhas descendo como uma torrente incontrolável da chuva. Eu acelerei ainda mais e cheguei abaixo de algumas araucárias que pareciam querer me proteger. Abracei-me a elas e fiquei ali contemplando a chuva que caía pesada. O som da água tocando o chão era musica para meus ouvidos.<br />
- <i>Será isso tudo um sonho? Mas não é possível, é muito real!!</i> - Me perguntei enquanto olhava maravilhada aquela chuva repentina. Olhava admirada as gotas que desciam, elas tinham uma tonalidade prateada lindíssima que nunca vira antes, olhei para o largo tapete gramado e fui notando que a chuva tingia a grama com milhares de pontinhos prateados brilhantes. Fiquei ali até que quase todo o gramado tivesse modificado a sua cor triste, eu logo me vi na vontade de continuar seguindo.<br />
Eu pensava mil coisas sobre tudo isso enquanto me abraçava ao tronco da arvore. Girei um pouco e notei que atrás de mim havia uma floresta cheia de arvores retorcidas e escuras. Senti, sem explicação, uma pontada forte em meu peito. Era exatamente o oposto do que eu presenciara a pouco. Era escura, fria, temerosa... não sabia se queria entrar. Olhei novamente para trás e vi que a chuva havia parado, e os milhares de pontinhos brilhantes haviam simplesmente desaparecido. Virei novamente para a floresta e a encarei. Fiquei ali não soube por quanto tempo... mas foi o tempo suficiente para me decidir e entrar!<br />
Quando atravessei as primeiras arvores retorcidas a sensação que tive era a de estar entrando em uma estufa. Olhei para trás e o campo aberto havia desaparecido. A floresta me cercara por todos os lados como que se tivesse vida própria. Pensei em gritar, mas me segurei. Novamente agachei tocando o chão frio. Tinha que busca conforto em algo e achei, aquilo, o solo, o chão, a grama definitivamente me reconfortava dando-me mais força. Ergui-me mais confiante e prossegui. Andei desviando dos troncos enquanto sentia que o chão ia se tornando mais e mais úmido. Como se eu estivesse entrando num mangue. Um pouco mais a frente as arvores pareciam ter nojo de tocar o chão, e suas raízes protuberantes erguiam-se do chão formando arcos enormes que se estendiam por toda parte. Me senti ali mais perdida e sem esperança. Olhei para um lado, olhei pro outro e tudo estava igual. Como se eu pisasse num mangue infindável.<br />
- Preciso sair daqui... - falei enquanto subia em uma raiz protuberante - vou ter que seguir por cima, em baixo é impossível...<br />
Caminhei pelas raízes tentando me equilibrar nas arvores, aos poucos fui notando que o mangue ia ficando para trás e logo eu estava liberta daquela emaranhado. Segui assim por vários minutos até que saltei da ultima raiz caindo direto no chão seco e frio. Olhei pra trás e não vi mais o mangue, a floresta se mostrava agora uniforme, complexa e densa. Puxei o ar e ele me faltou. Comecei a sentir medo, olhei tudo em volta e senti que os troncos retorcidos e os galhos antigos daquele lugar caminhavam em minha direção, como se quisesse me sufocar! <i>Eu tinha que sair dali, mas como!?</i> Toquei o tronco de uma arvore tentando me reconfortar, e senti medo. Olhei para os lados e parecia que havia olhos, vários olhos me observando. Tentei vê-los, mas não consegui... eu os sentia, mas não os via. Larguei a arvore e segui apressada e sem olhar para trás. Entrei numa trilha que descia por uma ladeira cheia de pequenas pedras na qual eu me apoiava até chegar na parte mais plana. Lá embaixo notei que as arvores agora estavam mais distante uma das outras, olhei para cima e notei admirada de suas copas, pois eram tão densas e espaças que tapavam quase que por completo o céu escuro. Havia naquele lugar milhares de filetes prateados que desciam das brechas que encontravam entre os galhos e folhas altos, a lua acima parecia ter se mostrado para refletir tantos filetes de prata. Mas eu não podia vêla.<br />
Continuei seguindo admirando tudo aquilo, ali o clima não era o mesmo, não era nem um pouco abafado, ao contrário, era leve e prazeroso... havia um leve cheiro de jasmim. Segui por alguns minutos aproveitando e gozando da liberdade, mas logo isso mudou. Estranhamente senti aquela mesma sensação de que estivesse sendo vigiada. Olhei para trás e não vi nada, olhei para os lados e também não vi nada, ninguém, nem tão pouco vulto algum. Então corri, corri não sei por quanto tempo ziguezagueando os grandes troncos das araucárias e saltando alguns seixos de pedra jogados no chão. Logo percebi que o cenário mudara de novo. Estava agora perto de um salão enorme cercado por troncos e galhos velhos e retorcidos, eles se trançavam tão perfeitamente que pareciam não ter sido feito pela natureza. Os filetes de prata preenchiam o ambiente dando uma sensação mórbida ao lugar. Eu olhava estupefata tudo aquilo. Naquele momento notei alguma movimentação nos galhos altos mais a frente, titubeei alguns passos e foquei o olhar tentando enxergar o que era. Vi então que algo descia do alto por uma fina teia semi-transparente, fiquei encarando aquilo até que a coisa sumisse no chão. Eu não consegui identificar o que era, então fui até la para certificar. Caminhei em direção aquilo tentando o máximo identificar antes de toca-lo. Não consegui. Aproximei e o peguei em minhas mãos notando que era uma teia de aranha, firme e pegajosa. Olhei para cima e vi que havia varias outras teias, na verdade pareciam redes enormes espalhada por toda parte. Ouvi então um barulho atras de mim. Travei. Virei abrupta e dei um grito!<br />
- DANRA!?<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-36960440135558573112014-06-10T07:54:00.002-07:002014-06-10T07:54:46.264-07:00Pagina 13 O Poder do Pensamento Ali estava eu... sentada... inconsolada... chorando copiosamente! Não sabia definitivamente o que estava acontecendo comigo. Em minha mente vinha forte a palavra <i>padalá, padalá</i>... tinha medo que soubessem desses meus devaneios e me sacrificassem. Eu, naquele momento, não tinha chão, não tinha nada. Minhas mãos pingavam as lagrimas que desciam sem parar, meus soluços reverberavam por aquelas arvores velhas e por aqueles galhos...<br />
<i>"Levante-se! Erga sua cabeça e enfrente seu problema de frente!!!" </i>Disse me uma voz firme em minha cabeça. Eu nem me assustei, nem titubeei, apenas respondi em voz chorosa.<br />
- Como me levantar? Todos vão me olhar com aquele olhar...<br />
"<i>Deves ser mais forte do isso filha, tens que vencer essa etapa para conhecer te a ti mesmo..."</i><br />
<i> - </i>Eu não consigo... NÃO CONSIGO!!!!!<br />
<i>"O medo filha, és algo que estás em sua mente... sejas mais forte... enfrente-o!"</i><br />
<i> - </i>Como enfrentar isso? - Perguntei erguendo minha cabeça e olhando para o nada - Se eu mesma não entendo o que está acontecendo? Voltei a chorar...<br />
<i>"Por que choras filha?" </i>Perguntou-me uma outra voz em minha mente, dessa vez mais suave e amorosa. Aquela altura eu já não distinguia o que era físico ou etérico.<br />
- Tenho medo...<br />
<i>"Medo? Mas de quê filha?"</i><br />
- Sou uma padalá... UMA PADALÁ!!! VOCÊS ENTENDEM O QUE É ISSO!? - Urrei mirando pra qualquer lugar.<br />
<i>"E não são os padalas filhos de Deus também? Não tem eles seus direitos? Filha... não existe ninguém louco nesse mundo, existe pessoas que enxergam realidades diferentes de outras... tudo é questão de sintonização..."</i><br />
<i> </i>Parei para pensar. Apoiei meu rosto nas mãos, movi meus olhos inchados de uma pedra a outra, e voltei a chorar.<br />
- Você não entente!!! NINGUÉM ME ENTENDE!!!<br />
<i>"Enquanto continuar agindo assim só atrairá mais desgraça para perto de você filha..."</i><br />
<i> -</i>Palavras... palavras... elas não salvam ninguém... - a essas horas eu estava emocionalmente descontrolada, irredutível - é muito bonito ouvir palavras que fortalecem nosso coração, mas elas se vão, se perdem... como um beju na boca que some deixando apenas o sabor e a lembrança.<br />
<i>"Seus pensamentos são o reflexo do que vós quer que seja atraído para vós filha... - </i>dizia a voz paciente e amorosa - "<i>ninguém nunca lhe disse que seria fácil, nunca é fácil para quem foi escolhido filha... por esse motivo estás em observação, para que aprenda a lidar com o que lhe está acontecendo."</i><br />
<i> - </i>COMO EU POSSO LIDAR COM ISSO!!? - Explodi me contendo em seguida. - Todos riem de mim, todos torcem o nariz pra mim, ninguém vem ter comigo, eu sou uma miserável, nem meus pais querem saber o que eu faço, ou o que eu penso... se tu es tão sábio assim, me diga... ONDE ESTÁ MINHA MÃE E MEU PAI? ONDE ESTÁ ALGUÉM QUE POSSA OU QUEIRA ME OUVIR OU ME AJUDAR!!!<br />
<i>"Filha, as lágrimas que descem de vosso rosto são gotas necessárias para umedecer o chão seco de vossas próprias atitudes. Nesse mundo que vives os testes são constantes, para que cresça e aprenda a ser mais forte e gentil... como queres conhecer os segredos dos céus se o seu maior tesouro que és o seu coração se encontra escuro e seguro em uma caixa intransponível?"</i><br />
<i> - </i>Não sei do que está falando... não entendo direito o que isso quer dizer... sou uma miserável, isso sim!<br />
<i>"Filha, nunca mais afirme aquilo que não queres que nasça sob seus pés! Semeie apenas coisas boas, vibre e pense apenas coisas boas para que o seu chão se torne fértil e a sua colheita segura e farta..."</i><br />
<i> - </i>Por favor... me deixe ficar só... - disse eu pondo as mãos em meu rosto desconsoladamente - eu preciso pensar um pouco... não está sendo nada fácil para mim...<br />
<i>"Percebes o quanto se apega no problema e esquece-te da solução? - </i>disse a voz acentuando seu timbre grave e aveludado - <i>Mas sim filha, este é o teu momento, saberei respeitar..."</i><br />
<i> </i>Naquele momento me senti pior que quando cheguei. Senti um vazio tomando de conta de mim como um véu faminto a devorar todas as coisas. Chorei... chorei por horas a fim até que adormeci. Naquele momento tudo pareceu mais calmo, pois novamente, assim que encerrei os olhos de meu corpo abri os olhos da alma e vi com bastante nitidez um mundo que desconhecia, que era novo, e que estranhamente me abraçava ao peito.<br />
Eu estava em pé sobre uma colina verde esmeralda, o céu tinha uma coloração mais acentuada da que costumeiramente veia, não havia nuvens ou sol, mas sua luminosidade estranhamente não deixava sombra alguma, mesmo sob as arvores que remontavam aquelas colinas. Caminhei muito lentamente, aquele mundo verde, por mais lindo que fosse, não me trazia a paz de espirito que precisava. Caminhei até uma arvore próxima e me recostei. Não tinha forças mais para chorar, apenas encostei meu corpo no tronco e fitei o horizonte sem expectativa alguma. Fiquei ali por um tempo que não soube contar, apenas fitando e me recompondo. Aos poucos fui sentindo minhas forças voltando, meu ânimo renascendo... abracei minhas pernas e encostei meu queixo nos joelhos...<br />
- <i>Onde eu será que estou?</i> Pensei furtivamente.<br />
"Estais em seus pensamentos filha..." Respondeu-me uma voz feminina. Eu assustei erguendo minha cabeça... eu olhei para todas as direções:<br />
- Quem está ai? - Perguntei tentando ouvir a resposta - Danra? É você?<br />
"Sim filha, - disse a voz segura e límpida - sou eu... - Ela surgiu por de trás de mim.<br />
Eu a olhei admirada, pois estava linda, divina, reluzente!<br />
- MÃE!!!<br />
Saltei do chão e voei abraçando-a. Tinha tanta saudade em meus braços que chegava a tremer, eu voltei a chorar, só que dessa vez não de tristeza, e sim de felicidade... aquela felicidade que você chora sem motivo, apenas chora...<br />
"Não me chamou filha? E aqui eu estou..."<br />
- Mas como? Como soube? Quem te falou? Perguntava ansiosa e feliz.<br />
"Filha, - disse a Danra acariciando meus cabelos - quando entenderes as maravilhas do poder de teus pensamentos tudo poderás ter, tudo poderás entender..."<br />
- Vocês falam de um jeito que eu não entendendo... é complicado sabia?<br />
"Sim filha, - disse me ela dando um pequeno beijo em minha cabeça - o seu presente foi o meu passado, e eu superei, e tenho total confiança de que também entenderá, tens apenas que ter paciência...<br />
Parei para pensar... as palavras da Danra minha mãe eram muito parecidas com as palavras que eu ouvira da voz misteriosa...<br />
- Mas... mas o que eu tenho que fazer então? Perguntei erguendo minha cabeça e a encarando. Notei então seu olhar gentil e piedoso que acariciava meu coração dando-me uma vontade incrível de fazer diferente.<br />
" Tens que ter paciencia e acreditar no que estas recebendo. - Ela parou e fitou-me nos olhos, parecia olhar inteiramente meu ser, inteiramente meus medos... - Volte agora para teu corpo e revista-te de confiança, logo as tentativas de despertar de Yakecan se cessarão, e só restará aquelas que estiverem despertas conscientemente em ambos os planos do pensamento: O consciente e o subconsciente..."<br />
Parei para refletir suas palavras, por uns segundos senti uma nova chama se ascender em mim, uma nova esperança germinar no solo seco que eu cultivava... senti medo... medo de fracassar, pois conhecia minha personalidade, sabia que não seria fácil...<br />
Consenti com a cabeça e senti tudo revirá, e sem que percebesse fechei os olhos da alma e abri os olhos de meu corpo físico. Tudo estava vivo e belo, notei os cantos dos pássaros mais nítidos e o farfalhar das arvores mais harmoniosos. Eu me sentia mais preparada, mais firme. Levantei-me, sacudi minhas vestes e segui... confiante!<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-77555306674260982442014-06-09T08:30:00.000-07:002014-06-09T08:30:40.651-07:00Pagina 12 Preto no Branco Abri meus olhos físicos com algumas lágrimas que desciam desenhando meu rosto. Eu definitivamente não queria levantar, queria fica ali... deitada... curtindo essas grandes experiencias que estão de fato me transformando por dentro. Olhei para cima, e notei que o céu azul já nos abraçava com sua tonalidade majestosa, fiquei ali pensando em tudo o que Yakecan dissera... meus olhos pareciam não me obedecer, e meus sentimentos pareciam ter vida própria, estava difícil controlar esses sentimentos. Passei então as mãos nos olhos e sentei. Olhei para a entrada da oca e novamente não vi os caciques, passei o olho na penumbra que ainda cobria aqui dentro e não vi mais nenhuma das índias. <i>Eu sempre era a ultima a voltar?</i> Pensei enquanto me levantava. Arrumei meus cabelos, joguei-os para trás e segui...<br />
O dia estava realmente lindo... levei algum tempo para me acostumar com a luminosidade, mas logo segui sob o sol que começava a sair por de trás das arvores. Lembrei-me da Danra e de papai, precisava vê-los de algumas forma... fui pra nossa oca. Enquanto caminhava notava que alguns irmãos nossos de tribo me olhava admirados, outros torciam o nariz pra mim. DEFINITIVAMENTE EU GOSTARIA DE SABER O PORQUE!! Minha vontade era de ir lá e perguntar, mas não... <i>eu me contive</i> e segui, também sem olhar na cara deles... Cheguei na oca, entrei. Olhei pensando ver a Danra ou papai, mas novamente estava vazia. Senti um desgosto tomar conta de mim e a ira tocando me profundamente. Procurei logo me conter, respirei algumas vezes puxando o máximo de ar que conseguia... não podia deixar que isso jogasse a baixo tudo o que eu estou conquistando.<br />
- Tudo bem... tudo bem... - dizia eu para mim mesma - eles vão aparecer em algum momento e tudo voltará ao normal...<br />
Ouvi um ronco e percebi que estava com fome, MUITA FOME na verdade. Precisava comer algo urgente, pensei em voltar à floresta e procurar algo para comer, mas não... talvez haja um pouco de niguara para comer. Saí da oca e dei a volta por trás para procurar. Achei as toras de pau, onde cozinhamos nosso niguara, queimada. Toquei e vi que foi recentemente usada. olhei ao lado e encontrei uma cuia cheia de niguara e outras duas com beju e alguns peixes recém caçados. O bom era que estava frescos e recém cozinhados. Comi tudo em minutos, parecia que eu não comia a anos. Me senti satisfeita, precisava agora de um banho. Pensei. E segui para o rio...<br />
Atravessei a aldeia, cheguei na saraboya que dava para o rio e a trilhei. Logo já podia sentir a brisa gelada natural que emanava do rio caudaloso. Era realmente uma delicia sentir aquilo, me fazia transportar para mundos distantes... era o único lugar que eu poderia passar horas meditando.<br />
Antes de chegar ao rio eu parei, pois ouvi algumas risadas que vinham do rio, eram altas e pareciam muito bem humoradas. Quase que por extinto meus lábios se contorceram... <i>pensei que estaria sozinha! </i>pensei comigo, mas terei companhia, enfim... continuei até chegar no rio. Para minha surpresa notei que eram quase todas as índias que estavam comigo na oca, senti-me aliviada. Logo abri um sorrisão e entrei com elas. Aquela manhã, para mim, foi maravilhosa... estávamos todas nós, nos divertindo, jogando água umas nas outras, nadando, pulando, afundando, cantando e até brigando, porque eu né... se não houvesse uma briguinha não seria eu! Sorri.<br />
Ficamos assim nem sei por quanto tempo, alguns jovens índios se aproximavam, mas respeitosamente se afastavam, pois notaram que ali só haviam meninas. <i>Adorava isso</i>! Pensei. Depois de algumas horas me contive somente a observar os grupinhos que se formavam, fiquei com o corpo submerso apenas deixando para fora meus olhos e nariz. Ali pude notar que algumas das meninas se juntavam para conversar animadamente. Confesso que senti um dedinho de inveja... quem queria conversar comigo? Olhei pros lados e logo cheguei a conclusão... NIGUÉM! Mergulhei chateada, enfim... eu tinha que me acostumar...<br />
Fui até o fundo do rio, puxei um punhadinho de areia e subi deixando que elas se desfizessem das minhas mãos. Adorava essa sensação, era reconfortante... Subi para a superfície mais feliz. Chegando, notei um silencio abrupto no rio. Olhei pros lados e não vi nenhuma das índias. <i>Ué, para onde foram todas?</i>Pensei sem entender. Eu olhava inconformada para todas as direções e não via mais ninguém... não era possível que TODAS FORAM EMBORA E NEM ME ESPERARAM!!! Comecei a borbulhar de raiva, DE NOVO!!! Dessa vez não fiz o minimo esforço para me controlar, QUE COISA!!! Pensava xingando alto em minha mente. Meus olhos em fúria miraram o céu azul sobre mim e desceu sob a floresta, minha cabeça chamava todas as índias de todos os nomes de animais que eu conhecia, até que notei algo entre duas grandes arvores. Foquei o olhar espremendo um pouco a vista e notei que era um vulto escuro. Parecia me observar. Senti meu corpo congelar, senti câimbra nas pernas, vontade de correr! Isso são horas de acontecer?! Pensei tentando correr do rio. Olhei novamente o vulto e ele me encarava, vi que tinha os mesmos olhos amarelos dos que havia visto anteriormente. Gritei com medo enquanto corria. Eu estava inconformada e desesperada. A mistura disso deu num tropeço súbito. Eu caí batendo a cabeça no chão.Então ouvi vozes e senti varias mãos frias tocando meu rosto.<br />
- Natasha... NATASHA ACORDE!!! - diziam as índias enquanto me sacudiam.<br />
Eu despertei em choque na mesma situação de antes. Como se estivesse horas sem respirar debaixo d'água e de repente subisse emergindo puxando todo ar que conseguisse.<br />
- O... O QUE cof cof cof O QUE ACONT- ACONTECEU!? - Perguntei com os olhos arregalados, enquanto olhava na cara de cada uma delas.<br />
- Nós é que perguntamos... você saiu correndo do rio e caiu aqui desmaiada...<br />
- Eu o que? Peguntei indignada. - Vocês que foram embora e me deixaram aqui... - levantei a cabeça tentando ver o vulto novamente. Ele não estava mais lá. - E tinha... o... - tentava dizer, mas não conseguia, ou não queria falar.<br />
- Shhhhhh - Fez uma das índias para mim. Esta me pôs gentilmente em seu peito como se quisesse me acalmar. Eu explodi jogando ela para trás. Todas me olharam me reprovando, eu as xinguei e saí correndo.<br />
- Estou perdendo a noção das coisas? Pensava enquanto sumia dentro da floresta. Como? Dizia para mim mesma enquanto me sumia na mata.<br />
-Eu conheço os costumes do nosso povo, se eu ficar assim vão me chamar de padalá <i>, </i>e serei sacrificada sendo enterrada viva! Não posso estar enlouquecendo... padalá NÃO!!!<br />
Eu estava completamente fora de mim. Não sabia o que fazer, ou o que falar. Precisava conversar com alguém... mas quem? Lembrei-me de Ceci, onde ela estaria? Precisava definitivamente dela... desabafar, chorar... gritar!!!! Ouvi um estalo na mata. Meu coração foi a boca. Olhei para trás e vi os mesmos olhos amarelos, dessa vez naquela onça negra. Eu parei estatelada. Sem reação. A onça deu um passo em minha direção, abaixou a cabeça lentamente como que se preparasse para avançar. Fiquei sem reação... minhas pernas amoleceram. Lembrei-me do irmão de Saíra que fora morto, e consecutivamente lembrei-me de Moara! Então ouvi um assobio, a onça virou a cabeça para trás em seguida me encarou. Naquele momento eu não identificava nada a minha volta, as arvores, os pássaros, o chão, o céu... TUDO ficou branco. A onça deu meia volta e sumiu na mata. Eu caí sem reação. Encostei-me numa arvore e chorei... chorei como uma criança sem pai e sem mãe. O que estava acontecendo? O QUE ESTAVA ACONTECENDO??? Era o que reverberava em minha cabeça... e fiquei ali, sob aquela arvore, tentando achar uma resposta para tudo aquilo...<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-1820227418947653842014-06-07T12:57:00.003-07:002014-06-07T12:57:48.313-07:00Pagina 11 O amor de Yakecan Eu ainda ouvia os suspiros de Saíra, mesmo algumas horas depois de termos conversado. Após fato ocorrido, não ouvi mais os risinhos de Kananciuê. Procurei então me distanciar um pouco das meninas, queria eu agora cultivar minhas próprias lágrimas, minhas dores... Será que cada uma estava passando por algo assim como eu? Se sim, o que sentiam? Será que eram dores ou dúvidas? Eram mais leves ou mais pesadas que as minhas? Acho que nunca irei saber, também nem vou perguntar...<br />
Levantei e segui procurando um canto que fosse escuro ou que pelo menos me cobrisse, queria ficar definitivamente sozinha! Havia algumas meninas sentadas, outras em pé conversando desconfiadas. Outras olhavam pra mim com aquele jeito que não gostava, como se desconfiassem de algo. Torci meu nariz pra elas e segui. Eu caminhava eu sentindo meus pés descalços, estranhamente parecia que caminhava sobre algo macio, como que alisando aquele chão frio de areia bem pisada, era reconfortante apesar do frio. O tempo ia segundo e a cada minuto que passava sentia que mais se esfriava, eu sentia isso, mas meu corpo estava quente. Sentia a brisa entrar pelas frestas das folhas secas e apesar do frio sentia calor, um estranho calor. Fui caminhando até encontrar o lugar mais escuro, e achei. Estava lá no fundo onde não tinha uma viva alma. Segui aliviada.<br />
Chegando, senti meu corpo sendo abraçado pela penumbra, como se houvessem braços escuros me esperando. Senti um forte calafrio, daqueles que te faz arrepiar da cabeça aos pés... Me abracei! E devagarinho fui me abaixando, me colocando de uma forma confortável... curtindo minha a solidão... quando então ouvi um: cof cof cof... <i>Alguém estava aqui também!!! </i>De cara torci os cantos dos lábios... Queria ficar só! <i>Que coisa!</i> Pensei... Olhei ao redor tentando identificar quem estava ali e vi uma índia mirradinha, um pouco menor que eu, abraçada em suas próprias pernas como se.quisesse se esquentar. Fiquei por alguns segundos fitando a pobre infeliz... Dentro de mim eu a contorcia em meus pensamentos, se ela pudesse ver minha cara sairia correndo, certamente...<br />
Pigarreei para ver se ela ao menos me olhava, e nada. Ergui minha cabeça para ver se havia algum outro lugar, mas logo desanimei. As índias se espalharam pela oca toda afim de dormirem no chão. Havia pouquíssimas em pé. Funguei logo desalentada! E recostei vencida minha cabeça nas palhagens.<br />
<i>"e agora o que será de nós?"</i> Pensei imaginando mil coisas. Olhei para os caciques na entrada e notei que eles conversavam entre eles, ergui as sobrancelhas surpresa, e fiquei observando. De onde eles estavam, na minha visão, pareciam crianças pequenas e bem distantes. Fiquei assim por um bom tempo, apenas observando enquanto minha mente vagava em mil perguntas sem respostas. Aquela cena, junto ao silêncio sepulcral, foi fazendo minhas pálpebras pesarem, fui sentindo o corpo relaxando, quase ao ponto da dormência. Eu estava quase dormindo enquanto os observava. Eles conversavam numa agitação crescente, como se discutissem algo entre murmúrios... Vi então que alguém se aproximou por trás deles, minha vista estava tão turva que nem identifiquei quem era ou se eu estava imaginando algo. Mas me parecia uma mulher, uma india... Continuei olhando... Senti naquela hora uma forte saudade de minha mãe, a Danra. Um furtiva lágrima desceu desenhando meu rosto enquanto minha respiração ia tornando-se cada vez mais pesada e lenta, <i>não queria dormir</i>...! Pensava enquanto tentava focar a vista. <i>Quem estaria lá? </i>Pensei. Fiz um último esforço para ver com um pouco mais de nitidez e consegui formar melhor a silhueta em minha mente. Aqueles cabelos, aquela altura, aquela... Aquela sensualidade natural somente uma pessoa nessa aldeia poderia ter... Meus olhos queriam se espremer, a chama no peito quiz se acender, mas foi tarde de mais! Caí em sono profundo. Fechei meus olhos...<br />
Assim que os olhos do corpo se fecharam os olhos da alma se abriram. Acordei do outro lado xingando e xingando Moara! A raiva que não consegui sentir no corpo transbordava agora em meu íntimo, e parecia fluir com muito mais intensidade... Olhei ao redor tentando me localizar e reconheci na hora as paredes de pedra e o ar úmido de antes. Estava na mesma caverna de antes. Parei para refletir, não podia sentir essa raiva toda, não aqui! TINHA QUE ME CONTROLAR!!! Tentei respirando fundo e pausadamente. Olhei o ambiente enquanto buscava o auto controle, girei meu corpo e vi o mesmo fecho de luz descendo do alto e lááá longe... Sabia que tinha que ir para lá, e fui. Caminhei sem tatear nada, como da última vez. Eu seguia como se já conhecesse o lugar, e a medida que me aproximava da luz mais calma eu ia ficando... Logo eu estava com outro semblante, sorridente e bobamente feliz. Vi as meninas sentadas em volta ao altar iluminado, percebi que todas estavam meio congeladas, paradas, pois não se mexiam. Pareciam dormir acordada... Mas enfim... Me sentei... Cruzei as penas e esperei...<br />
O tempo foi se passando e o silêncio parecia me consumir, até que ouvi barulhos próximo, como de pés se arrastando. Olhei em volta e vi a índia que estava escondida perto de mim se aproximando, ela provavelmente havia dormido o corpo mais tarde que as demais. Na ocasião ela parecia meio angustiada, o que será que ela sentia? Foi logo a primeira coisa que pensei... E a pobrezinha sentou se muito longe de mim. Naquele momento algo se acendeu a nossa frente, vi pelo canto do olho... alguém havia chegado! Olhei para o altar e vi com clareza a luz se tornando gente... Era Yakecan! Estava lindo e altivo, com as mesmas vestes que parecia reluzir luz viva aos meus olhos. Me encantei... Aquilo era realmente lindo!<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiogxsErsXT8S38p8S-YfQ6sdhGxu9AzL0GJh62i5zgfNsKIaa6E5dWVO6l4wEOmXUY1UeswYzl4eEQjyI9_BVrj8mIyfGtRTd7XKEYpNji_Q3CwmuU8WP7cBavHcVE5YxizwGqGQ9PMman/s1600/ventania%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiogxsErsXT8S38p8S-YfQ6sdhGxu9AzL0GJh62i5zgfNsKIaa6E5dWVO6l4wEOmXUY1UeswYzl4eEQjyI9_BVrj8mIyfGtRTd7XKEYpNji_Q3CwmuU8WP7cBavHcVE5YxizwGqGQ9PMman/s1600/ventania%5B1%5D.jpg" height="320" width="245" /></a></div>
<br />
- <i>Boa noite filhas queridas... - Disse com a mesma voz tenra e gentil de sempre - hoje iremos aprender um pouco mais sobre o princípio da vida, sobre o poder que cada uma de voz tem dentro de si, para que comecem a despertar para possibilidades infinitas de cada ser...</i><br />
Yakecan falava e eu notava que as meninas não esboçavam reação alguma. Como podia?! Elas não estavam ouvindo? Estavam dormindo acordada? Todas estavam petrificadas e sem reação, me indignei.<br />
- <i>Somos todos, nesse mundo imenso, pequenas fagulhas do amor incomensurável da grande sabedoria. </i>- parou por um segundo olhando cada uma de nós - <i>Cada um de nós temos acesso a esse poder infinito, mas nem todos conseguem despertar esse conhecimento... Olho par vocês e vejo que ainda dormem ao contrário de seus corpos que quando estão neles estão acordados. Tens em vossas vidas que despertar para se ter a consciência de abrir essa porta que da acesso ao impossível...</i><br />
Então é isso... estão todas dormindo!!! Pensei estupefata. Mas como pode ser? Me perguntei. Se as vejo todas aparentemente com os olhos bem abertos... E eu... Por que estou, <i>ou </i>pareço acordada? Me belisque forte, quase dei um grito. Me contive sem graça e voltei a prestar atenção no que Yakecan dizia.<br />
<i> - Cada vez que vêem aqui é como se uma fresta se abrisse em suas mentes... Reforce essa vontade crescente de evolução, queiram abrir essa porta e atravessar... Saibam que não serei eu que o fará por vocês e sim vocês mesmas , pois só assim saberei quem está preparada para as grandes energias que estão chegando. E o mérito seras todo seus, pelo esforço... - </i>parou novamente e olhou piedoso para nós - <i>Nosso tempo aqui é curto, por isso estou correndo contra o tempo para tentar despertar o maximo de vós outros, mas volto a dizer, o esforço maior tem que vir de vossas próprias vontades. Queiram acordar! Queiram evoluir... precisarei de vós para disseminar essas novas forças que estão chegando...</i><br />
Então eu sou a única desperta? Senti uma mistura de excitação e medo. Não é possível!!! Olhei tentando achar Saíra, será que até ela estaria dormindo? NÃO É POSSÍVEL!!! Procurei e achei... Saíra estava do outro lado, petrificada como as demais... Olhei ao redor e ouvi um pequeno fungado, me assustei... Olhei tentando identificar de onde vinha e notei que uma das índias havia despertado... E ERA JUSTO A INDIA RAQUÍTICA QUE CHEGARA POR ÚLTIMO!!!! Fique feliz, muito feliz por ela!!! Que estranha felicidade é essa que da vontade de você ir abraçar uma pessoa sem ao menos conhecer? Me contive quieta... Meus olhos diziam por si só a felicidade que eu sentia refletida nas lágrimas que desciam.<br />
- <i>Hoje quando acordarem em vossos corpos físicos sentiram no âmago de vocês uma estranha sensação, algumas poderão achar que estão passando mal... mas não se assustem, pois estamos acentuando cada vez mais as energias para que despertem o mais rápido possivel... - </i>Yakecan deu uma pausa e contemplou silencioso todas as pequenas índias sentadas, como um pai carinhoso que espera que seu filho de seu primeiro passo - <i>filhas queridas de meu coração, sinto-me muito feliz por estarem aqui, mesmo que na situação que por hora se encontram... queria eu ser pequeno como um grão de areia apenas para adentrar em vossos corações afim de tirar suas chagas, dores e incertezas, mas infelizmente não posso... mas seguirei firme no nosso proposito, pois de vós muito é esperado... e eu me despeço aqui, deixando em vós uma gota desse amor que trago de mundos distantes, para acariciar-lhes o coração para a evolução que terás que passar... com carinho seu pai...</i><br />
<i> </i>Yakecan disse suas ultimas palavras, meu rosto se derretia com tanta doçura e amor. Eu queria derreter vergonhosa diante do que ele emanava. Me sentia a menor das menores, a mais terrível, a menos capacitada, mas de alguma forma eu estava ali, sentada... DESPERTA! e feliz... Num piscar de olhos senti que tudo girou e tudo se escureu. Fechei novamente os olhos da alma e abri simultaneamente os olhos de meu corpo físico. As lagrimas ainda estavam lá, pois eu as senti descendo por meu rosto...maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-51246988186898222322014-06-06T06:48:00.002-07:002014-06-06T06:48:40.569-07:00Pagina 10 Entre dois mundos Sabe aquela sensação de quando você fica submerso na água por um bom tempo e de repente você emerge puxando todo ar do mundo e na maior agonia e no maior desespero? Pois é... essa fui eu quando desmaiei! Parecia que estava afogando e explodi de repente abrindo a boca, os olhos e debatendo pernas e braços. Foi horrível!!!!<br />
<i>"Me recuso a desmaiar de novo! ME RECUSO!!!"</i> Dizia para mim mesma enquanto pessoas vinham tentar me acalmar. Eu definitivamente estava possessa, transbordando ódio, raiva, agonia. Sabe aquela sensação quando você ver as pessoas, mas não as ver? Tinha um monte me segurando, todas eu conhecia muito bem, mas ao mesmo tempo minha raiva e inconformidade me impedia de "<i>vê-las". </i>Foi horrível, é a unica coisa que consigo dizer agora... HORRÍVEL!<br />
Aos poucos o tempo ia passando e eu ia me acalmando, as meninas que me seguravam com força aos poucos iam afrouxando as mãos. Eu, agora, ia criando consciência de onde eu estava. Tudo o que eu via era o breu e a penumbra. Ergui minha cabeça um pouco e vi o cenário: Estava novamente na oca de ontem a noite. Os mesmos caciques estavam protegendo a entrada. Olhei com desdem esganiçando o olhar para cima e relaxei: Que saco! Ouvi uma risadinha vinda de algum lugar. Deixei pra lá. Saíra veio ter comigo e apoiou minha cabeça em suas pernas, pegou seus dedinhos finos e começou a pentear meus cabelos. Relaxei novamente meu corpo e a medida que via seu rosto de cabeça para baixo ia querendo adormecer... Pernas, braços, dedos, TUDO ia adormecendo. Senti <i>a mesma sensação do desmaio. </i>Dei um grito! Repreendi na hora e despertei novamente. Todas me olharam ansiosas, como se esperassem que algo fosse acontecer. Ouvi novamente a risadinha. Dessa vez olhei ao redor, pois a voz era masculina, e os únicos homens aqui dentro eram os dois caciques, e esses pareciam dormir em pé!<br />
- Saíra eu estou enlouquecendo? - Perguntei levantando o corpo do chão.<br />
- Você está cansada - respondeu-me ela - só isso. Não tem sido fácil pra ninguém aqui Natasha, todas estão passando por seus testes, por suas próprias dores...<br />
- Estou ouvindo vozes - disse olhando desconfiada a penumbra que mais parecia um véu negro nos cobrindo - isso não pode ser normal! E esses desmaios?<br />
- Fique calma Natasha... - respondeu-me ela.<br />
<i>"Faz parte de sua preparação filha..."</i> Falou-me a voz novamente. Eu dei um salto que quase joguei Saíra para trás.<br />
- QUEM ESTÁ AI?! - Urrei aos pulmões.<br />
Saíra levantou-se com os olhos que pareciam querer cobrir a face inteira, os Caciques me olharam e se entre olharam sem nada dizer.<br />
- Na-Natasha, - gaguejou ela - fique calma...!<br />
- COMO FICAR CALMA?! - Abrutalhei de vez - EU QUERO SAIR DAQUI!!<br />
Novamente ouvir uma risadinha suave.<br />
- QUEM ESTÁ RINDO DE MIM!? - Urrei. Eu girava na penumbra feito um pião descontrolado tentando ver quem falava comigo. - Não é possível que vocês não estejam ouvindo!!!<br />
<i>"Fique calma minha filha... </i>disse lentamente a voz suave <i>lembre-se, vocês estão ai para serem observadas e ensinadas..."</i><br />
<i> - </i>Natasha - disse Saíra se aproximando - venha, deite-se um pouco.<br />
"<i>Yakecan foi muito seguro quando disse que estavam sendo preparadas não foi?"</i><br />
<i> - </i>Isso, - disse Saíra enquanto eu me abaixava em suas pernas - agora fique calma... - Saíra voltou a acariciar meus cabelos a fim de me acalmar...<br />
-<i> Eu devo estar ficando louca mesmo. </i>Pensei estupefada. <i>Estou ouvindo vozes!!!</i><br />
<i> </i>Eu ouvia a voz de Kananciuê simultaneamente a voz de Saíra, eu tinha a consciência total dos dois, era estranho isso! Eu não entendia!!!<br />
<i>"Estamos preparando vocês para uma futura iniciação filha... todo esse desajuste em seu corpo físico é normal até que as energias se acentuem e equilibrem nos reinos de vossa natureza, por isso insisto, fique calma..."</i><br />
<i> - </i>Eu venho tendo vários pesadelos Natasha - disse Saíra com a voz profunda em memórias - Antes de meu irmão morrer, tive um sonho com ele, vi uma cobra enorme rondando a aldeia e ele ia tentar nos proteger, mas ela no final o enrolava e o matava...<br />
<i>"Consegue perceber? </i>Perguntou Kananciuê <i>cada um passa por sua estrada de forma diferenciada, mas todas as estradas levam a perfeição de vossas almas, de vossos ser, procure aprender com o que ouvir filha, julgue menos e ouça mais..."</i><br />
Saíra tapava o rosto tentando esconder as lagrimas, olhei para ela e senti pena... o que eu poderia falar? O que eu poderia fazer? Abraçar? Acariciar? O que? Nunca fui boa nessas coisas! Nunca precisei ser gentil com ninguém, mas agora eu a vejo ali, a minha frente, precisando de uma palavra e minha boca estava fechada, seca...<br />
"<i>Siga seu coração filha, deixe que ele fale por você... Ouvir a voz do coração é evolução espiritual... se permita evoluir filha... acredite em você...</i><br />
<i> - </i>Saíra... - Falei quase congelando por dentro. Ela me olhou e vi suas lagrimas refletindo a cor prateada em seus olhos. Senti um forte aperto. - <i>Eu sinto muito</i>...<br />
Saíra me olhou e se entregou. Chorou, chorou muito. Era como um desabafo, uma válvula que se abrira para expulsar sentimentos profundos, eu a abracei apertando-a em meus braços enquanto dizia palavras que meu coração começava a aprender. Ambas choraram, eu e ela, até o momento de cada uma consolar a outra. Novamente ouvi a risadinha, agora eu sabia que era de Kananciuê, ele estranhamente estava me observando. Por que será? Por que ele me escolheu? O conselho dos velhos sábios me reprovara, mas ele pôs a mão, queria que eu estivesse ali... mas por quê? Perguntas essas que talvez nunca saiba a resposta. Também não queria perguntar. Queria apenas estar ali, com pessoas do bem, aprendendo também a ser do bem... senti naquela noite que minha vida a muito não era mais a mesma...maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-34772168272827778922014-06-04T17:39:00.004-07:002014-06-04T17:39:35.297-07:00Pagina 09 Lembranças e Surpresas Saí da oca me sentindo meio abobalhada. Parecia que o céu estava mais brilhante e as cores mais vivas. Eu fui a ultima a sair, os caciques que seguravam a entrada desapareceram, não os vi mais. Caminhei entre todos da aldeia como que hipnotizada, que sensação estranha! Pensei. A unica coisa que vinha a minha cabeça era procurar por minha mãe, a Danra. Então segui para nossa oca que era mais afastada do centro da aldeia. Caminhei alguns minutos e a adentrei, logo de cara não a encontrei, sai e dei uma volta ao redor da oca e não vi nem ela nem papai. Aquelas horas eu não tinha animo nem para esganiçar raiva ou praguejar algo. Fui então em direção ao rio. Caminhei, cruzei com alguns índios, mas estranhamente não vi nenhuma das índias que estavam comigo ontem a noite. Continuei seguindo. Saí da aldeia, e segui pela Saraboya, que era a trilha que dava para o rio. Novamente encontrei alguns outros índios costumeiros, eles olhavam para mim com ar de profunda observação, e eu passei direto por eles sem ao menos olhar-lhes a cara. Logo senti o friozinho que arrepiou meus braços, estava bem próximo do rio, faltava fazer uma pequena curva pela trilha e lá estava ele... lindo a me esperar. E não deu outra, logo mergulhei em suas ondinhas frias e escura. Ali fiquei apenas pensando no episodio de ontem a noite, cada detalhe que ficara em minha mente. Os olhos de Yakecan era o que mais me chamava a atenção, estava tão diferentes dos que eu costumava ver... Puxei o ar novamente e mergulhei, queria ir até o fundo do rio, sentir aquela areiinha e puxar um pequeno maço de terra comigo. Não consegui... subi e puxei novamente o ar. Antes de mergulhar novamente ouvi um farfalhar numa moita as margens do rio. Assustei... mergulhei meus corpo deixando apenas meus olhos e nariz para fora... nada aconteceu. fiquei assim por alguns minutos, e nada. Me tranquilizei... lembrei-me da onça que vi, logo me veio o rosto de Moara, meu coração se contorceu. Mergulhei!<br />
Lá embaixo puxei o maço de areia que eu queria, mas ele se desfez antes mesmo de eu voltar a superfície. Subi feito um raio descontrolado, minha cabeça já reverberava: Moara... MOARA!!! <i>Por que eu sinto tanta raiva dela?</i> Fiquei pensando enquanto puxava ar... Ouvi novamente a moita balançar, virei-me e vi um vulto sumindo por de trás de uma arvore, arreganhei os olhos, meu coração foi a boca, eu quase engasguei, pois afundei um pouco... nadei um pouco tentando me afastar da moita, estava indo a outra margem, ia ficar lá parada esperando e olhando, mas pensei melhor... fiquei no rio.<br />
Minhas pernas meneavam nas águas profundas e escuras, meu corpo aos poucos ia esfriando e meus olhos fixos estavam naquela moita... fiquei a observando sem nem ligar para o que acontecia ao redor, vez ou outra surgia alguém que entrava no rio e saía, mas eu ficava lá... apenas observando. O sol já batia o centro do céu, olhei para cima e vi algumas nuvens deslizando suave e despreocupadas. De fato estava um dia muito tranquilo. Àquelas horas fiquei pensando que nada mais aconteceria e decidi sair, fui meio corajosa e segui rumo a moita, saí do rio e passei ao lado dela. Nada aconteceu... naquele momento ouvi outro som, mas dessa vez era o de minha barriga, estava faminta. Precisava comer. Caminhei um pouquinho enquanto espremia meus cabelos, alguns fios ficaram em minhas mãos, eu os soltei no chão enquanto andava. Saí da Saraboya e entrei na mata fechada, precisava encontrar algo para comer. Vi algumas arvores enormes, alguns coqueiros, butiás, mirtilos, sapucaias, mas o que mais me chamou a atenção foi os pés de pitangas, e estavam carregados, havia alguns pés de goiaba também... aquela tarde eu me esbaldei. Comi e me senti pesada, sentei-me um pouco para descansar. Essa pausa me fez lembrar novamente do ocorrido ontem a noite, lembrei-me então de Saíra, onde ela estava? pensei. Por um momento todo o cenário a minha volta se apagou, eu voltei a viver as palavras de Yakecan, eram lindas e deixaram marcas profundas em mim. Queria passar mais tempo ali, ouvindo, sentindo aquele mundo estranho, aquelas sensações na qual eu não conseguia traduzir, lembrei dos olhos das índias, do jeito que ouviam, das poucas lágrimas que algumas deixavam cair, de Saíra... <i>Saíra?</i>... onde estaria Saíra?... e Ceci? Precisava procura-las, agora me sentia mais forte, menos grogue, mas consciente. Aos poucos minha memoria se tornou branca e o cenário a minha volta verde e vivo. Abri meus olhos e vi um vulto negro me observando. Congelei literalmente! Quando dei por mim estava em pé. Procurei com toda pressa do mundo uma pedra ou um pau para me defender, mas não achei. Olhei para a silhueta escura e ela não sumiu, estava ali... parada, me olhando, tinha os olhos amarelos. Não achei pedra alguma e saí correndo. Não sei em quantos minutos cheguei na aldeia só sei que quando cheguei nada eu vi... tudo revirou. Tudo se tornou sombrio, turvo. Caí desmaiada... novamente!<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-44761698543082404662014-06-03T07:42:00.002-07:002014-06-03T07:42:32.546-07:00Pagina 08 O grande Pajé As horas iam passando e por mais que eu tentasse ou disfarça-se estava me sentindo agoniada. As horas ali dentro pareciam paradas, as meninas andavam sem rumo dentro da oca escura e eu as observava do meu canto, sem nada falar, mas com a cabeça a mil. Virei-me para as palhas secas e abri uma fresta, precisava olhar se havia algum movimento do lado de fora. Nada. Tudo estava parado, estático. Consegui olhar um pedacinho do céu, estava com algumas nuvens, nada mais eu pude ver. Fechei a fresta. Passei os olhos tentando ver onde estava Saíra e a vi deitada no chão, parecia calma e serena. Pensei em ir até ela, pedir desculpas... essas coisas, mas não fui. Parei. Não ia fazer isso... Aos poucos o silencio e a penumbra foi me lenteando, não sei quanto tempo fiquei em pé, mas minhas pernas começavam a doer, Sentei. Cruzei as pernas e me encostei nas palhas. Olhei para frente e vi que algumas das índias deitavam no chão, uma ou outra estavam em pé. Minha cabeça àquelas horas estava meio que em câmera lenta, estava me sentindo zonza, minhas pálpebras pesaram, fazia o esforço do mundo para ergue-las. Olhei pra Saira e a vi dormindo, olhei para as demais e quase todas dormiam profundamente. Deve ser o cansaço, pensei. E me entreguei ao sono profundo.<br />
Olhei em volta e percebi que assim que fechei meus olhos do corpo eu abri os olhos da alma. Levei um susto, pois não reconheci o lugar. Pus as mão no peito e senti meu coração batendo normalmente, dei-me um pequeno beliscão e senti a dorzinha normal. <i>O que é isso? </i>Pensei. Estava dormindo? Até aquele momento eu não sabia. Fui então tentar descobrir. O lugar era diferente, mas era tão escuro quanto a oca em que estava meu corpo. Fui tateando as paredes do lugar e as senti úmidas e frias, arrastei o pé no chão e percebi que era feito do mesmo material que as paredes. Girei meu corpo para melhor ter a visão do lugar e lá na frente pude ver um fecho de luz que vinha do alto tocando o chão, era lindo. Como um véu de prata em meio a toda essa escuridão. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrJLbUSTtX54xMpkmcVL0fiI5jgNhP8qZC-Hq20W6m7878jWretDDRnz7szRWStUxn0cOSnsWS8TZs6ExfABTn9i7kje9PQQL_E-2wgf0oBhkrjg_Xl4y67ay5pskBKoR-Ct__VZPd1-Y-/s1600/pulpito-r1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrJLbUSTtX54xMpkmcVL0fiI5jgNhP8qZC-Hq20W6m7878jWretDDRnz7szRWStUxn0cOSnsWS8TZs6ExfABTn9i7kje9PQQL_E-2wgf0oBhkrjg_Xl4y67ay5pskBKoR-Ct__VZPd1-Y-/s1600/pulpito-r1.jpg" height="212" width="320" /></a></div>
Caminhei até ele. O estranho era que mesmo o lugar sendo escuro eu caminhava com total segurança, achei isso muito estranho! E continuei.<br />
Aos poucos o fecho de luz ia se mostrando maior e maior, pude perceber que ele iluminava uma espécie de altar. E como estava mais próximo dele pude notar melhor o ambiente. Era uma caverna, e esta era enorme e profunda. O feche de luz iluminava exatamente o centro de um salão cimentado por rochas milenares. O estranho foi que esse lugar parecia familiar para mim... Porquê? Olhei em volta para me situar melhor e vi algumas silhuetas sentadas e ouvir alguns murmúrios. Senti profunda vontade de me aproximar delas e assim o fiz. Caminhei confiante pelo grande salão de pedras e sentei-me. Para o que eu não sabia, mas ali eu estava. Fiquei parada não soube por quanto tempo, mas o tempo suficiente para reconhecer aquelas silhuetas. Eram as índias que estava dormindo na oca, TODAS! Inclusive Saíra, que estava sentada a uma certa distancia de mim, ela não me encarava, parecia absorta pelo o que estava lhe acontecendo. Ouvi então pés se arrastando na penumbra atras de nós, olhei curiosa e vi mais outra índia chegando. Pude sentir o ar de profunda curiosidade em seu semblante, a pequena sentou lá atras, um pouco distante de nós. Pelo jeito ela não nos reconheceu. Na verdade todas pareciam meio abobalhadas, meio zumbis, eu não entendia o porque de somente eu parecer estar tão desperta. Senti então em meu íntimo que alguém havia chegado, não era definitivamente uma outra índia, era alguém com uma emanação diferente. Olhei de súbito para o feche de luz e vi com clareza um corpo se fazendo da luz emanada do céu, como se ali fosse uma porta e esse ser acabasse de entrar. Rapidamente todas se empertigaram, abriram mais seus olhos inclusive eu, e assim a luz se fez gente. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVh5CpglVV-e4QbsIHI59cbRVc0oIKXRAbUwtTXTGKSCATW5F_qWx6ru4_Ba8Ah3JzomjZjKyKMSmxlXM0qy-GhCA_j-SOypyteIUR-EkiX2bww_85MomSWqzFeIwnOdECQne6AeVU43cN/s1600/defesa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVh5CpglVV-e4QbsIHI59cbRVc0oIKXRAbUwtTXTGKSCATW5F_qWx6ru4_Ba8Ah3JzomjZjKyKMSmxlXM0qy-GhCA_j-SOypyteIUR-EkiX2bww_85MomSWqzFeIwnOdECQne6AeVU43cN/s1600/defesa.jpg" /></a></div>
Logo pude ver quem era, senti emanar da luz uma essência suave e delicada que eu ainda não havia identificado. Não era Kananciuê, e sim o pajé Yakecan. Todas curvaram-se em respeito ao grande homem a frente, inclusive eu. Yakecan trajava roupagem nobre, clara como a luz que emanava, seus cabelos brancos estavam soltos e meneavam suaves como se houvessem vida própria, seu olhar não era o mesmo que eu conhecia, estava altivo, mais sábio, mais além do que eu poderia compreender. Senti, em meu intimo, a falta de Kananciuê, fiquei na expectativa dele aparecer, mas não apareceu. Yakecan então falou:<br />
- Sejam bem vindas - dizia olhando para cada uma de nós - pequenas gotas do amor incondicional do nosso grande Deus sobre todos. Hoje começa nosso grande trabalho. Entraram nessa caverna e dela não sairão as mesmas... Olho para vocês e vejo a imagens das jovens Danras de hoje, ansiosas, temerosas ontem e grandes e sabias hoje... - parou fixando olhar em algumas de nós - A vida de vós não mais será a mesma na qual estavam destinadas a ser, será melhor! Um novo mundo se descortinará para vós, trazendo novas melodias universais, novas esperanças para esse mundo que escurece a cada raiar de sol. Minhas filhas, sois escolhidas a dedo dentre tantas de nosso povo, não por serem melhores, mas por terem em suas almas grandes sabedorias e conhecimentos... sabedoria essa que saberão de onde vem com o tempo certo. - Yakecan parou por um segundo, todas nós parecíamos congeladas por suas palavras sinceras e de profundo amor e conhecimento, ele nos encarava como um pai encara seus filhos, tinha a idade da Terra e a ternura de um broto de rosa, seus olhos singulares fitava-nos com profundo respeito e carinho, ele continuou:<br />
- Erga suas mentes para o que é prospero e eterno, não se percam nas mesquinharias desse mundo que é banal e passageiro, conhecerás aqui o significado do que é ser eterno e eterno serás, a luz que emana nessa hora aqui de mim é a mesma luz que cada um desse mundo possui, mas todos se encontram ainda dormindo em suas consciências, e vós terão que acordar, que despertar, para dar luz aos cegos e amor aos desesperançados. Vamos filhas, vamos permitir que a mudança ocorra de dentro para fora, por que assim quer seu pai o Soberano sobre nós que é puro amor, pura paz e conhecimento. Conhecerão o passado e o futuro desse mundo de mistérios e assim sendo conhecerão a luz e a treva em seu coração. Sinto-me feliz por estarem aqui, dentro dessa caverna onde grandes seres desceram para ensinar, e assim como estão ai sentadas digo que ontem era eu, cheio de duvidas e incertezas. Acreditem filhas de meu coração e tudo lhe serás dado...<br />
Yakecan terminava de falar e suas vestes e pele iam se confundindo novamente com a luz que descia do céu. Logo o grande índio não pode ser mais visto nem escultado. Nossos corações transbordavam de pura felicidade e alegria, sentimentos esses que vem me enchendo abrindo meus olhos para novas perspectivas. Fechei então meus olhos da alma e em seguida abri os olhos do corpo. Senti minhas pálpebras fecharem, pois já era dia e a luz do sol quase me cegara. Notei que as pequenas índias assim como eu iam despertando uma a uma. Senti que a partir daquela noite, nunca mais eu seria a mesma...<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-16924187939004982302014-06-02T06:46:00.000-07:002014-06-02T06:46:09.202-07:00Pagina 07 Despertando a consciência Senti meu corpo despencar, após isso tudo escureceu... De novo! Vi novamente a luz e o túnel, mas dessa vez havia algo a mais. Olhei fixamente na luz e vi que algo se movimentava em meio a ela, estava difícil de ver, pois minha vista estava embaçada, cocei varias vezes meus olhos e não melhorava por isso não identifiquei o que eram, pra mim eram duas pessoas. Fiquei contemplando-as até que meu corpo começou a se mover em direção à luz... Fui me aproximando e as silhuetas iam ser mostrando cada vez mais nítidas. A cada centímetros que me aproximava sentia que meu corpo adormecia mais e mais, olhei para meus pés e eles pareciam mortos, eu não os conseguia mexer!! Olhei para novamente para as silhuetas e senti um calafrio arranhar minhas costas. Não sei quem ou o que eram, mas definitivamente eram mais altos que qualquer homem que tenha visto. A essas horas não conseguia enxergar mais nada, tudo se tornou um breu branco e silencioso, sentia apenas suas mãos tocando como se analisassem em meu corpo, e eu não conseguia nem gritar nem chorar... Fiquei assim por um tempo que eu não entendia. De repente tudo escureceu...<br />
- Natasha... Natasha! - Chamava me uma voz familiar, era Saíra. - <i>Acorde!</i><br />
Saíra me sacudia enquanto me chamava, aos poucos fui voltando ao normal. Abri meus olhos e tive dificuldade em enxergar, apenas a voz de Saíra e alguns murmúrios me mostrava que eu ainda estava viva. Tateei o ar tentando acha-lá, segurei seu braço frio e me apoiei para levantar.<br />
- <i>O que está acontecendo? </i>- Perguntei. - Que escuridão é essa? Aos poucos minhas vistas iam voltando ao normal e eu fui conseguindo definir formas em meio aquela penumbra.<br />
Saíra consertou o corpo e disse baixo:<br />
- Açuã te encontrou caída na floresta, e te trouxe pra cá.<br />
- Mas onde eu estou? - Perguntei tentando identificar o lugar. - Por que estamos aqui?<br />
Saíra calou-se, não vi seu rosto, mas senti que chorava em silêncio.<br />
- Saíra, fale logo o que está acontecendo! - Gritei enérgica.<br />
Houve um segundo de silencio...<br />
- Tuíra... - disse ela parando novamente, houve outra pequena pausa - ele foi morto... - Sua voz estava embargada.<br />
- Seu irmão?<br />
- Sim...<br />
- Mas como Saíra? - Perguntei me sentindo incomodada pela demora das respostas.<br />
- Foi encon... - Saíra calou-se e começou a chorar, senti uma dor no peito e me senti muito mal e sem graça. <i>"O que falar para ela?"</i> Pensei... Toquei então seus braços que estavam frios e a abracei.<br />
- Nossa... - Foi a única coisa que consegui falar.<br />
- Ele foi morto, - disse ela por fim com a voz grave e obscura. - Foi encontrado morto... - Parou por um outro segundo - próximo ao rio, - houve outra pausa, senti a força que ela fazia para me contar o que aconteceu. Senti pena e desconforto, ela continuou - Ele estava com as pernas quebradas e todo ensanguentado...<br />
<i>" ensanguentado?"</i> Pensei tentando ver seu rosto na penumbra. Ouvir aquilo me fez arder! Lembrei me do que vi, da onça, de sua boca ensanguentada e DE MOARA TENTANDO CAMUFLA-LA LIMPANDO-A!!! Larguei Saíra de imediato e sumi na penumbra. Estava fervendo!!! Me sentia culpada por aquilo! EU A VI COM A ONÇA!! Eu poderia ter contado a todos, e essa tragédia não teria acontecido! Mas... Mas... - Pensei em Ceci - ela estava certa, alguma coisa está acontecendo e eu... E eu só desmaio! SÓ DESMAIO!!! - Urrei em meus próprios pensamentos.<br />
- Natasha - chamou-me Saíra se aproximando - não fique assim, precisamos superar isso...<br />
- Saíra - falei - você não entende... Eu vi...<br />
- Não importa o que você viu - respondeu-me ela me interrompendo de imediato - agora é tarde, aconteceu...<br />
- Saíra, você não entende.<br />
- Lembre-se de que Kananciuê disse, os tempos são difíceis Natasha, e eles estão ai, tocando cada uma de nós e quem somos nós diante do que estar por vir.<br />
Paralisei! Ouvir Saíra dizer aquilo foi como se eu tivesse levado uma flechada que atravessasse meu peito. Como que até ela que eu julgava ser apenas mais uma, estava agora me dando, ME DANDO UMA LIÇÃO DESSAS!? Fixei meus olhos em Saíra, mas via Ceci, com aqueles olhos meigos me encarando e me reprovando. Esfreguei meus olhos... Saíra já tinha terminado de falar, meu peito arfava de desconforto e raiva. Ergui minha cabeça e a vi cabisbaixa em meio a penumbra, provavelmente chorando. Eu tinha que contar que foi Moara, que ela criava uma onça que matou seu irmão, EU TINHA QUE CONTAR!!! Mas não consegui...<br />
Dei um abraço em Saíra e sumi em meio aquele oca escura, queria ficar só. Minha mente só aparecia alguém: Moara, MOARA! Eu tinha que desmascara-la, tinha que bolar algo, mas o que?<br />
Olhei ao redor tentando achar uma ideia, meus olhos percorriam cada fresta nas palhas da oca, olhei para a entrada e vi que havia dois grandes caciques em pé com os braços cruzados. Parei, achei estranho. Por que? Olhei ao redor, agora com mais consciência e vi que ali havia apenas meninas, todas da aldeia, e todas mais ou menos da minha idade, algumas choravam outras trancavam a cara nos cantos. O que é isso? Pensei. Estamos presas? Levantei e fui até o cacique, tentei passar como se eles não estivessem la. Fui barrada e empurrada para trás. Caí e os xinguei. Saíra veio e me ajudou a se levantar!<br />
- O que está acontecendo? - Perguntei totalmente fora de mim.<br />
- Calma Natasha, estamos sobre observação, apenas isso.<br />
- Observação? Do que? E POR QUE?<br />
Olhei ao redor tentando identificar todas as índias.<br />
- E por que só nós? - Perguntei enfurecida - cadê Moara? Por que ela não está aqui!? Cadê Ceci?<br />
- Calma Natasha, não aja dessa forma...<br />
- E como você quer que eu fique? - Perguntei com certa ironia. - Meu pai, cadê meu pai? VOCÊ SABE QUEM É MEU PAI!? - Urrei pra ela, estava descontrolada. Não gosto de me sentir presa, NÃO GOSTO!!! Eu não fiz nada, e quem fez não está aqui!!! Vocês não entendem! - Urrei pra todos os cantos.<br />
Senti uma leve brisa tocando-me como que abraçasse-me, ouvi um zumbido agudo e perdi metade da minha consciência, em seguida alguém falou comigo.<br />
- <i>Filha, acalme te o coração...</i><br />
"Kananciuê?" Pensei.<br />
- <i>Ninguém a está prendendo</i>, - disse ele com a voz terna e gentil de sempre - <i>tu és livre para escolher o caminho que quiseres percorrer...</i><br />
Eu ouvia a voz de Kananciue e sentia transbordar novamente aquela energia indescritível percorrendo meu corpo, sua voz não batia em minha mente, era como que acariciasse meu ser, minha alma, era algo impossível de traduzir. E eu estava ali... semi consciente, com Saíra ao meu lado, ouvindo o que ambos me diziam e discernindo cada palavra.<br />
-... <i>Filha</i>, - disse kananciue -<i> tu só estas aí para que tenhas uma condição especial nessa transição que estas acontecendo. Eu mesmo a escolhi entre todos que a recusou. Eu mesmo a quiz aí...</i><br />
- Natasha, - dizia Saíra- eu também não sei por que estou aqui, mas eu sinto que e para algo melhor, por isso peco a você que se tranquilize...<br />
- <i>Mas essa decisão e sua filha... somente você poderá traçar seu caminho...</i><br />
- Eu vou ficar - respondi de súbito, vou honrar sua confiança.<br />
Saíra me olhou com os olhos assustados.<br />
- O que? - Me perguntou Saíra.<br />
Fiquei em silencio, pensei muito, entristeci-me comigo mesmo. Queria ficar só, esperando por algo que eu não sabia o que era, mas teria a partir daquele momento paciência para esperar.<br />
Kananciuê já havia ido em seus mistérios, agora estava apenas eu e Saíra, me deixando com aquela sensação de que algo muito sério me esperava... Respondi a pergunta de Saíra e sumi, indo pros fundos da oca, onde a penumbra se concentrava. Queria ficar só... Apenas sentindo essa energia intensa que inundava todo o meu coração.<br />
maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-9943346986502807642014-05-30T06:36:00.000-07:002014-05-30T06:38:11.219-07:00Pagina 06 Os Olhos Amarelos Abri meus olhos, olhei para cima, e em meus pensamentos apenas incertezas do que presenciei na noite anterior. Meus olhos fixavam as palhas secas sobre mim enquanto eu vagava... O dia amanheceu já havia muito tempo e eu ainda estava aqui, mórbida, deitada na rede. Não vi a Danra minha mãe saindo, ou papai. Na verdade tudo estava muito silencioso. Estava frio e meu corpo tinha receio de levantar, toquei meus braços e os senti muito frio, "<i>eu tinha que sair... levantar</i>". Puxei meu corpo e levantei! Fiz o esforço do mundo e toquei o chão. Senti a areia fria tocando meus dedos.<br />
<i>"Vou sair um pouco... caminhar..."</i> Pensei.<br />
Saí da oca e percorri a aldeia sem rumo, vi Turandá em conversa animada com sua mãe, Laciara passando cabisbaixa e Saíra totalmente silenciosa. Ia falar com ela, mas desistir. Ela parecia pior que eu. Atravessei a aldeia e segui pela trilha que levava pro rio. A areia estava muito fria, ventava um pouco, olhei para cima e vi varias nuvens, algumas tapavam o sol por longos minutos, a floresta parecia envolta por uma sombra interminável que o sol não conseguia transpassar. Pensei em ir no rio pelo menos para caminhar, mas algo me chamou a atenção. Parei meio sem reação. Haviam rastros no chão... rastros de cobra, como se uma enorme tivesse cruzado por ali. Abaixei e os toquei.<i>"Preciso avisar alguém... mas quem?" </i>Pensei. Enquanto observava os rastros eu lembrava das histórias que contavam para nós. Os velhos sábios sempre falaram de cobras gigantes que desciam do rio em épocas difíceis, algumas para se alimentarem do mal, outras aproveitavam a situação para se libertarem de suas prisões distantes. A voz gentil de Kananciuê reverberavam em meus pensamentos quando nos alertou de tempos difíceis, e pela primeira vez senti medo. Levantei e olhei adiante, Ouvi algumas vozes que vinham da trilha e me escondi nos arbustos.<br />
- Acho melhor não contar para ninguém sobre os rastros - disse Açuã a um outro jovem índio - poderão interpretar errado, você conhece meu pai...<br />
- Mas Açuã...<br />
- Confie em mim, -disse Açuã pondo uma mão no ombro do jovem índio - e vamos continuar procurando o Kambô para o Zuruahá!<br />
O índio consentiu e ambos seguiram falando até sumirem de vista.<br />
" eles também viram o rastro... " Pensei comigo, mas onde? Decidi seguir por onde eles vinham. Provavelmente estavam vindo do rio, então segui para lá. No caminho vi Ceci parada ao lado de Moara, ambas conversavam bastante concentradas, senti certo ciumes, pensei em ignorar, mas pensei melhor e fui até elas, talvez estejam falando sobre os rastros.<br />
Chegando, parei bem de frente a elas. E elas fizeram que nem me viram. Fiquei com ódio mortal, principalmente de Ceci que desde pequinininha era minha melhor amiga. Olhei bem na cara de Moara, se ela tivesse visto minha fisionomia teria corrido, mas ela não viu! Pareciam não me enxergar! <br />
- Oi Ceci! - Falei incisiva - TUDO BEM?!<br />
Ceci me olhou como se não estivesse nesse mundo. Senti um arrepio que subiu pelas minha costas quando me encarou, Moara virou-se para mim com um olhar superior, mas não como antes, estava diferente.<br />
- Vem aqui rapidinho Ceci... - falei puxando ela pelo braço.<br />
- O que aconteceu Natasha? - Perguntou Ceci sem paciência. - Não vê que eu estava...<br />
- O que você estava falando com ela? - interrompi de imediato - estou te estranhando Ceci, você nunca gostou de Moara...<br />
- Nunca gostei, ou você nunca gostou que eu gostasse? - disse Ceci alterando o tom de voz. - Por favor Natasha, as coisas não estão e não serão como antes, e você ainda fica nesta mesquinharia... Muita coisa está acontecendo e você parece que não está percebendo nada, fica presa nesse seu mundinho de orgulho e não vê que a sua volta o mundo está girando e se transformando...<br />
Enquanto Ceci falava minha cara ia caindo no chão. Sentia meu rosto queimar de vergonha, não sabia como me posicionar, e Ceci não parava de falar!<br />
-... Você prestou atenção na palestra de Kananciuê? você ao menos se deu o trabalho de...<br />
- CHEGA! CHEGAAA!!! - Urrei desequilibrada. - Eu só... - travei tentando achar uma justificativa - Eu... Eu... Ah, quer saber? Vai lá ficar com sua amiguinha... vocês se merecem mesmo!!! E-eu ti-tinha uma coisa mu-muito importante pra te dizer, - gaguejei - mas vai lá ficar ela tá te esperando, VAI!<br />
E sai vermelha, as duas provavelmente estavam me olhando com o mesmo olhar de reprovação. Maldita Moara! Minha vontade era de voar nela! Mas me contive, não sou como elas, nem como Ceci... Aquela... Aquela sem graça!<br />
A medida que eu resmungava pra mim mesma eu sumia na mata fechada, perdi a cabeça e se alguém falasse comigo eu EXPLODIRIA.<br />
Parei de trás de uma árvores, me encostei nela e sentei, procurei me contentar apenas nos cantos dos pássaros para ver se acalmava meus nervos. Mas nem isso parecia ajudar. A floresta parecia parada... estática! Quase não ouvia canto nem tão pouco o som das arvores se movendo com o vento. Tapei meu rosto com as mãos... aquela conversa me tirou de mim mesma, até minha respiração estava ofegante. Peguei uma pedrinha no chão e apertei, vi algumas veias se formando sobre a mão. " que raiva de Ceci, QUE RAIVA!" pensava eu enquanto apertava aquela pedra. Pra mim era a cabeça dela que eu apertava, e eu punha toda minha força até que ouvi um grito. Me assustei e levantei. voltei pra trilha e vi lá longe que Moara segurava Ceci nos braços, ela parecia desmaiada! Meu Corpo fez a menção de correr até lá, mas minhas pernas travaram. NÃO! Deixa ela lá, pensei. Deixe que sofra... virei de costas e sumi rumo ao rio. Minutos depois senti o friozinho das águas do rio me abraçando, eu não era louca de entrar, mas molhei meus pés... Peguei algumas pedrinhas e joguei no rio. Lembrei me de Ceci, joguei outras duas com mais força.<br />
"<i> como ela pode ter me trocado por aquela...</i> - parei enquanto digeria seu nome em minha boca - <i>aquela Moara!</i>" fiquei ali resmungando não sei por quanto tempo, até que sai do rio e fiz mensão de voltar. Então parei... Olhei pro céu e pensei mil coisas... "<i>como ela pode ter dito que eu não entendi o que o pajé disse? Como!? Eu é que não a vi pra contar, ma senti sim... </i>" pensava enquanto caminhava. Senti uma vontade muito forte de entrar na mata e assim o fiz. Queria sumir! Andar sem rumo... ver ninguém! Andei por alguns minutos sem notar onde ia, saltei alguns troncos, atirei algumas pedras e quando dei por mim, estava na trilha que dava pra caverna que eu encontrei <i> e que ia mostrar a CECI!!!</i> Quando percebi eu me assustei. Como fui parar ali? Eu nem me lembrava mais dela. Então congelei. Ouvi passos suaves um pouco mais a frente, eu tinha que me esconder! Foi o meu primeiro pensamento, então ela surgiu... negra como a noite e com a boca ensanguentada... Eu quis correr e gritar, mas munhas pernas travaram. Uma onça negra estava ali, a alguns metros de mim, e sua boca ainda pingava sangue. Ela me olhou com aqueles olhos amarelos e sumiu na mata. Eu fiquei literalmente petrificada... parada... sem.reação! Um onça dessa é um perigo para todos da tribo! Eu tinha que avisar os caciques guerreiros, mas meus pés travaram! Eu então puxei o ar e enchi os pulmões, senti que aos poucos meus músculos voltavam ao normal. E assim foi, eles voltaram... girei para voltar, e ouvi uma voz, reconheci na hora... meus olhos se espremeram no exato momento... era a voz de Moara. " o que ela estava fazendo aqui?" Pensei espremendo um pouco mais meus olhos, eu tinha que saber...<br />
Segui a trilha enquanto ouvia um barulho de água sacudindo e a voz de Moara pronunciando algo que eu não entendia. Me escondi atrás de uma árvore e olhei tentando ver onde ela estava. Por sorte minhas mãos estavam seguras na árvore, mas minhas pernas barbearia como se instantaneamente sumissem os meus ossos. Moara estava abaixada na entrada da caverna, com uma bolsa de couro cheia de água presa a cintura, a onça estava deitada enquanto Moara lavava sua boca. Senti meu rosto esquentar, minha pele pinicar... Aquela maldita estava criando uma onça escondida de todos. Então tudo apagou, e eu caí inconsciente no chão.<br />
<br />maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-31383930615340967812014-05-28T07:22:00.000-07:002014-05-28T07:22:27.241-07:00Pagina 05 Eu Morri? A ultima coisa que me lembro foi que na noite passada tudo escureceu e eu caí. Senti meu corpo dormente e minha mente vaga, tentei mexer meus dedos, mas pareciam não me pertencerem... quis gritar, mas faltou-me coragem, parecia que minha voz havia sumido também, não tive forçar nem para tocar minha boca... então eu esperei... esperei para ver se algo aparecia ou mudaria, mas nada aconteceu....<br />
Fiquei nesse mormaço de dormência não sei por quanto tempo até que aquela luzinha surgiu... era tão pequininha que pareceu me cegar. Tapei meus olhos... Olha! Eu consegui movimentar minha mão, olhei para meus pés e os vi flutuando num manto escuro, sem base, sem nada... fixei o olhar novamente na luzinha prateada e ela cresceu... cresceu... cada vez mais se aproximando de mim, mas eu não tive medo. Era confortável, estava confortável na verdade... toda dormência pareceu ser tirada de mim no momento em que ela surgiu. Olhei para os lados e todo aquele breu de horas ou minutos antes, não soube identificar, tomou forma de parede, como se eu estivesse num túnel... escuro... e uma luz que se aproximava inteligentemente. Gritei!<br />
Minha voz bateu na parede concava e sumiu engolida pela luz que se aproximava cada vez mais... tentei me levantar, mas meu corpo ainda flutuava. Sacudi as pernas, girei meu tronco e eu continuava no mesmo lugar... sobre o nada, sem subir, inclinar, ou descer... eu girava no meu próprio angulo. Ergui novamente a cabeça e a luz estava a pouco centímetros de meus pés. Eu a contemplei maravilhada, era como um portal que levava ao um outro lugar, totalmente diferente do lugar de onde eu estava. Eu quis largar-me daquela inercia e mergulhar naquele desconhecido e assim o fiz. Foi fácil... e assim me desliguei daquele lugar escuro.<br />
Senti meu corpo ser sugado, senti moléculas minusculas de luz estourando em minha pele a medida que eu me deslocava naquele vórtice de luz. Senti meu corpo desfigurar como se tornasse uma liga mole e borrachenta. Sumi. Apaguei... quando dei por mim estava pisando num tapete infinito de grama verde como esmeralda. Olhei para o céu e contemplei aquela tarde maravilhosa que me fez perdes as palavras. Eu estava em um campo aberto, a imensidão da gramagem sumia no horizonte infinito, havia colinas e montanhas distantes. Tudo verde. E um céu azul... tão azul quanto... eu não tive palavras para descrever. Chorei. Repugnei-me por isso. Nunca fui de chorar, e agora pareço uma criança boba e sentimental. Limpei meus olhos e caminhei... segui sem rumo naquele paraíso a perder-se de vista. Parecia só, mas não me sentia só... caminhava, mas parecia ter alguem ali comigo, eu rodei tentando ver algo, ou alguem, mas nada. Ninguém! Continuei andando... sem rumo...<br />
<i>" Eu morri...?"</i> Pensei sem acreditar. Mas como? E é assim o pós morte??? Mas não era assim que me contavam...<br />
- Não filha... você não morreu... - disse uma voz vinda do nada. Eu saltei sobressaltada.<br />
- Quem está ai? Perguntei girando-me feito um peão. Olhei para uma direção e vi uma jovem assim como eu. Estava de costas, não deu para reconhecer... tinha um véu na cabeça e uma vestimenta branca que meneava ao toque do vento suave que transitava naquele mundo estranho. Eu gritei, mas ela parecia não me ouvir. A medida que eu corria para ela a mesma distancia permanecia. Senti minhas pernas amolecerem.<br />
<i>"Não vai adiantar... </i>pensei respirando cansada <i> ela está se distanciando na mesma velocidade em que eu corro, mas como isso?"</i><br />
<i> - </i>Tudo isso aqui é fruto de seu pensamento. - disse a voz masculina novamente. - Você está dentro de você mesma, e precisa começar a conhecer a si própria... Vamos! Arrisque... aproveite...<br />
- Como assim estou dentro de mim mesma? - Perguntei abrutalhada.<br />
Houve um silêncio que para mim foi uma resposta. Olhei para a jovem, mas ela não estava mais lá. Urrei... queria mais respostas. Abaixei e esmurrei o chão. Houve então uma onda no tapete infinito de grama esmeralda, como se abaixo de mim houvesse água. Assustei e pulei repreendendo aquilo. A onde se foi tomando todas as colinas e sumindo nas montanhas. Como eu fiz aquilo? Me perguntei. COMO!? Abaixei com cautela e toquei o solo, era duro. finquei meu dedo nele e afundou. Senti um geladinho na ponta do dedo e puxei. Meu dedo saiu melado de uma liga metálica que escorria, tinha a cor de ouro puro. Eu olhei aquilo assustada e me levantei. Corri desenfreada, parecia nunca cansar... corri... corri... corri... nunca me senti tão leve. Senti que podia voar... mas não podia, isso é impossível!!! Pensei. Então saltei... senti meus pés deixando o chão numa facilidade e leveza. Gritei! Mas não de raiva, mas de extase... EU ESTAVA VOANDO!!! E era tão real, tão real!<br />
Sobrevoei as colinas que eram tão distante por horas afins, mas para mim pareceu apenas alguns minutos, fui no pico das montanhas e toquei as pequenas arvores que lá havia. Desci cortando o ar como se tudo ali me pertencesse, como se eu comandasse tudo aquilo. Desci... desci cada vez mais rápido... tão rapido que me assustei. Não consegui parar. Fechei meus olhos. Ia bater de cara no chão! Então parei, senti meu corpo pesado e endurecido. Abri os olhos e vi como se a grama tornasse o céu. Eu estava parada, de cabeça para cima a um centimetro do chão. Assustei e despenquei. O baque me causou uma baita dor nas costas, que definitivamente queria que passasse, e passou! Assim como eu imaginei...<br />
- Viu? - disse a voz masculina novamente. - Você está dentro de você, no seu mundo... vamos aproveite, - continuou ela como que me incentivando - seu tempo está quase terminando...<br />
Eu despertei. Estava no meu mundo e tudo ali me pertencia. Estava confiante! Ergui uma de minhas mãos e senti que o chão tremeu. Ergui a outra mão e fiz brotar do solo uma arvore imensa com galhos e folhas cintilantes. Então tudo começou a tremer. Como se estivesse num terremoto enfurecido. Levei um choque imenso e em segundos senti mãos frias me balançando, me chamando. Abri meus olhos e reconheci aqueles rostos. Estava novamente em meu corpo... pesado e sem graça, novamente. Bateu-me uma tristeza quando me colocaram de pé que quis chorar. Mas me belisquei me repreendendo. Papai me pegou no colo e me levou para oca. A Danra minha mãe não estava... senti moleza, fraqueza... e tudo sumiu de novo. Eu apaguei...maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4116819484969506779.post-87984028627293832212014-05-27T06:21:00.000-07:002019-04-15T12:26:18.410-07:00Página 04 Tempos de trevas se aproximam <span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; white-space: pre-wrap;"> Na mesma noite de ontem, vi uma luz muito estranha sobre nossa aldeia. Eu estava só, tinha acabado de anoitecer. De onde eu estava, ouvia os cânticos das velhas índias nas fogueiras mais distantes, misturado ao estalar das madeiras no fogo cantante da noite. Muitos de nós se reúnem no fim de cada tarde, é um encontro para fortalecer nossos laços, nossas raizes. É um momento de grande união e fraternidade, onde os velhos sábios relembram nossos ancestrais, nossas origens, conta história dos povos das estrelas. Aquela era realmente uma noite linda, quase não havia nuvens e o céu estava cravejado de pontos brilhantes de todas as cores. Saí de onde estava e caminhei até o centro da aldeia, e a cada passo ouvia mais fortes os cânticos e os arrastar de pés no solo nu dos indios ao redor da fogueira. As músicas falavam de terras verdes distantes, da saudade é da alegria, do povo guerreiro, das plantas e dos animais. Os índios entoavam suas notas graves rasgada enquanto outros sopravam seus instrumentos feitos de bambu,as índias arrastavam os pés pesados no chão de um lado ao outro em plena harmonia. Me emocionei quando cheguei! estava realmente lindo!</span><br />
<span id="docs-internal-guid-4f04211a-7fff-c9d0-4da9-fa94e2570668"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Procurei um lugar para me sentar entre os que assitiam e meditavam. De onde eu estava, não consegui ver ninguém que me afinasse, cruzei minhas pernas e respirei profundo, havia um cheiro forte de jasmim no ar, olhei ao redor tentando ver os maços de rosas, ou as oferendas, mas não as vi nada. Não havia logia ter aquele cheiro, mas ele estava lá, suave e penetrante. Levantei meu corpo para olhar o altar dos velhos índios e vi o grande pajé Yakecan sentado com suas vestes compridas na cor de terra. Naquela noite ele usava uma faixa azul em sua cintura que, para nós, representa estar em paz, em harmonia com o Todo, e uma trança de fibra de tatúria na testa que significa estar em comunhão com os ancestrais. Ele estava sentado assim como eu, pernas cruzadas e com o tronco altivo e ereto, ao seu lado estava meu pai e Nhandeara. Estranhamente aquela cena tocou meu coração, senti aquela pontada no peito novamente, mas dessa vez com mais intensidade, abaixei para respirar melhor. Na verdade, baixei minha cabeça para tentar entender o que eu sentia. Senti então que o cheiro de jasmim se intensificou, olhei novamente para frente e vi o velho pajé Kananciuê, que me explicou sobre o Zuruahá hoje mais cedo. Minha mente vôou naquele momento, foi tão além que não pude decifrar... Olhei diretamente no velho índio e vi que ele encarava algo no meio da multidão... tentei ver para onde ele olhava e me assustei ao notar que era Ceci que ele encarava. O que estava acontecendo? Pensei.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Então ele se levantou. E naquele momento pude ver sua realeza, seus traços com mais perfeição. Seu rosto tinha as marcas dos séculos e seus cabelos longos e brancos a textura suave dos cabelos de uma criança. Trajava uma Unaí branca que descia até seus pés descalços de um tecido que não pude identificar, este era amarrado na sua cintura por várias tranças de várias cores, tinha um colar de jade que pendia do pescoço até a altura do coração, a pena branca que furava a orelha direita parecia iluminada, como uma pequena estrela que se esquecera de ascender aos céus. Quando Kananciuê se levantou, todos silenciaram como se sentissem o mesmo que eu: uma paz suprema e uma ternura nunca presenciada. Antes mesmo que ele falasse senti uma umidade estranha em meus olhos. Eu chorava sem perceber, não sabia o por que... Na verdade, não era que eu chorava, era minha alma, minha essência, algo profundo dentro de meu ser. Olhei para os lados e vi que muitos outros sentiam o mesmo que eu.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> - Meus irmãos... - Disse ele naquele tom de ternura e sabedoria que senti no momento que o vi pela primeira vez - elevemos nossas mentes, nossas vibrações para nos fazermos mais sensíveis as vibrações desse universo, para entendemos com ternura que tempos difíceis já descem pelas montanhas mais distantes, mas que mesmo o conhecendo, afirmo que não estamos sós.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Olhei profundamente para onde Ceci estava e a contemplei cabisbaixa, novamente aquela dor em meu peito me perfurou como se uma faca entrasse lentamente em meu peito contorcendo todos os músculos de meu coração. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas algo tinha a ver com ela. Chorei.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> - ... caminhei muito por essas terras, por essas matas que hoje vós outros caminham, conheci povos que se destruíram por ambição do ouro e da prata, mas hoje olhando para vocês eu sinto que a paz aqui reina e que não é aqui, entre vocês, que está o Mandarã.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> houve uma pequena movimentação entre todos, um pequeno alvoroço foi acalmado por um simples movimento de mão. O velho pajé ergueu uma das mãos as jades em seu peito tilintaram como pequenos cristais se tocando e todos voltaram a se recompor.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> - Calma meus irmãos, pois sois uma tribo pacífica, sem erros ou pecados coletivos, foram muito bem colocados aqui por nosso grande e amado Tupã. - O velho pajé olhou para cima e orou em silêncio. Parecia que havia nele um contato direto com as estrelas, todos abaixaram suas cabeças em redenção suprema. Novamente o cheiro de jasmim tocou a todos naquela hora soturna.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> - É chegada a hora da grande escolha... novas forças se deslocam para o encontro dessas terras, e vós outros têm que estar preparados. Escolherei dentre vós um que servirá de graças, de esteio, como uma coluna de sustentação para o que está para chegar. Um mundo novo estas surgindo e terão que.se preparar para o porvir. Novos ensinamentos eu vos darei, trazendo novas iniciações para fortalecer suas raízes nesse mundo. És chegada a hora da preparação, da evolução de vossas forças, de vossas mentes...</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Eu ouvia as palavras daquele homem como se um Deus ali estivesse entre nós para nos abraçar, um Deus piedoso que nos amava... A Danra minha mãe sempre disse entre linhas desse momento que vivo hoje, como se já pressentisse que aconteceria, senti-me mais confiante sem saber para o que, feliz e irradiante como se uma chama nova e ardente queimasse todas minhas fraquezas e incertezas. Por um momento quis levantar e gritar o amor e a paz que por hora eu sentia transbordar de todo meu ser, eu sabia que todos sentiam o mesmo. Yakecan estava cabisbaixo, como que em oração assim como papai e Nhandeara. Kananciuê por fim finalizou sua palestra de amor e esperança, deixando em mim uma afirmação que eu não entendia... lembrei me de como eu pressenti isso a alguns dias... Algo está para acontecer, e não sei o por que, mas sinto medo por Ceci. O velho índio terminou sua última frase e curvou-se para nós em sinal de respeito e profunda humildade. Todos se levantaram e urraram seus cantos, suas vozes graves, seus instrumentos de bambu e caixas de madeira, todos tapeavam em seus lábios com notas agudas que se misturavam ao brilho intenso das estrelas sobre nós. Me senti, naquela noite distante, uma nova pessoa... Senti sono, muito sono após o grande índio ter sentado novamente, eu adormeci caindo no chão...</span></div>
<div>
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
</span>maurycio lobatohttp://www.blogger.com/profile/15703109194459207052noreply@blogger.com0