terça-feira, 9 de junho de 2015

24 Uma Lagrima, um Adeus. O início da transformação.

     Corri pra aldeia de uma forma que minha respiração ofegante se misturava ao farfalhar das folhas secas dos arbustos que eu saltava. Minha mãe, a Danra Nahimana não poderia ter morrido!! Não poderia!!! Aquilo foi uma mentira absurda! Estavam mentindo... MENTINDO!!!
     Cheguei na aldeia e todos me encaravam com espanto. Eu não tinha tempo de olhar aquelas caras horrendas que me embrulhavam o estomago, eu tinha que ver minha mãe... MINHA MÃE!!!!
     - Natasha! - me chamou uma voz. Olhei pra trás e vi Saíra parada entre dois caciques.
     - O que foi Saíra? Estou indo falar com minha mãe.
     Minha voz embargou, saiu vacilante. Algo me dizia que eles não estavam mentindo. Os olhos de Saíra me diziam isso com clareza.
     - Natash...
     - Fica calada Saíra, não fale nada! - interrompi. - Eu vou na maloca, e vou ter com minha mãe - meus olhos se enchiam de lágrimas sem que eu me tocasse. - se você ou alguem nessa maldita tribo - parei, minha voz embargou - me impedir ou vier falar algo, eu... E-eu...
     Comecei a perder as forças, minhas pernas bambearam, ajoelhei vencida e em lágrimas copiosas. Minhas palavras não saiam mais, por mais que eu tentasse, a dor era forte de mais e minha garganta afungentada se espremia a cada soluço de dor. Eu olhava para Saíra que me encarava com ar penoso enquanto me expremia agonizante no chão frio.
     - Minha mãe Saíra!!! - urrei aos céus diante da dor profunda. - Minha MÃE!!!!!
     Saíra me assistia espremendo suas mãozinhas junto ao seu peito. Ela se compadecia de minha dor, seu semblante firme e meigo tentava me encorajar dando-me forças.
     - Ô Natasha... - disse Saíra vencida pela minha dor, abaixou-se e me abraçou. - Sua mãe f...
     - CALA A BOCA! - gritei empurrando-a. Sentia tanto ódio que minha pele parecia fervilhar. Meus olhos espremidos e vermelhos queimava a todos que tentavam se compadecer. Joguei saíra no chão e corri desenfreada até a nossa maloca.
     Cheguei. Olhei todos os lados. Estava vazia. Aquele foi o pior vazio, o pior silencio. Era a morte falando cimigo... Desmoronei ajoelhando novamente no chão aos prantos. Tapei meu rosto com minhas mãos trêmulas tentando sessar as lagrimas descontroladas. A dor em meu peito logo foi tornando áspera, sangrenta e odiosa. Esmurrei o chão, uma, duas, três, quatro vezes e a medida que esmurrava desconsoladamente eu xingava tudo e a todos.  O som seco das batidas ecoavam por aquelas folhas secas em um eco fúnebre. O sangue que derramava em minhas mãos regava aquele chão que certamente minha amada mãe descansava. Mas onde ela estava? Onde?
     Senti uma mão fria tocando meu ombro. Era uma mão profunda de muitas experiência ocultas. Minha ira anuviou-se. Senti medo. Abri por um momento os cabelos de meu rosto ignorando por um momento a dor das chagas em minhas mãos. Era Ínuaixa. Ele estava ali, novamente, ao meu lado. Senti uma estranha sensação ao vê-lo.
     - Vo-você?
     - Xiiiiii - fez ele com os dedos magros tapando meus lábios umedecidos. - fique quieta menina e ouça o que tenho a te dizer. - me encarou nos olhos ignorando totalmente a minha dor. - não deixe que te dominem... Lute contra tudo. Eles te tiraram a sua mãe, e eles irão... - Ínuaixa olhou para algo que vinha atras de mim, notei por seus olhos que ele via algo que não estava ali conosco no mundo fisico, sua fisionomia mudou muito rápido. - escute menina, eles querem fazer com você o que fizeram com sua mãe, revolte-se! Não deixe que te dominem... Lute! Use o olho que te dei, ele te mostrará tudo, tudo!
     Eu olhava fixamente a expressão apressada de Ínuaixa, ele dizia coisas que não batia com o que eu havia sentido dias antes. Pus as mãos ao peito procurando sentir o olho em minha bolsa, aquele artefato me pesava e me intigava como nunca. Esqueci por um segundo de minha mãe, olhei rapidamente para trás de mim e não vi nada, voltei à Ínuaixa e ele havia sumido. Senti um calafrio cortando minhas costas como navalhas negras e frias subindo ate minha nuca. Meu coração acelerou descompassadamente.
     - Ínuaixa.., - falei pro vazio...
     Levantei-me sem entender. Os últimos suspiros da dor de segundos antes me permeava o peito em suspiros profundos. Sequei os olhos e joguei meus cabelos desgrenhados para trás. Tinha que sair dali. Tinha que saber o que estava acontecendo. Olhei novamente para trás e vi Yakekan parado bem ao fundo da maloca escura, ele me encarava pesaroso. Aquele olhar milenar não conseguiu tirar a ira que crescia descontroladamente dentro de mim. Saí de lá de dentro ignorando-o por completo, caminhei a passos firmes em um único destino. Em minha bolsa sentia o olho de Xavú ardendo em chamas.


....continua.