sexta-feira, 20 de junho de 2014

Pagina 14 Mundo Desconhecido

        Sentei-me no chão e encostei em um tronco qualquer. Tudo isso era muito novo pra mim, e eu tinha que me acostumar com a ideia de falar com minha mãe pelo pensamento.
       - Será que eu consigo falar com todos da aldeia pelo pensamento? - pensei. Acho que não!
       Continuei encostada enquanto minha mente vagava por todos os instantes que me fizeram chegar até ali. Meu pensamento voava enquanto eu me sentia cada vez mais e mais leve, aos poucos fui notando o quanto minhas pálpebras iam pesando, minhas pernas amolecendo... eu estava entrando em transe novamente? Travei. Abri meus olhos respirando fundo e pesado. Passei as mãos nos cabelos e procurei me acalmar: - calma Natasha... calma... pensava enquanto me recostava na arvore. Vou deixar acontecer... dessa vez vou confiar no que ouvi da Danra... Fechei os olhos e adormeci.
        Foi como das outras vezes, fechei os olhos do corpo e em seguida abri os olhos da alma. Logo de cara notei que não estava mais naquela floresta, o clima era totalmente diferente. O sol que meneava minha pele e iluminava as copas das arvores não existia mais, pelo menos ali onde eu estava. Olhei em volta e só vi escuridão... senti medo, me abracei!
        - Que lugar é esse!? Pensei enquanto arriscava alguns passos. Olhei para o alto e vi que o céu estava todo coberto por nuvens escuras e frias, elas se movimentavam lentamente como que trançadas umas nas outras, olhei mais na linha do horizonte e vi iluminado encoberto pelas nuvens, aquilo provavelmente era a lua pensei...
       Passados alguns minutos e eu já ia criando confiança. Soltei os braços, olhei a frente com o queixo mais erguido, respirei fundo e caminhei alguns passos com mais confiança. O que poderia ter ali que fosse me fazer mal? Pensava enquanto me encorajava. A minha frente havia uma colina que não era nem muito alta, mas também não era muito baixa, de cara pensei em subir-la, provavelmente de lá de cima conseguiria ver melhor onde eu estava. Fui subindo cada vez mais confiante na certeza de reconhecer melhor o lugar até chegar o cume. Cheguei! Logo notei que havia algumas arvores bem distantes, quase imperceptível devido a penumbra do lugar.
       - Meu Deus que lugar enorme...! - Falei para mim mesma. - Onde será que estou?
       Olhei para baixo e vi que havia uma trilha que dava a um arvoredo aos pés da colina, esse arvoredo se juntava a outras arvores que eu não havia notado ainda. Era definitivamente um lugar muito estranho e sombrio. Eu estava ali por algum motivo, então teria que explorar o ambiente. Desci pela trilha.
        Caminhava sentindo sob meus pés a grama fria e as varias pedrinhas jogadas no caminho, vez ou outra encontrava um galho seco que eu chutava. Não demorou e eu cheguei nas arvores baixas, toquei seus troncos como que acariciasse um animal de estimação, aquilo estranhamente me reconfortava. Olhei em volta e vi que havia varias delas: Araçás, Aroeiras, Capororocas, Caviúnas... todas misturadas. Ali eu me senti em casa, então caminhei com mais confiança. Fiquei ali por alguns minutos e segui saindo daquele amontoado de arvores, olhei à frente e vi um grande campo aberto, toquei com os pés o gramado escuro e senti sua textura áspera, agachei tocando o chão e estranhamente senti uma conexão muito forte com aquilo tudo. Acariciei o mato baixo como se intimamente fossemos um só. Estranhei. Levantei e segui.
         Caminhei sentindo o vento frio começando a soprar, gostei da sensação de senti-lo tocando minha pele e meneando meus cabelos, senti liberdade para arriscar uma corrida e assim o fiz. Era gostoso sentir o ar frio tocando meu rosto enquanto minhas vestes cantavam sacudindo ao vento que se intensificava. Olhei para cima e notei que o clima começava a mudar, parecia que logo iria chover... estranho, pois não estava assim antes! Eu tinha que me esconder, as nuvens pareciam mais próximas como se quisessem entrar uma na outra. O vento lá em cima definitivamente não estava tão gostoso quanto este que eu sentia em minha pele. Acelerei o passo para atravessar logo aquele campo aberto que parecia interminável. Eu corria me sentindo cada vez mais leve, como se pudesse voar por aquele campo, era aquela uma sensação de liberdade que eu nunca experimentara, nunca pude ter, eu estava amando estar ali. Logo senti uma gota fria tocando minha testa, olhei novamente pra cima e vi milhares de outras gotinhas descendo como uma torrente incontrolável da chuva. Eu acelerei ainda mais e cheguei abaixo de algumas araucárias que pareciam querer me proteger. Abracei-me a elas e fiquei ali contemplando a chuva que caía pesada. O som da água tocando o chão era musica para meus ouvidos.
          - Será isso tudo um sonho? Mas não é possível, é muito real!! - Me perguntei enquanto olhava maravilhada aquela chuva repentina. Olhava admirada as gotas que desciam, elas tinham uma tonalidade prateada lindíssima que nunca vira antes, olhei para o largo tapete gramado e fui notando que a chuva tingia a grama com milhares de pontinhos prateados brilhantes. Fiquei ali até que quase todo o gramado tivesse modificado a sua cor triste, eu logo me vi na vontade de continuar seguindo.
          Eu pensava mil coisas sobre tudo isso enquanto me abraçava ao tronco da arvore. Girei um pouco e notei que atrás de mim havia uma floresta cheia de arvores retorcidas e escuras. Senti, sem explicação, uma pontada forte em meu peito. Era exatamente o oposto do que eu presenciara a pouco. Era escura, fria, temerosa... não sabia se queria entrar. Olhei novamente para trás e vi que a chuva havia parado, e os milhares de pontinhos brilhantes haviam simplesmente desaparecido. Virei novamente para a floresta e a encarei. Fiquei ali não soube por quanto tempo... mas foi o tempo suficiente para me decidir e entrar!
         Quando atravessei as primeiras arvores retorcidas a sensação que tive era a de estar entrando em uma estufa. Olhei para trás e o campo aberto havia desaparecido. A floresta me cercara por todos os lados como que se tivesse vida própria. Pensei em gritar, mas me segurei. Novamente agachei tocando o chão frio. Tinha que busca conforto em algo e achei, aquilo, o solo, o chão, a grama definitivamente me reconfortava dando-me mais força. Ergui-me mais confiante e prossegui. Andei desviando dos troncos enquanto sentia que o chão ia se tornando mais e mais úmido. Como se eu estivesse entrando num mangue. Um pouco mais a frente as arvores pareciam ter nojo de tocar o chão, e suas raízes protuberantes erguiam-se do chão formando arcos enormes que se estendiam por toda parte. Me senti ali mais perdida e sem esperança. Olhei para um lado, olhei pro outro e tudo estava igual. Como se eu pisasse num mangue infindável.
          - Preciso sair daqui... - falei enquanto subia em uma raiz protuberante - vou ter que seguir por cima, em baixo é impossível...
         Caminhei pelas raízes tentando me equilibrar nas arvores, aos poucos fui notando que o mangue ia ficando para trás e logo eu estava liberta daquela emaranhado. Segui assim por vários minutos até que saltei da ultima raiz caindo direto no chão seco e frio. Olhei pra trás e não vi mais o mangue, a floresta se mostrava agora uniforme, complexa e densa. Puxei o ar e ele me faltou. Comecei a sentir medo, olhei tudo em volta e senti que os troncos retorcidos e os galhos antigos daquele lugar caminhavam em minha direção, como se quisesse me sufocar! Eu tinha que sair dali, mas como!? Toquei o tronco de uma arvore tentando me reconfortar, e senti medo. Olhei para os lados e parecia que havia olhos, vários olhos me observando. Tentei vê-los, mas não consegui... eu os sentia, mas não os via. Larguei a arvore e segui apressada e sem olhar para trás. Entrei numa trilha que descia por uma ladeira cheia de pequenas pedras na qual eu me apoiava até chegar na parte mais plana. Lá embaixo notei que as arvores agora estavam mais distante uma das outras, olhei para cima e notei admirada de suas copas, pois eram tão densas e espaças que tapavam quase que por completo o céu escuro. Havia naquele lugar milhares de filetes prateados que desciam das brechas que encontravam entre os galhos e folhas altos, a lua acima parecia ter se mostrado para refletir tantos filetes de prata. Mas eu não podia vêla.
        Continuei seguindo admirando tudo aquilo, ali o clima não era o mesmo, não era nem um pouco abafado, ao contrário, era leve e prazeroso... havia um leve cheiro de jasmim. Segui por alguns minutos aproveitando e gozando da liberdade, mas logo isso mudou. Estranhamente senti aquela mesma sensação de que estivesse sendo vigiada. Olhei para trás e não vi nada, olhei para os lados e também não vi nada, ninguém, nem tão pouco vulto algum. Então corri, corri não sei por quanto tempo ziguezagueando os grandes troncos das araucárias e saltando alguns seixos de pedra jogados no chão. Logo percebi que o cenário mudara de novo. Estava agora perto de um salão enorme cercado por troncos e galhos velhos e retorcidos, eles se trançavam tão perfeitamente que pareciam não ter sido feito pela natureza. Os filetes de prata preenchiam o ambiente dando uma sensação mórbida ao lugar. Eu olhava estupefata tudo aquilo. Naquele momento notei alguma movimentação nos galhos altos mais a frente, titubeei alguns passos e foquei o olhar tentando enxergar o que era. Vi então que algo descia do alto por uma fina teia semi-transparente, fiquei encarando aquilo até que a coisa sumisse no chão. Eu não consegui identificar o que era, então fui até la para certificar. Caminhei em direção aquilo tentando o máximo identificar antes de toca-lo. Não consegui. Aproximei e o peguei em minhas mãos notando que era uma teia de aranha, firme e pegajosa. Olhei para cima e vi que havia varias outras teias, na verdade pareciam redes enormes espalhada por toda parte. Ouvi então um barulho atras de mim. Travei. Virei abrupta e dei um grito!
          - DANRA!?
   






















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