quinta-feira, 22 de maio de 2014

Pagina 02 Saindo da Trilha

          Logo após os treinamentos habituais dos homens da tribo eu e Ceci seguimos rumo ao rio. Todos nem nos viram sair, fomos segundo Ceci como pássaros. Estávamos muito animadas aquela tarde, eu principalmente, pois se aproximava o dia em que começaríamos a ter palestras com as Danras da aldeia. Eu tinha uma serie de perguntas a fazer e sugerir algumas coisas também, uma delas com certeza seria: liberdade e menos afazeres... Ceci me apoaria certamente. Ai dela se não... sorri.
           Saímos da aldeia e seguimos pela trilha titulada pelos mais velhos como Saraboya, a língua da serpente. Sempre me perguntei o por que desse nome, mas minha mãe, a Danra, nunca me falou, nem Ceci que era filha do cacique Nhandeara, um dos mais influentes de nossa tribo. Acredito que seja pelo fato de haver varias Anhangueras por aqui...
          Caminhamos por alguns minutos até sair da trilha que destoava da vegetação intensa da floresta. Ceci, automaticamente, seguiu rumo a trilhazinha que dava pro rio, mas eu logo a puxei para um outro rumo. Tinha a chamado ali não para tomarmos banho, mas para mostrar-lhe uma coisa que vi a uns dias atrás. Ceci se assustou, seus olhos doces quase me convenceram a não prosseguir, mas me conheço bem... e a fiz vir comigo.
          Na curva que a Saraboya faz que se une a trilha do rio existe uma pedra enorme que se caminhar depois dela vai encontrar uma outra trilha, essa acredito eu, não é muito conhecida, pois não vi pegada alguma nela. Ceci quando viu que eu ia na frente abrindo caminho com minhas mãos teve medo, e quase recuou. Eu logo intervi: - Se você voltar e não vier comigo eu nunca mais olho na sua cara Ceci! - disse eu para ela focando bem nos seus olhos doces e amendoados. Ceci titubeou um pouco, engoliu algo a seco e fez com a cabeça que sim, ia me seguir. É óbvio que eu não poderia deixar Ceci voltar, ela ia contar pra Danra mãe dela, que com certeza ia contar pra Nhandeara e logo ia cair nos ouvidos de meu pai. Eu não estava louca... Ceci tinha que vim comigo.
          Caminhamos na mata fechada por alguns minutos até encontrar a trilha que tinha dito. Esta era estreita e sem seixos no chão. Ceci se emocionou, pois a trilha tinha um brilho diferente, era fácil encontrar alguns cristais jogados aqui e ali, pedi para que Ceci não os pega-se, pois o melhor estava por vir. 
          Fomos seguindo pela trilha estreita enquanto conversávamos animadamente, eu como sempre, estava a frente com um galho que quebrei, era a "minha espada" e claro poderia servir de arma caso aparecesse alguma onça.
          - Ceci -disse eu - assim que atravessarmos aquelas arvores - eu apontei para frente onde havia varias araucárias e  jandiras, você nunca mais vai ser a mesma, quando eu vim aqui pela primeira vez, quase não voltei para casa. Ceci ficou super animada e excitada e começou a falar pelos cotovelos, eu a tive que conter.
         Seguimos procurando ser as mais silenciosas, pois já estava entardecendo e logo anoiteceria. Se não fossemos rápidas ficaríamos perdidas na noite escura da floresta e como conheço Ceci logo ia entrar em desespero. Chegamos nas araucarias e jandiras, passamos por elas sem demora, eu pedi para que abaixássemos, e assim fizemos. Então tudo silenciou. Até os pássaros pareciam ter parado de cantar, aquela sensação de bem estar e êxtase que eu senti da primeira vez surgiu como nunca, eu olhei para Ceci e vi que seus olhos brilhavam como pequenos diamantes. Havia um arbusto bem na nossa frente, eu delicadamente abaixei para que pudêssemos ver a caverna a frente. Foi então que ouvimos um estalo, alguém que não era nem eu nem Ceci estava próximo. Meu coração parou, Ceci pareceu não se importar, estava quase em transe. Eu ouvi vozes estranhas e desesperei. soltei o arbusto e ele tampou em seguida o que eu ia mostrar a Ceci. Puxei Ceci pelos braços e corri sem olhar para trás. Ceci parecia em outro mundo, nunca a vi daquele jeito, ela era mais sensível que eu, fiquei com certa inveja, mas segui correndo até atravessarmos a pedra que tampava a trilha em que estávamos. 
          Chegando na aldeia vi que todos pareciam preocupados, pois já estava anoitecendo e eu e Ceci havíamos sumido. Logo cada uma foi para suas ocas ouvir os sermões de nossos pais. Fiquei preocupada aquela noite... de quem eram as vozes? E como Ceci se mostrou sensível...





















          

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